43 - Retrospectiva

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O céu estava de um azul claro muito bonito e eu desejei poder voar.

Ouvi os passos de alguém se aproximando e não precisei olhar para trás para saber que era Aibek. Já havia amanhecido e estava na hora do nosso treinamento.

Permaneci sentada no chão, olhando para o céu, e respirei fundo.

— Tatsuya? — o elfo chamou.

Me virei para ele.

— O que... — ele arregalou os olhos, encarando os chifres em minha cabeça. — O que você fez?

Me levantei lentamente e ergui os ombros com indiferença.

— Eu dominei a magia da terra. — respondi.

Ele franziu a testa e continuou me encarando.

— Você tocou na Pedra?

— Sim. — respondi simplesmente.

— Me prometeu que não faria isso. — disse ele indignado.

— Eu estou bem, não estou?

— Mas poderia não estar! — exclamou ele — Poderia ter morrido!

Ergui os ombros mais uma vez.

— Essa possibilidade já estava presente desde o momento em que eu decidi procurar pelas Pedras. — respondi — Não vou conseguir nada se não me arriscar.

Aibek bufou.

— Por que você é tão...

— Tão...? — o incentivei a continuar.

— Teimosa. — concluiu ele — Queria que não fosse assim.

— Mas eu sou.

— Sim, você é. — respondeu ele em voz baixa, encarando o chão com um olhar triste.

Percebi que talvez ele não estivesse falando exatamente sobre mim e isso me magoou um pouco.

— Vamos treinar ou não? — perguntei mudando de assunto.

Aibek acenou com a cabeça.

...

Depois do treinamento eu fui para a sala secreta sozinha. Não precisaria mais do elfo para aprender a dominar a magia, pois sabia exatamente o que deveria fazer.

Encarei as Pedras com determinação.

Eu me sentia mais forte, forte o suficiente para suportar a magia que aqueles objetos emanavam.

Me aproximei da Pedra de Fogo. Eu já havia tocado nela quando ainda era um bebê, durante o ritual que minha família fazia para manter a magia em nossa linhagem, mas talvez se a tocasse de novo... Eu poderia ter mais controle, ser mais poderosa.

Respirei fundo e encarei a Pedra da Lua. O brilho perolado que ela emanava atraia o meu olhar, me atraía.

Estendi a mão.

Terra, fogo e ar já faziam parte de mim, mas ainda restava a água.

Meu coração acelerou com a expectativa e eu tentei deixar a mente aberta e receptiva.

Esperei por uma dor, um desconforto ou algo assim, mas quando a toquei me senti leve, como quem boia sobre a água.

Fui inundada por magia e minha mente vagou por um oceano de memórias.

Vi o meu próprio nascimento, que havia acontecido naquela mesma sala. Meu pai me pegou no colo com um sorriso no rosto e me levou até o altar, onde me abaixou cuidadosamente sobre a Pedra de Fogo por apenas um instante. Meu corpo queimou, mas eu não senti nada. Ele sorriu ainda mais e me aconchegou em seu peito.

Me lembrei da minha infância, quando eu me irritava e sem querer incendiava tudo a minha volta. Dos meus treinamentos pesados durante a adolescência, e da voz autoritária de meu pai me dizendo para continuar, para correr mais rápido, para bater mais forte, para pular mais alto, para ser melhor.

Me lembrei do momento em que conheci meu dragão, e quando voei nele pela primeira vez. E vi minha mãe, deitada em sua cama, respirando com dificuldade e com os olhos meio vidrados, quase não parecendo ela mesma.

Me afastei da Pedra da Lua e abri os olhos.

Eu estava mais poderosa, mas me sentia mais vazia do que nunca.

As lembranças não foram embora, ao invés disso elas se externalizaram e uma série de vultos apareceram na sala.

De inicio eu me assustei, até que percebi o que eles eram.

Vi meu pai parado ao meu lado, com as mãos sobre a mesa e o olhar vago. Seu corpo era feito de névoa, como uma nuvem.

Cheguei bem perto e percebi que ele parecia estar chorando.

Ignorei os outros vultos que passavam ao redor e me foquei nele, observando enquanto ele levantava o olhar e virava as costas, voltando para o escritório.

O segui.

Meu pai foi até a mesa, onde havia alguns mapas e livros que também era feitos de névoa. Ele pegou um dos livros na mão e o abriu, encarando uma das páginas. Parecia estar se preparando para tomar alguma decisão.

— Pai? — ouvi uma voz chamando. Era a minha própria voz, mas ela soava diferente, como um eco.

Meu pai fechou o livro rapidamente e olhou para trás.

Segui seu olhar em direção à porta e vi a mim mesma parada ali.

— Você fará a refeição conosco? — eu perguntei.

De repente me lembrei que aquele havia sido o dia seguinte após a morte de minha mãe.

Meu pai desviou o olhar, encarando o chão.

— Eu estou um pouco ocupado agora. — respondeu — Podem ir comer sem mim.

Me vi assentir e ir embora.

Meu pai voltou a encarar o livro e depois o levou consigo até a prateleira, onde o escondeu atrás de outros livros.

Estranhei aquela ação e fiquei curiosa.

Os vultos se dissolveram no ar e eu fui em direção à prateleira, onde o livro ainda se encontrava escondido.

Fiquei me questionando sobre os motivos de meu pai ter escondido aquele livro, até que o abri e, depois de folhear um pouco, encontrei a informação que me faltava. Era algo aterrorizante, e mudaria tudo.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora