— Você é tão linda. — disse o elfo de repente.
Desviei o olhar me sentindo envergonhada.
Estávamos nus, deitados sobre a cama do quarto de hóspedes e ele admirava o meu corpo como quem admira uma divindade.
Normalmente eu não tinha vergonha do meu próprio corpo, mas não estava acostumada com elogios como esse, e eu não me achava bonita.
Meus músculos eram bem definidos, meus seios pequenos, meu quadril marcado com estrias e o resto do meu corpo com cicatrizes, isso sem contar os chifres não nascidos que surgiram em minha cabeça e as orelhas pontudas que não pareciam combinar comigo.
Sempre fui considerada uma guerreira e não um exemplo de beleza, e isso nunca havia me incomodado muito até aquele momento.
Me levantei e fui em direção às minhas roupas para voltar a me vestir.
— Algum problema? — perguntou o elfo.
— Eu preciso ir. — respondi sem olhar para ele — Logo vai amanhecer e ninguém pode me ver saindo do seu quarto.
— Ainda faltam algumas horas para o amanhecer. — ele retrucou se levantando e se aproximando de mim. — Você ainda pode ficar mais um pouco...
— Não posso. — respondi firme — Eu nem devia ter vindo aqui. Nada disso devia ter acontecido e não vai se repetir.
Terminei de amarrar a camisa que estava vestindo.
— Você já disse isso da ultima vez.
— Mas estou falando serio agora.
— E antes não estava?
O encarei séria e ele sorriu sarcástico.
— Estou indo. — concluí indo em direção à porta.
— Espera. — pediu ele segurando a minha mão. — Nos vemos mais tarde?
— Nos vemos pela manhã. — respondi, mas logo completei — No pátio. Para treinar.
Ele sorriu.
— Até logo, então.
Revirei os olhos e saí.
Meu coração estava acelerado e eu queria ficar ali, mas não podia me permitir esse luxo, eu precisava me controlar.
Voltei para o meu quarto e lutei contra a ansiedade que ainda me assolava até adormecer, não por muito tempo.
Pouco depois que o sol surgiu no horizonte, a porta do meu quarto foi aberta e uma serva deixou meu desjejum ao lado da minha cama e logo depois abriu as cortinas para deixar a luz entrar.
Resmunguei e me espreguicei na cama antes de ter a coragem para abrir os olhos.
Quis ficar dormindo o resto da tarde, mas eu tinha coisas a fazer, então comi e desci até o pátio.
Enquanto esperava Aibek aparecer eu fiquei encarando o céu, esperançosa, desejando ver a imagem de Vuur voando pelo imenso azul. Mas ele não apareceu.
Suspirei.
Estava tão distraída e perdida em meus próprios pensamentos que nem ouvi os passos se aproximando.
— Nada ainda? — perguntou o elfo, me dando um susto.
Me recuperei do susto e então olhei para o céu mais uma vez.
— Nada. — respondi desanimada — Sabia que foi aqui que eu o conheci?
Aibek ergueu as sobrancelhas e olhou para o céu comigo, esperando que eu continuasse.
— Eu estava com muita raiva. — falei — Não me lembro mais do motivo, mas lembro que vim aqui descontar minha fúria no treinamento. Eu soquei aquele boneco de madeira estúpido até minha mão sangrar e minhas roupas virarem cinzas por causa do fogo... Quase incendiei o pátio todo, mas então ele apareceu no céu e pousou bem ali. — apontei — Eu fiquei tão surpresa e ao mesmo tempo... Era como se tudo se encaixasse naquele momento. Eu me aproximei dele e assim que toquei em sua testa eu pude senti-lo. Era como se ele se tornasse uma parte de mim.
Mais uma vez precisei me esforçar para não chorar.
— Isso dói muito. — confessei — É mais difícil do que quando perdi minha mãe, pois ela pelo menos não me deixou por que quis.
— Talvez Vuur também não tenha tido escolha. — respondeu ele.
Ergui os ombros.
— Talvez.
Respirei fundo e me recuperei.
— Vamos ao treinamento? — perguntei — Você garantiu que conseguiria me dar um golpe.
— Acho que isso não será possível. — confessou ele — Já aceitei que você está em outro nível.
Sorri.
— Você chega lá. — incentivei.
Porém, antes de começarmos, eu vi alguém se aproximando do pátio. Era o meu noivo e ele não parecia muito feliz.
— Majestade. — cumprimentou ao se aproximar.
Percebi seu olhar de canto de olho para o elfo, mas ao invés de falar qualquer coisa Ulrick apenas ignorou a presença dele.
— Acabei de voltar da vila do Sul. — informou — Trago notícias não muito boas.
— O que aconteceu? — perguntei preocupada.
— Faz alguns dias que estamos tendo problemas com as plantações da região e os vilarejos estavam entrando em conflito por causa disso, mas nós descobrimos quem era o causador dos problemas...
— E quem era? — eu quis saber.
Ulrick estendeu o saco de pano que carregava nas mãos e o virou de cabeça para baixo, fazendo cair no chão uma criatura morta que eu demorei a reconhecer.
— Isso é...
— Um diabrete. — completou ele — As plantações estavam sendo destruídas por um grupo deles.
— Não é comum essas criaturas aparecerem por aqui...
— Não é mesmo. — concordou — Ficamos bastante surpresos e ainda não sabemos o motivo dessa aparição, mas vamos resolver isso.
— Ainda não conseguiram matar todos?
— Infelizmente não. — respondeu — Alguns conseguiram escapar, eu vim aqui para dar a notícia e para reunir alguns homens a fim de irmos reforçar a defesa da região.
— Entendi. E a plantação? — perguntei — Perdemos muito?
— Uma quantidade razoável. — respondeu.
Suspirei. As coisas pareciam estar ficando cada vez piores.
— Vou pensar no que posso fazer para ajudar com isso. — respondi.
Ulrick acenou com a cabeça.
— Vou reunir os homens. — disse ele ao se abaixar para recolher a criatura do chão.
Lançou mais um olhar para o elfo, que permanecia em silencio, porém com uma postura de superioridade, e depois se aproximou de mim, me surpreendendo com um selinho.
— Até breve. — se despediu.
Mais uma vez olhou para o elfo, que sorria, e então se foi.
Esperamos que ele estivesse longe e então nos entreolhamos.
— Acha que ele desconfia de algo? — Aibek perguntou.
— Não há nada para desconfiar. — menti, também sentindo essa preocupação.
Aibek riu, mas não me contrariou.
— Vai contar para ele? — perguntou.
Franzi a testa sem entender.
— Sobre o dragão. — completou.
— Ah, isso. — pigarreei — Eu... Não sei. Talvez. Mas não agora.
Aibek assentiu em concordância e nós voltamos ao treino.
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Tatsuya - A Rainha Dragão
FantasíaTatsuya perdeu sua mãe para uma doença, e seu pai, arrasado com a perda, se colocou numa missão de encontrar as pedras elementais para trazer sua rainha de volta. Infelizmente ele morre ao enfrentar os Elfos da Lua e Tatsuya se sente obrigada a assu...