41 - O Pior Pode Piorar

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Você é tão linda. — disse o elfo de repente.

Desviei o olhar me sentindo envergonhada.

Estávamos nus, deitados sobre a cama do quarto de hóspedes e ele admirava o meu corpo como quem admira uma divindade.

Normalmente eu não tinha vergonha do meu próprio corpo, mas não estava acostumada com elogios como esse, e eu não me achava bonita.

Meus músculos eram bem definidos, meus seios pequenos, meu quadril marcado com estrias e o resto do meu corpo com cicatrizes, isso sem contar os chifres não nascidos que surgiram em minha cabeça e as orelhas pontudas que não pareciam combinar comigo.

Sempre fui considerada uma guerreira e não um exemplo de beleza, e isso nunca havia me incomodado muito até aquele momento.

Me levantei e fui em direção às minhas roupas para voltar a me vestir.

— Algum problema? — perguntou o elfo.

— Eu preciso ir. — respondi sem olhar para ele — Logo vai amanhecer e ninguém pode me ver saindo do seu quarto.

— Ainda faltam algumas horas para o amanhecer. — ele retrucou se levantando e se aproximando de mim. — Você ainda pode ficar mais um pouco...

— Não posso. — respondi firme — Eu nem devia ter vindo aqui. Nada disso devia ter acontecido e não vai se repetir.

Terminei de amarrar a camisa que estava vestindo.

— Você já disse isso da ultima vez.

— Mas estou falando serio agora.

— E antes não estava?

O encarei séria e ele sorriu sarcástico.

— Estou indo. — concluí indo em direção à porta.

— Espera. — pediu ele segurando a minha mão. — Nos vemos mais tarde?

— Nos vemos pela manhã. — respondi, mas logo completei — No pátio. Para treinar.

Ele sorriu.

— Até logo, então.

Revirei os olhos e saí.

Meu coração estava acelerado e eu queria ficar ali, mas não podia me permitir esse luxo, eu precisava me controlar.

Voltei para o meu quarto e lutei contra a ansiedade que ainda me assolava até adormecer, não por muito tempo.

Pouco depois que o sol surgiu no horizonte, a porta do meu quarto foi aberta e uma serva deixou meu desjejum ao lado da minha cama e logo depois abriu as cortinas para deixar a luz entrar.

Resmunguei e me espreguicei na cama antes de ter a coragem para abrir os olhos.

Quis ficar dormindo o resto da tarde, mas eu tinha coisas a fazer, então comi e desci até o pátio.

Enquanto esperava Aibek aparecer eu fiquei encarando o céu, esperançosa, desejando ver a imagem de Vuur voando pelo imenso azul. Mas ele não apareceu.

Suspirei.

Estava tão distraída e perdida em meus próprios pensamentos que nem ouvi os passos se aproximando.

— Nada ainda? — perguntou o elfo, me dando um susto.

Me recuperei do susto e então olhei para o céu mais uma vez.

— Nada. — respondi desanimada — Sabia que foi aqui que eu o conheci?

Aibek ergueu as sobrancelhas e olhou para o céu comigo, esperando que eu continuasse.

— Eu estava com muita raiva. — falei — Não me lembro mais do motivo, mas lembro que vim aqui descontar minha fúria no treinamento. Eu soquei aquele boneco de madeira estúpido até minha mão sangrar e minhas roupas virarem cinzas por causa do fogo... Quase incendiei o pátio todo, mas então ele apareceu no céu e pousou bem ali. — apontei — Eu fiquei tão surpresa e ao mesmo tempo... Era como se tudo se encaixasse naquele momento. Eu me aproximei dele e assim que toquei em sua testa eu pude senti-lo. Era como se ele se tornasse uma parte de mim.

Mais uma vez precisei me esforçar para não chorar.

— Isso dói muito. — confessei — É mais difícil do que quando perdi minha mãe, pois ela pelo menos não me deixou por que quis.

— Talvez Vuur também não tenha tido escolha. — respondeu ele.

Ergui os ombros.

— Talvez.

Respirei fundo e me recuperei.

— Vamos ao treinamento? — perguntei — Você garantiu que conseguiria me dar um golpe.

— Acho que isso não será possível. — confessou ele — Já aceitei que você está em outro nível.

Sorri.

— Você chega lá. — incentivei.

Porém, antes de começarmos, eu vi alguém se aproximando do pátio. Era o meu noivo e ele não parecia muito feliz.

— Majestade. — cumprimentou ao se aproximar.

Percebi seu olhar de canto de olho para o elfo, mas ao invés de falar qualquer coisa Ulrick apenas ignorou a presença dele.

— Acabei de voltar da vila do Sul. — informou — Trago notícias não muito boas.

— O que aconteceu? — perguntei preocupada.

— Faz alguns dias que estamos tendo problemas com as plantações da região e os vilarejos estavam entrando em conflito por causa disso, mas nós descobrimos quem era o causador dos problemas...

— E quem era? — eu quis saber.

Ulrick estendeu o saco de pano que carregava nas mãos e o virou de cabeça para baixo, fazendo cair no chão uma criatura morta que eu demorei a reconhecer.

— Isso é...

— Um diabrete. — completou ele — As plantações estavam sendo destruídas por um grupo deles.

— Não é comum essas criaturas aparecerem por aqui...

— Não é mesmo. — concordou — Ficamos bastante surpresos e ainda não sabemos o motivo dessa aparição, mas vamos resolver isso.

— Ainda não conseguiram matar todos?

— Infelizmente não. — respondeu — Alguns conseguiram escapar, eu vim aqui para dar a notícia e para reunir alguns homens a fim de irmos reforçar a defesa da região.

— Entendi. E a plantação? — perguntei — Perdemos muito?

— Uma quantidade razoável. — respondeu.

Suspirei. As coisas pareciam estar ficando cada vez piores.

— Vou pensar no que posso fazer para ajudar com isso. — respondi.

Ulrick acenou com a cabeça.

— Vou reunir os homens. — disse ele ao se abaixar para recolher a criatura do chão.

Lançou mais um olhar para o elfo, que permanecia em silencio, porém com uma postura de superioridade, e depois se aproximou de mim, me surpreendendo com um selinho.

— Até breve. — se despediu.

Mais uma vez olhou para o elfo, que sorria, e então se foi.

Esperamos que ele estivesse longe e então nos entreolhamos.

— Acha que ele desconfia de algo? — Aibek perguntou.

— Não há nada para desconfiar. — menti, também sentindo essa preocupação.

Aibek riu, mas não me contrariou.

— Vai contar para ele? — perguntou.

Franzi a testa sem entender.

— Sobre o dragão. — completou.

— Ah, isso. — pigarreei — Eu... Não sei. Talvez. Mas não agora.

Aibek assentiu em concordância e nós voltamos ao treino.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora