Capitulo 1: Fantasma

47 12 63
                                    

— Mãe??

— Até que enfim. – Megan ultrapassa a porta me abraçando tão forte enquanto eu mesma fico sem reação. — Minha menina. – ela segura meu rosto enquanto a olho sem entender nada. — Eu sabia que seria você abrir a porta dessa vez. Intuição de mãe nunca erra. – ela dá uma risada fraca.

– M-mãe o que..

— Não, não pergunta minha vida. – ela me abraça novamente. — O que importa é que estou aqui com você agora.

— Espera – afasto.

— O que foi Mel? Sou eu querida. – ela segura minha mão, mas desfaço do seu toque. — O que houve Amelie?

— A minha mãe tá morta. – digo e ela ri.

— Mel, filha, eu sei que está chocada, assustada e com dúvidas, mas sou eu. Eu juro. – ela segura minha mão novamente.

— Não.. – solta.

– Amelie, meu amor...

— Não me chama de amor – a interrompo — A minha mãe está morta, e eu preferia que continuasse assim.

– Como é?

— Você mentiu pra mim. – digo — Eu não estou nem ai em como está aqui, como sobreviveu não me importa. – ela muda totalmente de semblante — O que importa é que você escondeu tudo de mim e eu não te quero ver na minha casa nunca mais. — minha voz começa a ficar embargada.

— Amelie...

— Sai!

— Filha, me deixa explicar.

— EU NÃO QUERO EXPLICAÇÕES. EU QUERO VOCÊ FORA DA MINHA CASA – grito – AGORA!!! – a empurro pra fora e tranco a porta.

Meu peito aperta e uma falta de ar maluca me toma juntamente com uma vontade doida de chorar. Nem me importo se Amberly ouviu ou não, eu só sento encostada na porta chorando igual uma maluca sentindo todo meu corpo tremendo como se estivesse tendo convulsão.

— Ei, Mel, o que aconteceu? – Amberly agacha segurando meu rosto. Mas estou suficientemente surtando incapaz de responder. Como se um branco passasse na minha mente me fazendo ter medo de novo e com isso eu me afasto de Amberly, encolhendo-me no canto.

— Desencosta!!

— Amelie.. – Amberly murmura vindo perto de mim devagar. — Mel.. – a olho e ela se agacha novamente. — Tá tudo bem, só eu estou aqui. Quer me contar o que aconteceu?

— É-é só um fantasma, isso. – digo gaguejando totalmente fora de mim.

— Não tem fantasmas aqui. – Amberly olha envolta e coloca o meu cabelo atrás da orelha — Deve ter sido só um mal estar, ok?

— Não foi! Eu abri a porta, você também ouviu baterem. – falo alto — Não foi um mal estar.

— Ok. – Amberly respira fundo — Vou pegar um copo de água pra você. Deve estar desidratada.

Amberly se levanta indo até a cozinha. Eu queria dizer a ela, está entalado na garganta pra isso, mas eu não consigo. Algo me impede de falar e pra ajudar uma dor insuportável na minha barriga está me matando. Limpo meu rosto me levantando devagar quando Amberly volta com a água. Bebo e me sento no sofá encolhida com dor e assustada ao mesmo tempo.

— Sente alguma dor ou algo assim?

— Um pouco. – digo baixo — E-e enjoo também.

Amberly sai para pegar um remédio e sinto algo estranho, como se eu estivesse com as pernas molhadas. Levanto-me e arregalo os olhos quando vejo sangue no sofá e nas minhas pernas, seguido de outra pontada de dor.

— Ei, o que aconteceu? – Amberly volta com um pano.

— Me leva para o hospital – digo me abaixando.

Amberly me pega no colo teleportando para o hospital. Eu já estou chorando de dor, sentindo minha visão girar e meu estômago embrulhar. Não demora pra que o médico vem me levando para um quarto deixando Amberly na recepção. Quando vejo as agulhas e todas as coisas no quarto, tento me levantar e duas pessoas tentam me segurar, enquanto a enfermeira aplica algo na minha veia e apago.

.

Acordo depois de vários minutos, dessa vez estou sozinha no quarto com fios ligados e uma camisola de hospital. Um pássaro azul pousa na janela com um graveto na boca pra fazer um ninho talvez. Ele voa pra árvore em frente e fico olhando cada movimento até Amberly entrar no quarto e puxar uma cadeira ao meu lado.

— Como está?

— Melhor – a olho — Deram um sedativo e dormi um pouco. – digo e Amberly segura minha mão. — O que aconteceu? Aquele sangue? – Amberly olha pra baixo. — O que era? – Amberly aproxima minha mão de sua boca e dá um beijo.

— Você engravidou Amelie. – ela diz e arregalo meus olhos.

— O que?

— Estava grávida. – Amberly diz devagar — Você perdeu o bebê.

Parece que tiraram o chão debaixo de mim. Não queria outro bebê, mas ele não tinha culpa de nada. Eu sou mãe, e essa foi uma das sensações mais dolorosas que tive. Sinto-me tão vazia que minha vontade era sumir agora.

— É brincadeira, né? – abraço meus braços.

— O médico disse. – Amberly responde — Estava grávida de algum dos filhos da puta do Leonard. – Olho pra baixo pensando em quem poderia ser, mas a resposta é óbvia. Mateo ou Paolo. Foram os únicos que encostaram em mim quando Leonard me sequestrou. — Mas não precisamos nos preocupar com isso. Não mais. – ela beija minha bochecha. — Tudo bem agora. Precisa de alguma coisa?

— Quero ir pra casa. – digo sem olhá-la.

— Nós já vamos. Esperar o médico dar alta. – ela diz — Não quero que saia daqui sem saber se realmente está bem. Essas pessoas querem te ajudar e estão fazendo o máximo que podem.

Dou-me por vencida e volto a encostar a cabeça no travesseiro e olhar a janela. Eu estava grávida todo esse tempo e nunca sequer imaginei que realmente fosse os enjoos era tudo por isso. Mas minha menstruação estava regular, isso que não entendo. Será que já era um inicio de aborto e eu achava que estava tudo normal? Eu fui tão imprudente que agora a morte do bebê está me corroendo por dentro, mas não espero que Amberly entenda isso.

Amberly fica tentando chamar minha atenção com conversa, citando até um traumatismo craniano mau curado. Ela aproveita pra contar coisas que em todo esse tempo nunca havia dito.

— Eu morei nas ruas por uns anos. 3 ela conta — Eu tinha uns 13 ou 14 quando fugi da casa que eu morava. Fiquei "órfã" aos 10. – ela faz sinal de aspas. — Eu fugi com um menino que morava comigo e acabamos desenvolvendo um relacionamento. Tive meus filhos uns seis anos depois e conheci meu irmão e família de verdade.

— Ah.. Sinto muito por tudo isso.

— O traumatismo é uma lembrança de quando tudo mudou. – ela diz — Um pouco pra melhor, um pouco pra ruim. Mas muito melhor que antes. – dou um sorriso fraco e olho pra baixo — Eu tenho várias cicatrizes nas costas. Sempre que eliminava um alvo, pedia pra minha filha fazer um corte, assim não seriam esquecidos.

— Você leva isso bem a sério pelo visto.

— Levava – ela passa a mão no ombro e eu a mão na cabeça. — Um dia vou levar você pra conhecer meu irmão. Você quer?

— Sim, quero conhecer sua família. – respiro fundo — Meu pai ia gostar de você.

Ficamos conversando mais um tempo, já estou impaciente de ficar deitada nessa cama de hospital. Só me faz ter memórias ruins e eu só quero ir pra casa.

Por sorte, não demora muito para o médico vir dizer que já estou liberada. Não sei quais os procedimentos pra quando se perde um bebê e não sei se era esse o tempo mesmo pra se ficar. Mas ele me deu uma roupa e remédios que eu devo tomar tanto por causa da perda e também para o emocional.

Chegando ao apartamento trato logo de tomar um belo de um banho pra tirar esse cheiro insuportável de hospital. E agora tentar deixar esse dia de lado.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora