40 - Abraço

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Depois de muito chorar, e em meio a uma sensação de torpor, eu me levantei e vaguei sem rumo por corredores vazios.

Não havia nenhum pensamento em minha mente, nem sentimentos em minha alma, ou lágrimas em meus olhos. Eu me sentia completamente vazia.

Não sei quanto tempo se passou, mas quando me dei conta estava andando em frente aos quartos de hóspedes.

Desacelerei os passos e parei, encarando a porta do quarto onde Aibek estava.

Pensei em bater, contar a ele o que havia acontecido e pedir que me ajudasse. Por algum motivo eu achava que ele era a única pessoa que me entenderia naquele momento.

Respirei profundamente e então desisti, porém quando estava prestes a continuar o meu caminho a porta se abriu.

— Tatsuya? — disse o elfo com surpresa — Aconteceu alguma coisa?

Não consegui responder, pois sentia como se uma bola estivesse entalada em minha garganta.

— Você está bem? — ele questionou de novo.

Permaneci em silencio, porém meus olhos transpareceram toda a dor que eu sentia derramando uma chuva de lágrimas em meu rosto.

Aibek se aproximou preocupado e eu me joguei em seus braços, enterrando meu rosto em seu ombro.

Eu tinha consciência do quanto aquele momento era estranho, porém quando ele me abraçou, me apertando cuidadosamente contra o seu corpo, eu me senti segura e aconchegada.

Muito tempo se passou e Aibek permaneceu parado e em silencio, apenas me abraçando.

— Me desculpe. — pedi assim que encontrei a voz e enxuguei o rosto, me sentindo um pouco ridícula por ter chorado daquela forma.

— O que aconteceu? — ele perguntou.

Balancei a cabeça, mas não pude impedir que meus olhos ficassem marejados mais uma vez.

— Venha... Entre. — ele pediu, me puxando para dentro do quarto.

Não resisti e esperei que ele fechasse a porta quando entramos.

— Sente-se. — disse ele apontando para a cama — Vamos conversar.

— Não preciso conversar. — teimei — Está tudo bem.

O elfo ergueu as sobrancelhas e me deu um sorriso sarcástico.

Revirei os olhos e me sentei na cama.

— Vuur sumiu. — soltei — E eu não consigo entender o que aconteceu.

Aibek se sentou ao meu lado e franziu as sobrancelhas.

— Como assim "Vuur sumiu"? — perguntou ele confuso.

— Eu também não sei. — respondi — Ele simplesmente sumiu. Eu não consigo mais senti-lo.

— E isso significa que... ele... — Aibek não terminou a frase.

— Ele pode estar vivo. — respondi entendendo onde ele queria chegar — Mas eu não tenho certeza porque não sinto nada. Não é como se ele tivesse morrido, é como se ele não existisse.

O elfo ficou pensativo.

— Talvez ele só tenha... desfeito a nossa conexão.

— E isso é possível? — ele perguntou.

— Eu não sei... — admiti — Nunca aconteceu algo assim. E... Por que ele faria isso? Eu não...

Engoli em seco tentando não chorar mais uma vez. Eu amava Vuur, mais do que qualquer outra coisa ou pessoa, mas eu não podia ficar chorando feito uma criança, precisava controlar minhas emoções, ou perderia o controle da minha magia e também das minhas ações.

Respirei fundo e tentei limpar a mente, pensar de forma mais clara.

— Talvez ele tenha partido por causa da Quinta Pedra. — concluí — Ele sabe que eu vou precisar dela e nas minhas visões essa Pedra pertencia aos dragões, então... Talvez ele não possa me dizer onde ela está. Mas então porque ele esteve me ajudando a conseguir as outras? Porque ele me abandonaria assim? É tão frustrante!

Me levantei e andei em círculos no quarto na tentativa de me acalmar.

— Eu sempre o compreendi, sempre soube como ele se sentia, como ele estava, o que ele pensava... Agora eu não sei nem se ele está vivo! E nada faz sentido! — desabafei — E se ele nunca mais voltar?

— Se acalme... — pediu Aibek ao se aproximar de mim — Vai ficar tudo bem. Vamos pensar em algo.

Respirei fundo mais uma vez. Eu não achava que ficaria tudo bem, mas eu realmente precisava me acalmar.

— É melhor eu ir. — concluí — Eu nem devia estar aqui.

— Mas está. — disse ele me segurando pelos ombros. — Deixe-me tentar ajudá-la.

— Não há nada que você possa fazer. — respondi.

— Posso te abraçar. — disse ele se aproximando um pouco mais. — Posso te dizer o quanto você é forte, inteligente e poderosa, e que não há nada que você não possa resolver... Talvez seja o suficiente?

Ele sorriu para mim e eu não pude deixar de rir.

— Talvez, por enquanto. — respondi cedendo.

Ele então me abraçou mais uma vez.

— Você é forte, inteligente e poderosa. — disse ele em meu ouvido — Não há nada que você não possa resolver. E eu estarei aqui se precisar de mais abraços.

Ri mais uma vez e me senti um pouco melhor.

Aibek se afastou um pouco e segurou meu rosto entre as mãos.

— Vai ficar tudo bem. — ele disse.

Balancei a cabeça em concordância.

— Vai ficar tudo bem. — repeti, tentando me convencer.

Olhei nos olhos do elfo e me senti feliz por sua presença.

— Obrigada. — falei sinceramente.

Ele sorriu mais uma vez e eu o beijei.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora