27 - Incertezas

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Eu estava tentando fazer uma pequena onda no rio com magia quando senti Vuur chegando. Olhei para o alto e o vi se aproximando de nós.

— Seu dragão voltou. — disse o elfo também olhando para o céu.

— Sim, e nós precisamos partir.

— Para onde vamos exatamente? — ele quis saber.

Encolhi os ombros.

— Podemos seguir o rio até a floresta encantada, sei que o rio passa por lá. A pedra pode estar em algum lugar pelo caminho, ou ainda mais longe, nas montanhas... Do alto poderemos ver melhor. Se encontrarmos algo que chame a atenção...

— Entendi. É uma boa ideia.

Assenti e aguardei o pouso de Vuur antes de me aproximar para fazer carinho em seu queixo. Ele estava bem e não estava mais com fome. Podíamos continuar a viagem.

Meu treinamento não havia surtido muito resultado, assim como o assunto dos elfos Solares também não havia dado em nada, e eu estava exausta, mas precisávamos seguir em frente e encontrar a quarta Pedra.

Nos preparamos, montamos nas costas de Vuur mais uma vez e voamos, seguindo o rio, que passava por trás do vulcão e descia até a Floresta Encantada, um lugar muito perigoso apesar do nome, pois era uma floresta mágica que podia encantar uma pessoa ao ponto de ela nunca mais sair de lá. Havia uma grande chance de ficarmos perdidos naquelas terras, e eu teria que depender da sorte mais uma vez.

Já estávamos perto quando eu percebi que faltavam poucas horas para o anoitecer e, como não seria seguro passar a noite na Floresta, resolvi descer um pouco antes dela. Passaríamos a noite ali e ao amanhecer seguiríamos a pé.

Tratei logo de procurar alguns galhos para uma nova fogueira e pedi que Aibek fosse colocando as pedras em volta.

Logo estávamos os três abrigados perto de um morro e em volta da fogueira.

Aibek e eu estávamos comendo os peixes restantes do que já havíamos assado mais cedo e Vuur estava deitado, olhando para nós, enquanto o sol ia se pondo no horizonte.

— Vamos continuar o treinamento depois de comer? — o elfo perguntou de repente.

— Acho que não. — respondi — Já estou cansada. Usar a magia da água me deixa esgotada.

Aibek apertou os lábios.

— Talvez isso melhore com o tempo. — ele disse.

— Talvez. — concordei em voz baixa.

O que eu realmente queria naquele momento era tomar um banho e dormir, mas não era possível fazer isso com ele ali. Normalmente eu não teria vergonha de ficar nua na frente de outra pessoa, sempre acontecia quando meus poderes saíam do controle e minha roupa se queimava, mas depois de tudo o que aconteceu... Eu não queria o elfo me olhando enquanto eu me banhava, seria estranho demais, nem queria dormir antes dele também, seria burrice.

Esperei anoitecer e então nós arrumamos tudo para poder dormir. Aibek juntou algumas folhas no chão, colocou sua capa sobre elas e então se deitou, enquanto que eu apenas me aconcheguei ao lado de Vuur, usando seu corpo como apoio para as minhas costas.

Fiquei ali, esperando que o elfo dormisse, lutando contra o meu próprio sono.

Já estava bem tarde quando eu resolvi sair. Me distanciei um pouco, tirei meu vestido, colocando-o na margem e entrei na água fria. Eu podia acabar doente por estar no rio àquela hora da noite, mas eu precisava de um banho relaxante para poder dormir tranquilamente. A ansiedade relacionada a todas aquelas incertezas que me rondavam me deixavam agitada.

Respirei fundo, sentindo a leve correnteza passar por mim, e fechei meus olhos, me concentrando apenas naquela sensação.

Fiquei com frio, mas não me importei, apenas fiquei ali parada, desejando que a água levasse todos os meus problemas, ansiedades e incertezas junto com ela.

Quando achei que já era suficiente saí da água e me vesti apressadamente, voltando a me apoiar em Vuur, perto da fogueira, para me aquecer.

Fiquei um tempo observando o elfo dormir. Ele não parecia uma ameaça quando estava assim. Seu rosto era tão sereno e suave, tão claro que quase parecia morto, se não fosse pela respiração lenta que fazia seus ombros se mexerem, mas era como se sua pele refletisse a luz da lua.

Tentei encontrar algum defeito nele, algo do qual eu pudesse sentir repulsa. Seu nariz fino, seu rosto magro, suas orelhas pontudas... Nada daquilo era o suficiente, pois ficavam muito bem nele, mas o fato de que ele era um elfo, um inimigo, devia ser o suficiente para odiá-lo, porém eu não o odiava.

Me questionei se eu poderia confiar nele. Eu seria idiota se confiasse, não seria? Mas ele realmente estava sendo útil, mesmo que estivesse relutante demais em relação aos supostos Elfos Solares. Isso poderia fazer parte do plano dele? Afinal, por que ele estava me ajudando? Eu ainda não conseguia entender.

Talvez eu devesse enviar uma mensagem para minha irmã, perguntando se estava tudo bem por lá e dizendo onde eu estava. O plano do elfo poderia ser apenas me distrair enquanto os elfos atacavam o meu reino. Essa ideia não fazia muito sentido, mas poderia ser verdade.

Acabei adormecendo em meios a esses pensamentos, sem realmente chegar a alguma conclusão além da mensagem que enviaria.

Acordei com a luz do sol em meu rosto. Abri os olhos devagar, despertando aos poucos.

Me sentei e vi que Aibek não estava mais deitado ali e a fogueira já estava apagada.

Vuur ainda estava deitado atrás de mim, mas também já estava acordado.

Me levantei e fui procurar o elfo, mas não precisei fazer muito esforço. Ele estava um pouco mais a frente, sentado na beira do rio, comendo uma fruta amarela estranha que eu nunca havia visto na vida.

— Você acordou. — disse ele ao me ver. — Já faz um tempo que amanheceu.

— É, eu... Demorei a conseguir dormir ontem.

Me sentei ao lado dele e me inclinei, pegando um pouco de água e jogando-a em meu rosto, esperando que isso me ajudasse a despertar de vez.

— Tem outra dessa? —perguntei apontando para a fruta que o elfo comia.

— Tem sim. — ele disse já pegando outra da sua bolsa e me entregando.

Dei uma mordida e me surpreendi com o sabor doce e suculento.

— Isso é bom. — falei baixo.

— É mesmo. Encontrei elas naquele Oasis. São muito gostosas.

— São mesmo. — concordei.

Mordi mais um pedaço e mastiguei devagar.

— Vamos começar nossa aventura na floresta agora? — o elfo perguntou — Ou você já mudou ideia?

— Por que eu mudaria de ideia? — perguntei — É claro que vamos, assim que eu terminar de me preparar. Precisamos levar água, comida...

— Ainda tenho algumas frutas aqui. — ele respondeu — Só precisamos pegar o máximo possível da água do rio para levar e estaremos prontos.

Soltei um suspiro.

— Tudo bem. — concordei — Vou pegar minhas coisas.

Me levantei e voltei para onde Vuur ainda aguardava, peguei minha bolsa e rapidamente tirei de dentro dela um pedaço de papel e o carvão. Escrevi uma mensagem apressada, dizendo que eu entraria na Floresta Encantada para procurar a Pedra do Ar e perguntando se estava tudo bem. Rasguei um pedaço da barra do meu vestido e prendi o bilhete na pata de Vuur.

— Volte logo. — pedi. Ele já sabia o que devia fazer.

Fiquei observando enquanto ele se erguia no ar e voava para longe.

Senti a presença de Aibek atrás de mim, se aproximando, e me virei para ele.

— Hora de ir. — sorri.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora