21 - Oráculo

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Encarei Aibek enquanto ele me mostrava como havia desvendado o segredo da parede à nossa frente. Ele era tão arrogante e exibido que me deixou irritada.

— Você sabe o que essas letras significam? — ele perguntou.

Estava com tanta raiva que não respondi, apenas ergui as sobrancelhas e esperei que ele falasse, por que obviamente ele sabia o que elas significavam.

— São os elementos. — ele disse, mas está faltando um.

Ele então caminhou um pouco mais para o lado e encarou a parede como se estivesse procurando por algo.

— Há algumas falhas nessa parede. — ele disse — A princípio parecem apenas buracos que surgiram pelo desgaste do tempo. Mas eu acredito que haja um espaço para colocar o elemento que falta. Só não estou conseguindo encontrar, afinal devia estar nessa mesma direção...

Foi nesse momento que eu me lembrei de algo das minhas visões. Não faltava apenas um elemento, faltavam dois.

Percebi que um pouco mais para baixo, desalinhado das outras três letras, porém com o distanciamento perfeito, havia dois "buracos" vazios.

— Estão aqui. — eu apontei — Faltam dois elementos.

Ele franziu a testa e se aproximou.

— Como assim "dois elementos"? — ele questionou — São apenas quatro então falta um.

— Acha que eu não sei fazer conta? — perguntei irritada — São cinco elementos. E os espaços para colocar as letras que faltam estão aqui. O problema é: Onde estão essas letras?

— Provavelmente em algum lugar dessa sala. — ele respondeu, mas continuou encarando o lugar na parede onde eu havia apontado, ainda não acreditando muito em mim.

Ignorei ele e fui andando pela sala, procurando por letras como aquelas, e isso não foi difícil, pois estavam bem no trono, mais especificamente no encosto do trono.

Me aproximei e percebi que eram apenas dois pedaços de pedra com as letras pintadas em preto e encaixadas ali no trono, onde havia mais três lugares para encaixar as outras três letras.

Até que não havia sido assim um mistério tão grande, com algum tempo eu teria conseguido descobrir aquilo tudo sozinha.

Peguei as pedras dali e fui até os espaços na parede, onde as encaixei.

Aibek não falou nada, apenas ficou encarando a parede. Estava extremamente pensativo, talvez ainda surpreso com o meu conhecimento sobre o quinto elemento, que eu ainda não sabia exatamente o que era, e que eu estava torcendo para que não existisse, afinal esse quinto elemento significava que eu teria uma pedra a mais para procurar, e eu não fazia ideia de onde ela estaria.

Assim que as letras se encaixaram na parede todas elas se acenderam, como se a tinta que havia sido usada para pintá-las fosse mágica, e então uma porta secreta se abriu bem ali.

— Prontinho. — falei sorrindo.

O elfo continuou estranhamente calado e pensativo, então, mesmo sendo um pouco divertido vê-lo tão confuso e perdido, eu resolvi ignorá-lo e passar pela porta.

Do outro lado tudo era exatamente como eu havia visto em minha mente, uma sala alta e ampla, onde bem no centro, caindo de uma abertura do teto, havia uma cachoeira de areia, que caía sem parar, de uma maneira totalmente inexplicável. A pedra da Terra, ou a Pedra de Vidro como alguns chamavam, estava bem ali no meio da cachoeira, desafiando completamente a gravidade. A sala em si não fazia muito sentido, pois mesmo com toda aquela areia escorrendo do teto o chão não estava coberto com ela, mas sim com um piso bege e liso. A areia se concentrava apenas na cachoeira e em volta dela.

Ao olhar para a linda pedra e sentir o poder emanando dela eu fiquei completamente hipnotizada e mal percebi que estava indo em sua direção até que senti a mão de Aibek em meu ombro.

— Você não pode tocar nela, lembra? — ele falou.

Só então percebi que eu já estava de frente para a cachoeira e minha mão estava estendida em direção à Pedra. Eu nem me lembrava de ter me aproximado tanto.

Pisquei os olhos tentando organizar meus pensamentos.

A primeira coisa que eu precisava saber era se a aquela areia também era algum tipo de armadilha, se não fosse eu só precisaria de um pano ou uma luva para poder pegar a pedra dali, mas se fosse...

— Então vocês conseguiram chegar até aqui? — ouvi uma voz do outro lado.

Eu não sabia de onde ele havia surgido, mas bem ali do outro lado da sala estava um fauno velho, segurando uma bengala e com uma flauta pendurada na cintura. O fauno não nos olhou quando falou conosco e eu logo percebi que ele era cego, pois seus olhos possuíam uma cor esbranquiçada e apagada.

— Quem é você? — perguntei cautelosa.

O fauno sorriu.

— Eu sou Aufamun e sou o guardião da Pedra de Vidro. E vocês são elfos.

— Eu não sou um elfo. — corrigi.

Ele inclinou a cabeça um pouco e depois sorriu.

— Não, você não é. — ele concordou — Você é descendente do traidor. Mas há duas energias em você... Uma delas é um pouco mais forte do que a outra.

Franzi a testa sem entender como ele sabia de tudo isso.

— Eu estava esperando por vocês. — ele continuou — Há muito tempo estou aqui, apenas aguardando...

— Como assim? — questionei — Sabia que estávamos vindo?

— Não exatamente. — ele respondeu ainda muito misterioso — Eu ainda não tenho certeza se era por vocês que eu aguardava.

Fiquei ainda mais confusa.

— Me responda: Você quer essa Pedra, não quer?

— Sim. — respondi tentando entendê-lo.

— E por quê?

Aquela pergunta mais uma vez.

— Vou trazer meus pais de volta a vida. — respondi não vendo motivos para mentir ou me esquivar da pergunta.

— É o que você planeja fazer... — ele disse — Mas não é o que fará.

— Como assim? — eu quis saber.

— Eu posso ver tudo... — ele disse — Você é quem eu aguardava, mas precisará passar por um teste antes.

— Que tipo de teste?

Aibek me encarava, como se tentasse entender, parecia ainda mais surpreso do que eu.

— Espera. — ele disse — Você é um oráculo?

— Um oráculo? — eu perguntei para ele.

— Sim. — Aibek explicou — Há lendas de que existem oráculos que surgem de tempos em tempos. Eles podem ter vislumbres do futuro.

— É exatamente isso... — respondeu o fauno — Eu posso ter algumas visões do futuro e passado também. Mas não posso modificar nada do que é visto, acredite, eu já tentei. Sei quem vocês são e sei o que farão. Não sei de tudo, mas sei o que preciso saber. Você, cara não-elfo, terá que me enfrentar e provar que é digna da Pedra de Vidro. Só então poderei deixar que a leve.

— Mas se você já sabe o que eu vou fazer, então já sabe se eu sou digna. — respondi.

— Não é assim que funciona. — ele explicou — Nós vamos nos enfrentar.

Não consegui entender, mas senti um poder emanando dele, então já me preparei para uma luta.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora