48 - Melhor

6 1 0
                                    

Por um momento me desesperei.
A sala secreta só podia ser aberta por alguém que possuísse magia de fogo, e eu era a única a possuir.
Então, como as Pedras poderiam ter sumido?
Aibek e eu nos entreolhamos, por um momento sem saber o que fazer.
Lembrei, então, da montanha, quando encontrei a Pedra do Ar mesmo sem conseguir enxerga-la.
Fechei os olhos e respirei fundo.
Talvez eu ainda pudesse sentir as Pedras, e sentia, mas elas realmente não estavam naquela sala.
Meu instinto me dizia para ir lá fora, nos jardins onde meus pais estavam enterrados.
Saí correndo e Aibek veio logo atrás de mim, gritando e perguntando para onde eu ia.
Apenas corri, sem dar explicações. Não havia tempo.
Ao chegar do lado de fora o meu instinto se tornou mais forte e eu tive certeza de que as Pedras estavam ali perto.
- Por aqui. - falei para o elfo e então voltei a correr.
Eu estava quase chegando, o jardim estava logo ali, virando a esquina.
Meu coração acelerou e eu tive medo.
Ao virar a esquina minhas suspeitas se tornaram reais, e mesmo assim eu não pude acreditar.
- Vesta. - chamei.
Ali estava a minha irmã, sentada em sua cadeira e com Félia ao seu lado.
- Estava te esperando irmã. - Ela sorriu.
Olhei para o seu colo, onde todas as Pedras repousavam sobre um cobertor de peles. Todas, exceto a que estava comigo.
Vesta seguiu o meu olhar e então sorriu ainda mais.
- Quer saber como as peguei? - perguntou.
Ela acenou com a cabeça para Félia, que prontamente pegou as pontas do cobertor de seu colo e o ergueu, carregando as Pedras consigo.
Vesta se agarrou aos braços da cadeira, fazendo força para se levantar, e eu instintivamente dei um passo para frente, com a intenção de ajudá-la, mas percebi que ela não precisaria da minha ajuda.
Vesta se levantou e, para o meu espanto, deu dois passos para frente.
- Como... - tentei perguntar, mas essa não seria a única surpresa.
Vesta estendeu as mãos para frente e delas surgiu uma chama azul brilhante.
Meus olhos ficaram hipnotizados pelo fogo e eu tive certeza de que me queimaria se o tocasse.
- Está surpresa? - perguntou Vesta - Devo confessar que eu também fiquei.
Continuei a encarar as chamas dançantes em suas mãos, ainda sem acreditar no que estava vendo.
- Quando descobri a verdade sobre aquele camponês idiota que tentou me enganar, - contou ela - eu fiquei com muita raiva. Fui para o meu quarto e chorei feito um bebê. A raiva foi crescendo e quando eu percebi minhas mãos estavam assim. Fiquei um pouco desesperada no início e por isso quase incendiei o quarto, mas quando finalmente me acalmei, vi um pequeno passaro na minha janela...
Vesta olhou para o céu e eu acompanhei o seu olhar, percebendo uma ave ao longe, vindo em nossa direção.
Apertei os olhos para enxergar melhor e, conforme a criatura foi se aproximando, percebi que aquilo não era exatamente um pássaro.
- Saxh entrou pela janela e tomou a forma de um homem. - continuou - Ele me contou que estava me observando desde que eu era um bebezinho, esperando que eu descobrisse o meu próprio potencial.
Vesta sorriu, com orgulho de si mesma, e eu encarei a criatura, completamente desacreditada.
Saxh era um enorme dragão dourado e estava se aproximando de nós muito rapidamente.
Porém ele não era o único dragão a surgir.
Vuur também estava se aproximando, vindo de encontro a Saxh, e parecia muito preocupado.
- Saxh me contou tudo. - continuou Vesta, sem se abalar - Ele curou as minhas pernas e me falou sobre os nossos antepassados, e sobre o ritual que o nosso pai pretendia fazer. Ele também me falou que o seu dragão pretendia te convercer a desistir...
- Vesta, eu...
- Você ia me contar? - perguntou sarcástica - Você sempre me subestimou, irmã. Todos sempre me trataram como uma menininha indefesa, uma coitada. Sempre escondendo coisas de mim, como se eu fosse tão frágil que qualquer brisa me quebraria.
- Sabe que não é verdade.
- Ah não? - questionou - Então por que não me contou nada? Você sequer pensou em me procurar depois de tudo o que descobriu e depois de decidir que não traria nossos pais de volta. Ia tomar todas as decisões sozinha sem ao menos me consultar. Porque para você eu sou insignificante e a minha opinião não importa.
- Isso não é verdade, Vesta. Eu estava apenas tentando te proteger.
- Porque sou uma coitada.
- Não. - respondi - É porque eu sou sua irmã mais velha e te proteger é a minha obrigação. E também porque eu amo você.
Vesta me encarou e eu sustentei seu olhar, tentando mostrar que eu falava a verdade.
- Isso não importa. - disse ela.
Com um movimento de suas mãos uma parede de fogo surgiu ao meu redor.
No céu eu pude ver Saxh e Vuur se encontrando no ar, as mandíbulas abertas e as garras estendidas, prontos para atacar um ao outro.
Vesta passou tranquilamente pelo fogo em minha direção.
Do lado de fora eu pude ouvir a voz de Aibek gritando por mim, mas o fogo era muito denso, muito alto e muito quente para que qualquer um de nós pudesse atravessar.
Fiquei no centro, tentando escapar do calor ardente que emanava das chamas.
- Vesta... Não faça isso. - implorei.
- Apenas me dê a ultima Pedra e eu não machucarei seu dragão. - ela prometeu.
Olhei para o céu mais uma vez.
Vuur era forte, mas Saxh era maior. E ambos sairiam machucados daquela luta.
Olhei para a Pedra em minhas mãos.
- O que pretende fazer? - perguntei.
- Apenas terminar o que você não teve coragem. - disse ela - E provar para todos que sou a verdadeira rainha.
- Então, é isso? Quer ser a rainha?
- Quero ser reconhecida. - disse ela - Quero que todos saibam que sou melhor, mais poderosa, mais inteligente e mais corajosa. Nunca mais serei subestimada, nem serei inferior.
- Você nunca foi...
Vesta sorriu.
- Sim. - concordou ela - Eu nunca fui. Agora me dê a Pedra.
- Vai pedir ao seu dragão que pare de atacar?
- Vou. - prometeu - Só preciso da Pedra, e de você.
Eu não tinha escolha. Mesmo se decidisse não dar a Pedra a ela, ela a pegaria à força, e eu não queria lutar contra a minha irmã.
Respirei fundo e estendi as mãos.
- É sua.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora