Ao abrir meus olhos novamente tudo era um borrão de luz.
Pisquei algumas vezes para poder me acostumar com a claridade do dia e olhei ao meu redor, percebendo que estava em meu quarto, na minha cama, e que Vuur estava em sua forma humana, sentado ao lado de minhas pernas.
- Eu... Estou viva? - perguntei num sussurro.
- Sim, você está. - ele sorriu.
Me sentei com cuidado, mexendo lentamente os musculos doloridos.
- O que aconteceu?
Vuur soltou um suspiro e colocou sua mão sobre a minha.
- Você conseguiu. - disse ele - Absorveu a magia de Hotar e a espalhou pelo mundo. Agora a magia está em absolutamente tudo e, ao mesmo tempo, em nada.
- Mas você não parece contente com isso.
- Não é que eu não esteja contente. - respondeu ele - É só que... Nós dragões, ou a maioria de nós, queríamos ter nossa hierarquia restaurada e que Hotar renascesse. Agora não temos mais certeza do que o futuro nos reserva. E, além disso, eu quase perdi você.
- Eu realmente não tinha a intenção de sobreviver. - respondi em voz baixa - Não depois de ter perdido toda a minha família.
- Mas você ainda tem a mim.
Sorri.
- Eu sei, Vuur. Obrigada.
- E... Há um motivo para você ter sobrevivido. - contou ele.
Franzi a testa.
- Quando você absorveu a magia de Hotar, mesmo sendo sua descendente e mesmo usando a si mesma apenas como uma ponte e não como um receptáculo, sua parte humana não deveria ter suportado tanta energia. Aquilo teria desintegrado você, se não fosse...
- Se não fosse o quê? - perguntei ansiosa.
- Você não estava sozinha. - explicou ele - Havia outra pessoa junto com você, absorvendo parte da magia também. Vocês quase morreram, mas...
- Aibek me ajudou? - perguntei ainda sem entender.
Vuur balançou a cabeça.
- Há outra vida, uma nova vida, dentro de você.
Franzi a testa mais uma vez.
- Vuur, o que... - parei de falar, finalmente compreendendo.
- Foi por isso que você sobreviveu. - disse ele - Acho que posso dizer que você perdeu a sua família, mas a sua nova família te salvou.
- Isso... E-eu... - balancei a cabeça. - Tem certeza disso? Como sabe?
Vuur soltou um suspiro.
- Eu posso sentir. - respondeu ele - Assim como sinto você.
Balancei a cabeça ainda sem acreditar que aquilo pudesse ser verdade.
- Vocês dois sobreviveram por muito pouco. - continuou Vuur - Aibek e eu tivemos que fazer um ritual de cura, e você ficou inconsciente por um dia inteiro, mas conseguimos.
- Aibek... - me levantei depressa - Ele sabe?
Vuur balançou a cabeça.
- Imaginei que fosse querer contar isso a ele pessoalmente.
Andei de um lado para o outro no quarto com as mãos na cintura, tentando pensar no que faria, quando percebi algo.
Olhei para minhas mãos, depois as levei até a cabeça, apalpando as orelhas e a testa.
Não havia mais chifres, unhas afiadas ou orelhas pontudas, eu havia voltado a aparência antiga.
- Não se preocupe. - respondeu Vuur antes mesmo que eu perguntasse - Você ainda tem magia e ainda pode controlar todos os elementos das Pedras... Apenas a sua aparência voltou a ser como antes.
Suspirei.
- E tem mais uma coisa... - disse Vuur - Ulrick.
Trinquei os dentes ao som do nome.
- Ele queria falar com você. - continuou - Mas eu o mandei ir embora, então ele partiu à noite e não disse para onde ia.
Relaxei.
- Obrigada por isso. - respondi - Eu realmente não queria vê-lo, muito menos falar com ele.
Vuur assentiu.
- Eu sei.
Me sentei de volta na cama e respirei fundo.
Muita coisa havia acontecido e eu não sabia o que faria a seguir.
- Acho que devia ir falar com o elfo. - sugeriu Vuur - Ele estava preocupado.
- Não sei. Eu... - suspirei - Preciso de um tempo para pensar.
- Tudo bem. - concordou - Vou te deixar sozinha um tempo.
- Obrigada.
Esperei que Vuur saísse do quarto e então me deitei.
Coloquei a mão sobre a barriga, tentando sentir algo, mas parecia estar tudo igual.
Era estranho e eu não sabia o que fazer.
Respirei fundo e tentei organizar os pensamentos.
Meus pais não voltariam mais, minha irmã também havia morrido e eu precisava cuidar de tudo sozinha apartir dali.
Primeiro minha irmã devia ser velada e enterrada juntamente com meus pais e eu precisava saber se todos no reino estavam bem, afinal o ataque das criaturas das trevas provavelmente havia deixado muitas pessoas feridas.
Mas antes de resolver tudo isso eu precisava falar com Aibek.
Me levantei da cama e saí à procura dele, encontrando-o no terraço da torre leste, encostado na mureta, prendendo um pequeno papel ao pé de uma coruja.
A coruja se pôs a voar e então eu me aproximei.
- Está tudo bem? - perguntei.
Aibek virou-se surpreso e então sorriu.
- Tatsuya, você acordou!
- Sim. - respondi sorrindo - Já estou bem melhor... E você, estava mandando uma mensagem?
Aibek olhou em direção à coruja no céu e assentiu.
- Meus irmãos. - explicou - Mandaram um recado perguntando se eu estou bem e me pedindo pra voltar logo pra casa. Eu estava respondendo.
- E o que respondeu? - eu quis saber.
- Eu apenas disse que estou bem e que não sei quanto tempo ainda vou demorar.
Soltei um resmungo e olhei para o chão.
- Você já pode ir embora, se quiser. - falei baixo - Posso te dar uma carona com Vuur...
Aibek se aproximou de me e segurou minhas mãos, me fazendo erguer o olhar para o seu rosto.
- Eu não quero ir ainda. - ele respondeu - Quero te fazer companhia.
Seus polegares acariciaram minhas mãos e ele me deu um sorriso.
Nesse momento percebi que eu não podia contar a ele sobre a gravidez.
- Não precisa se preocupar comigo. - teimei - Vuur me fará companhia. Você precisa voltar para a sua família e para o seu povo. Eles precisam de você mais do que eu.
- Mas... Depois de tudo... - Aibek suspirou - Não posso simplesmente te largar aqui assim.
Balancei a cabeça.
- Você não pode é largar a sua família. - retruquei - Acredite em mim, vai se arrepender se não aproveitar todo o tempo que tem com eles. E você tem suas obrigações, não pode deixar toda a responsabilidade sobre os seus irmãos.
Aibek soltou um suspiro e baixou o olhar para o chão.
- Você tem razão...
- Sim, eu tenho. - concordei soltando minhas mãos - Agora me ajude com os preparativos do velório e depois eu vou te levar pra casa.
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Tatsuya - A Rainha Dragão
FantasíaTatsuya perdeu sua mãe para uma doença, e seu pai, arrasado com a perda, se colocou numa missão de encontrar as pedras elementais para trazer sua rainha de volta. Infelizmente ele morre ao enfrentar os Elfos da Lua e Tatsuya se sente obrigada a assu...