34 - Antepassados

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Abri meus olhos e vi uma Pedra com formato oval e de cor acinzentada com padrões que a faziam parecer que era feita de um redemoinho. Ela pulsava energia pura e era completamente linda de se ver.

Ao desejar pegá-la, porém, percebi meu corpo caído no chão.

Eu não possuía mãos, não possuía mais um corpo, estava fora dele, apenas como uma consciência pairando no ambiente.

Minha percepção aumentou e eu pude ver e ouvir tudo ao meu redor, tudo ao mesmo tempo. Eu não estava mais presa ao plano físico e isso me assustou.

— Acalme-se. — ouvi uma voz familiar me dizer.

Era aquela mulher de novo.

Ela apareceu em uma forma espectral e sorriu.

— Você não morreu... Ainda. — ela disse.

Voltei a olhar para o meu corpo e vi Aibek ajoelhado ao meu lado, gritando desesperado, chamando o meu nome.

— Você se mostrou digna. — a mulher continuou a dizer — Há uma razão para estar aqui. Você se esforçou muito e está perto de ter em suas mãos a possibilidade. Porém, pior do que não ter nenhuma escolha, é ter varias opções e não saber o que escolher. Por isso eu preciso lhe mostrar algumas coisas...

— Do que você está falando? — perguntei.

Minha voz não saiu, foi mais como um pensamento soprado ao vento, mas ela me entendeu.

— Eu estive te observando desde o inicio. — ela explicou — Você chegou aqui por sua convicção e determinação. Seu coração se mostrou puro e digno, e é por isso que eu como guardiã da Pedra do Ar, preciso lhe mostrar algumas coisas que poderão te ajudar a decidir o que fará a seguir.

Continuei sem entender, mas ela apenas sorriu mais uma vez.

— Venha comigo. — chamou.

Todo o ambiente se modificou e eu vi uma pequena cabana.

Dentro dela estavam dois elfos solares que eu imediatamente reconheci.

O homem era o mesmo que eu sempre via em minhas visões, entregando as cinco Pedras naquele templo sobre a montanha. A mulher era a mesma que havia me levado até ali. Mas ela não era um espirito, ela estava viva, e em seu colo havia uma bebê.

Observei a família com interesse, me perguntando o que aconteceria.

A mulher colocou a bebê com cuidado sobre um pequeno berço, e foi quando a porta do aposento se abriu num rompante.

O casal se assustou e a mulher arregalou os olhos com surpresa quando avistou outra elfo solar.

— Irmã? — ela perguntou confusa.

Atrás da elfo havia um batalhão de soldados humanos. Ela abriu caminho e os soldados começaram a entrar no cômodo com lanças em suas mãos.

— O que está havendo aqui? — o elfo perguntou.

— Viemos fazer algumas exigências... — disse um dos soldados — Se vier conosco deixaremos sua família em paz.

Ele olhou para a mulher e ela balançou a cabeça em negativa.

— Eu já lhes dei o poder de dominar o ar. — ele continuou — Abdiquei de tudo para ter uma vida simples com minha família e vocês aparecem aqui para me ameaçar e fazer exigências?

— Sim. — respondeu o soldado com uma expressão de superioridade. — Nós queremos tudo, e sabemos que pode nos dar.

— Não posso. — o elfo respondeu.

Nesse momento o soldado deu um passo à frente.

— Peguem a bebê. — disse ele.

Vários soldados avançaram em direção ao berço, mas a mãe se colocou no caminho.

Usando a dominação do ar eles a empurraram para o lado e uma confusão começou.

O elfo tentou defender a esposa, soldados o empurraram também. Um soldado pegou a bebê. A mãe se levantou mais uma vez para tentar recuperá-la, uma lança foi jogada ao ar, e a elfo caiu no chão.

Depois disso se ouviu um berro, que se tornou um urrar de vento.

Não entendi muito bem o que estava acontecendo de inicio, mas vi os soldados caírem de joelhos e começarem a gritar. Uma energia saiu deles, um vento forte veio de todas as direções, preenchendo todo o lugar e se juntando sobre a mão do elfo, que carregava uma expressão de ira em seu rosto.

Percebi que o vento estava tomando forma, até que se tornou uma pedra oval formada por um furacão. A Pedra do Ar.

Todos os humanos que estavam ali morreram sufocados e a bebê voltou para os braços do pai.

— Eldion... — chamou a elfo que estava caída no chão.

Ele se ajoelhou ao lado dela com o rosto encharcado em lágrimas.

— Está tudo bem. — ele disse — Eu vou dar um jeito nisso, e depois me vingarei de todos os humanos.

— Não... — ela pediu — Não deixe que isso corrompa você meu amor...

— Você não vai morrer. — ele disse em meio ao choro — Eu vou te salvar.

Naquele momento de dor e tristeza ele usou sua magia, mas não foi suficiente para salvar a vida da mulher. Ao invés disso apenas a prendeu em forma de espectro, um fantasma que o assombraria para sempre.

A irmã dela caiu em prantos dizendo que essa não era a intenção e que ninguém deveria ter sido machucado.

O elfo então entrega a Pedra para sua mulher dizendo a ela para protegê-la e nunca deixar que ninguém a possuísse de novo.

Depois entregou a bebê para a irmã dela pedindo que a criasse bem, e que não cometesse o mesmo erro novamente.

Depois disso o elfo foi até um penhasco. Em seu ultimo momento amaldiçoou os humanos a nunca mais possuírem magia e se jogou no abismo.

E então eu estava de volta à montanha.

Meu corpo ainda estava caído e Aibek ainda chamava por mim enquanto batia em meu peito na tentativa de fazer meu coração voltar a bater.

— Tudo isso aconteceu por causa dessas Pedras... — o espectro da mulher falou comigo mais uma vez. — Os humanos foram gananciosos, desejaram ter todo o poder para si, e por isso foram amaldiçoados.

— Anos depois minha filinha cresceu e se casou, teve filhos e seus filhos tiveram filhos. Da descendência dela veio uma Princesa Elfo que se apaixonou por um humano. O filho deles dizimou quase toda a raça dos Elfos Solares. E da descendência dele, veio você. — ela continuou — Em todos esses séculos houve apenas mais do mesmo. Um ciclo de guerras, mortes e violências se repetiu por ganância. Mas você, Tatsuya, tem uma escolha a fazer agora. E você fará.

Quis responder, mas não soube o que dizer a ela. Havia muito no que pensar e eu não sabia exatamente o que ela queria de mim, o que queria que eu fizesse.

A mulher caminhou em direção ao meu corpo, colocou uma mão em meu peito e a outra em minha testa, e então soprou em meu rosto.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora