47 - Escolha

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Aibek andava de um lado para o outro, enquanto pensava.
Eu sabia que havia informações demais para ele absorver, mas eu estava com pressa, meu reino estava em perigo.
- Então você veio até aqui para me contar tudo isso e me pedir permissão? - ele perguntou.
- Não exatamente... - respondi - Temos um acordo, e a Pedra da Lua pertence a você. Quero um futuro de paz, então eu não poderia quebrar a sua confiança em mim agora.
- Mas se eu disser que não concordo...
- Teremos que pensar em outra solução. - completei.
Ele olhou para a Pedra que agora descansava sobre a sua cama e soltou um suspiro.
- Eu... - começou, mas deixou a frase morrer.
- Preciso de uma resposta agora. - insisti - Ulrick, Vuur e todos os meus soldados estão lutando nesse momento contra as criaturas que estão atacando os vilarejos. Precisamos decidir o que fazer.
- Você acha que seria uma boa ideia reviver um dragão e abdicar de nossa magia?
- Vuur me disse que continuaremos a ter magia, ela só irá se diluir conforme as gerações forem passando, e isso será tempo suficiente para que Hotar cresça e assuma a liderança. Mas sinceramente, eu também não tenho certeza de que é uma boa ideia.
- E quais são as outras opções?
- Podemos devolvê-las para onde estavam antes. - respondi - Estarão seguras e separadas, então não atrairão mais criaturas.
- E jogar fora todo o esforço que tivemos?
Suspirei.
- Se permanecermos em paz, não precisarei de todas essas Pedras para proteger meu povo, e não pretendo mais usa-las...
- Mas eu sim. - interrompeu ele.
A afirmação me pegou de surpresa e por isso não pude reagir ao que se seguiu.
Aibek fez um rapido movimento com o braço direito e com o erquerdo me empurrou contra a parede, me prendendo.
Antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, senti uma lâmina de gelo ser forçada contra o meu pescoço.
- Aibek... - foi tudo o que consegui dizer.
- Sinto muito. - ele respondeu.
Seus olhos marejados me deixaram confusa. Ele forçou mais a lâmina, e eu tive certeza de que seria morta naquele momento, mas ele hesitou.
Rapidamente precisei reagir.
Minhas pernas estavam livres, então as usei em meu favor, dando-lhe uma joelhada ao mesmo tempo em que puxei meus braços para me soltar e empurrei a lâmina para longe da minha garganta.
Aibek tropeçou para trás e eu aproveitei para chuta-lo no estômago, fazendo-o cair.
Invoquei as chamas em minhas mãos e investi contra ele.
Aibek se levantou a tempo de se defender, juntando os braços na frente rosto, formando uma camada de gelo sobre a pele.
Meu golpe, no entanto, o derubou mais uma vez, já que ainda não havia tido tempo para se equilibrar.
Pulei sobre ele, o prendendo contra o chão.
- Seu idiota. - ralhei - O que pensa que está fazendo?
Ao invés de me responder, ele forçou meu corpo para o lado, ficando sobre mim.
A lâmina mais uma vez surgiu em sua mão e ele a ergueu, pronto para atacar, e mais uma vez hesitou, me dando a oportunidade de empurra-lo e ficar por cima de novo, segurando seus pulsos para o alto.
- Pare de tentar me matar e fale comigo! - gritei - Por que está me atacando? O que está fazendo?!
Aibek finalmente parou de se debater e me encarou.
Estávamos os dois ofegantes, encarando um ao outro.
- Por que está fazendo isso? - perguntei de novo, dessa vez um pouco mais calma.
- Eu preciso... - sussurrou ele - Devo isso a ela.
- A quem? - questionei - Do que você está falando?
- Você desistiu de usar as Pedras, mas eu não! Preciso trazê-la de volta.
Como um estalo, tudo passou a fazer sentido.
Respirei fundo e soltei os pulsos de Aibek, então ele cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar.
- Está tudo bem... - respondi - Não precisava me atacar por causa disso, eu disse que iríamos tomar uma decisão juntos. Se você está disposto a fazer o sacrifício necessário, então não vou te impedir de usar as Pedras.
- Você não entende...
- O que eu não entendo? - perguntei confusa.
- Você é o sacrifício, Tatsuya! Você!
- O quê...? - balancei a cabeça - Aibek, acho que você não entendeu. Para essa magia funcionar você precisa sacrificar alguém que seja tão importante quant...
O encarei, deixando a frase morrer e ele sustentou o meu olhar.
- Eu te amo Tatsuya. - confessou ele - Kádia morreu por minha culpa e eu devo isso a ela, mas... Eu...
Aibek não conseguiu terminar a frase, e eu tampouco consegui encontrar algo para dizer.
- Pensei que seria fácil. - soluçou - Kádia não merecia ter morrido e eu daria tudo pra poder ir no lugar dela se pudesse...
Não pude evitar que meus olhos se enchecem de lágrimas por ele. Eu sabia bem o que era perder alguém e entendia o que ele estava sentindo, só não conseguia compreender como ele podia dizer que me amava. Não fazia sentido. E saber que ele me sacrificaria para ter seu antigo amor de volta me doeu.
- Se é isso o que quer fazer, faça. - desafiei.
Peguei a sua mão, que ainda segurava a lâmina de gelo, e a levei até o meu pescoço.
- Faça.
Aibek me olhou nos olhos com profunda tristeza e balançou a cabeça.
- Faça logo! - gritei.
- Eu não posso! - gritou ele de volta - Não consigo...
Soltei um suspiro e me levantei, libertando-o.
- Aibek... Não temos tempo para isso. Vai me ajudar a destruir as Pedras, ou vai tentar me matar?
- Eu... Eu vou te ajudar. - respondeu ele.
Estendi a mão para ajudá-lo a se levantar.
- Então vamos. Mais tarde conversamos sobre isso.
Ele aceitou a minha ajuda e me seguiu.
Peguei a Pedra de cima da cama e juntos fomos em silêncio até o escritório do meu pai.
Aibek estava cabisbaixo e eu tentava não pensar no que havia acabado de acontecer, pois não sabia o que faria a respeito.
Andei o mais depressa que consegui, mas ao abrir a porta da sala secreta senti que algo estava errado.
Olhei em volta com espanto.
As Pedras não estavam ali.

Tatsuya - A Rainha DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora