12 - Ancestrais

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— Seus irmãos chegaram. — anunciei assim que entrei no quarto de Aibek.

— Chegaram? — Ele se levantou da cama onde estava sentado. — Onde estão? Já estão aqui no castelo?

— Já estão aqui e estão bem, não se preocupe. — informei — Mas você só poderá vê-los depois que me responder algumas perguntas.

Ele ficou sério.

— Mais condições? – perguntou ele – O que mais você quer de mim?

— Quero saber o que está escrito aqui. — respondi estendendo o livro que eu havia encontrado.

Aibek suspirou.

— Está escrito o que parece estar escrito. — disse ele — É um livro sobre os Elfos Solares.

— Sim, mas o que está escrito exatamente?

Ele pegou o livro nas mãos e olhou para a página.

— Aqui está dizendo apenas que os Elfos Solares eram abençoados pelo sol com magia de fogo, que trazia calor, vida, mas também destruição, e que por isso os elfos eram cuidadosos e pacíficos, evitando usar suas habilidades em conflitos. Eles eram guardiões da Pedra do Sol, protegendo a magia do seu mau uso.

Aibek virou a página e então a sua expressão mudou. Um lampejo de medo passou pelo seu olhar, mas ele tentou disfarçar.

— É isso o que está escrito. — ele disse.

— E na outra folha?

— Que outra folha? — ele perguntou.

— Você sabe muito bem. — falei pegando o livro da sua mão e abrindo na página seguinte a qual ele havia olhado.

Ali havia um desenho de um elfo com uma mão em chamas e a outra com uma gota desenhada em cima.

— O que significa isso? — perguntei — O que está escrito aí?

— Só está falando sobre a relação amigável entre os Elfos Lunares e os Solares, apenas isso.

— Está mentindo. — acusei — É bom que me diga a verdade, elfo. Quer ver os seus irmãos ou não?

Ele suspirou e pegou o livro novamente.

— Alguns Elfos Solares tiveram relacionamentos com Elfos Lunares, e em alguns desses relacionamentos nasciam elfos capazes de usar as duas habilidades.

— E esses elfos ainda existem? — perguntei.

— Isso foi há muito tempo. — ele disse — Ter as duas habilidades era algo raro.

— Você não respondeu a minha pergunta. — observei — Ainda há elfos assim, não é? São mantidos em segredo?

— Não há elfos assim.

O encarei mais uma vez. Ele estava mentindo e eu tinha quase certeza disso.

— Se continuar mentindo para mim vai se arrepender. – ameacei.

Ele sustentou meu olhar e não demonstrou medo algum. Talvez eu devesse começar a cumprir minhas ameaças para que ele me levasse a sério.

— O que mais diz aí? — perguntei.

Ele fechou o livro e o jogou sobre a cama.

— Eu não preciso disso para saber a história dos elfos. Posso te dizer o que você quer saber.

— E o quê eu quero saber? — perguntei.

— Quer que eu te conte sobre o que aconteceu com os Elfos Solares, não é? Ficou curiosa depois da nossa última conversa… É bem simples... Há muitos anos atrás houve uma princesa Elfo que encontrou um humano na floresta e, tola como era, se apaixonou por ele. Os dois tiveram um romance às escondidas até que ela engravidou. A tola então decidiu fugir com o humano, mas não antes que ele a convencesse a roubar a Pedra do Sol e levá-la para ele.

Abri a boca para contestar, mas Aibek levantou a mão.

— Calma, a história ainda não acabou. — disse ele — Depois da fuga não se sabe exatamente o que aconteceu, mas a Elfo morreu e o seu filho foi o primeiro mago humano. 

— O primeiro mago humano? — perguntei.

— Exatamente. — Aibek respondeu — Um mestiço. Ele cresceu e de alguma forma um dragão muito poderoso decidiu ligar-se ao garoto meio elfo, coisa que nunca havia acontecido antes, e foi assim que tudo começou. O rapaz liderou os humanos contra os Elfos Solares. Até hoje não se sabe o porquê, mas talvez o pai o tenha ensinado a odiar os elfos, contando alguma história distorcida, como vocês humanos sempre fazem.

— Isso não pode ser verdade. 

— Mas é verdade. — garantiu Aibek — Os elfos eram pacíficos e quase não revidaram. Nessa época as algemas de contenção já existiam pois eram usadas quando algum elfo saía do controle com seus poderes, mas o meio elfo passou a usá-las para fazer dos Elfos Solares seus escravos e prisioneiros, até que no fim os Elfos Solares foram extintos. Depois disso o menino teve filhos e o poder da Pedra do Sol foi passado para seu primogênito, até os dias de hoje.

— Não. — discordei — Você está mentindo.

— Não estou. — teimou ele — Você é descendente do primeiro mago humano, e ele era meio elfo.

— Você está mentindo. Está inventando tudo isso para me deixar confusa.

— E por quê eu faria isso? — ele perguntou.

Aibek pegou o livro mais uma vez e abriu naquela mesma página que havia lido.

— Está vendo? — ele perguntou — Os Elfos Solares também tinham a pele escura como a sua.

— Isso não prova nada! — retruquei — Os humanos não são como vocês elfos, nós possuímos cores variadas de pele.

— Eu sei disso. — ele concordou — Mesmo assim... Essa é a verdade. Mesmo que agora já não haja muito de elfo em você, depois de tantas gerações, mas é só por isso que você consegue suportar a magia. Os humanos não possuem essa capacidade.

— Você não sabe de nada.

— Eu sei, e você também sabe. — disse ele ao me olhar nos olhos. — Mesmo que só em uma pequena parte de você, sei que pode sentir isso. Por isso não suportou a curiosidade e veio até mim, sabe que é verdade.

— Esse é o motivo pelo qual eu aceitei fazer acordos com você. — Aibek explicou — Mas também é o motivo pelo qual não posso deixar você ficar com a Pedra da Lua. Apesar de ainda ser desvantajoso para mim, nosso acordo beneficia a nós dois e é um risco mais aceitável do que continuar em guerra.

Suspirei. Se aquela história fosse verdade mudaria absolutamente tudo.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora