Fiz incansáveis ligações para Joe e todas elas foram sem sucesso. Enchi seu celular de notificações de mensagem, mas nada. Tem alguma coisa acontecendo e irei descobrir. Ainda pra ajudar não tive disposição pra levantar. Estou atirada na cama com olhos fechados, joguei o diário embaixo da mesa de cabeceira.
Flashback
Assistir o pôr do sol no último andar da One World Trade Center é a melhor coisa do mundo. O arranha céu é um dos mais altos de Nova York e dá direito a uma vista perfeita. A época do ano ajuda deixando o céu mais alaranjado e fazendo com que as nuvens pareçam estar engolindo o sol literalmente.
A cidade é linda quando você deixa de olhar a violência que a engloba, a pobreza de algumas pessoas, os crimes. Ainda sim, tudo isso, não deixa a beleza de Nova York se ofuscar. Na verdade, parece que aumenta. Chega até ser reconfortante.
- Imaginei que estaria aqui. - me assusto com a voz grave de Leonard atrás de mim, me levanto da cadeira num piscar de olhos.
- Senhor, me desculpa. Eu já ia voltar. - digo tentando manter minha voz firme. - Eu só-- - Leonard me interrompe levantando uma mão.
Achei que iria me bater ali mesmo já que levantou as mangas da camisa social, mas foi só pra pegar uma cadeira e colocar ao lado da minha e sentar a bunda nela. Leonard indica minha cadeira pra me sentar novamente e assim faço. Pelo canto dos olhos o vejo admirar o pôr do sol. Por algum motivo seu olhos demonstram calma, não aquele homem raivoso que me deparo todos os dias. É como se ele estivesse mais.. acessível.
- Tem razão em vir aqui. - Leonard quebra o silêncio - A vista é muito bonita.
- É o meu lugar favorito. - arrisco em dizer. Leonard nunca gostou muito que eu continuasse uma conversa sem sua permissão. Mas quem sabe. - Parece que é uma tela de um quadro pintado com tinta a óleo - digo, dando uma leve risada pra mim mesma.
- Gosta de arte? - arregalo os olhos com sua pergunta. Ele não é disso.
- Admiro - respondo com cautela - Mas não é meu forte.
- E qual o seu forte? - Leonard me olha colocando as mãos cruzadas no colo. Engulo seco pensando na resposta com medo que esse momento raro de conversa se intensifique pra algo mais violento. - Um dom talvez.
- O senhor mesmo disse que sou curiosa. - o olho - Acho que me daria bem com jornalismo.
Leonard balança a cabeça voltando olhar pelo vidro do prédio. Faço a mesma coisa e sem pedir sua permissão, cruzo meus braços me levantando e indo até perto do vidro pra poder olhar mais de perto. Fico esperando sua repreensão, mas ela simplesmente não vem. Leonard não demora a fazer o mesmo ficando em pé ao meu lado olhando pra cima.
- Você acha que o céu é o limite? - ele pergunta novamente.
- Dizem que o universo é infinito. Que existem universos infinitos.
- É uma bela suposição.
- O senhor não acredita? - o olho curiosa. Leonard descruza os braços descansando as mãos dentro dos bolsos da calça social.
- Acredito apenas no que vejo. - ele responde.
- O senhor não vê Deus, mas mesmo assim acredita nele. - arrisco dizer me arrependendo no mesmo instante que Leonard me olha. - Quero dizer que não faz mal em não acreditar. - tento contornar minha resposta, mas sinto que a deixei pior do que estava, ou talvez isso o tenha convencido.
Minha curiosidade começa a tinir ao observar Leonard de canto de olho. Fico pensando no que possa tê-lo amargurado tanto ao ponto de ser o que é hoje. Ou se ser mal é apenas sua índole. Será que ele tem uma vida fora dos muros da organização? Mulher, filhos, sobrinhos, cachorro. Sinto-me tentada a perguntar mesmo com medo de morrer depois disso.
- Posso perguntar uma coisa para o senhor? - pergunto vagarosamente. Um minuto se passa até Leonard me olhar novamente e dar um balançar de cabeça permitindo - O senhor.. tem família?
- Por que quer saber? - pronto agora minha morte é certa. Espero que dê tempo de me despedir dos meus pais ou comer meu bolo de 17 anos que está guardado na geladeira desde o dia do meu aniversário que foi na semana passada. Deve até ter estragado.
- É que.. sempre vejo o senhor sozinho. - respondo. Leonard se vira de costas para o vidro encostando-se e mantendo as mãos no bolso. Sua famosa pose autoritária. - Acabei ficando curiosa, não é bom ficar sozinho. Dizem que é perigoso.
Resolvo calar minha boca antes de piorar uma simples pergunta. Leonard já é perigoso por si só, não tem como piorar.
- Eu tinha. - Leonard responde com os olhos fixos em mim.
- Tinha? - viro-me de lado pra ele encostando meu ombro no vidro e ele balança a cabeça em concorde. - O que.. aconteceu com eles?
- O que acontece com todo mundo quando se envolve nesse negócio. - Leonard diz agora com um tom de voz mais calmo. Pelo seu semblante e tom de voz significa que morreram. - Mulher e um casal.
- Gêmeos?
- Não. Tinham alguns anos de diferença.
- Sente falta deles? - pergunto, Leonard abaixa a cabeça e volta me olhar instantes depois.
- Eu trabalho muito. Ficava fora o tempo todo - dá de ombros - Não tive afinidade o bastante pra sentir falta. Não tenho fotos, nem vídeos, nada. Só lembranças que teimam em permanecer. Fazer o que? Sou humano.
- Entendo. - respondo.
- Bom.. - Leonard coça a garganta, se desencosta do vidro e fecha os botões do paletó. - Tire a noite de folga. Tem uns livros de jornalismo na minha biblioteca, pode pegar e levar pra casa se quiser. Se perguntarem, nunca tivemos essa conversa. E espero que não espalhe por ai. Ninguém tem nada haver com minha vida particular. Muito menos aqueles inúteis.
- Sim senhor.
- E Amelie.. - Leonard para de andar e me viro para olhá-lo. Ele permanece intacto no mesmo lugar por uns segundos antes de dizer: - Boa noite.
Flashback
Aquilo que Leonard revelou naquela vez não foi uma completa mentira. Pra ele a ideia de sua família perfeita tinha morrido e no fim tinha mesmo. Começou a morrer na época quando Megan deu Mateo para a adoção. Depois quando achou que as coisas melhorariam veio as decepções com Megan o abandonando grávida e com o nascimento da filha amaldiçoada.
Naquele tempo fiquei pensando em como teria sido a morte da sua família. Agora está mais claro do que nunca.
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SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)
Fanfiction𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐃𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐎𝐁𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓Ã𝐎 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒. 𝐏𝐋Á𝐆𝐈𝐎 É 𝐂𝐑𝐈𝐌𝐄! 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺, 𝗇𝖾𝗌𝗌𝖺 𝗌𝖾𝗀𝗎𝗇𝖽𝖺 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈𝗋𝖺𝖽𝖺, 𝖼𝗈𝗆 𝖺 𝗃𝗎𝗌𝗍𝗂ç𝖺 𝗉𝖾𝗌𝖺𝗇𝖽𝗈 𝖾𝗆 𝗌𝗎𝖺𝗌 𝖼𝗈𝗌𝗍𝖺𝗌, 𝖠𝗆𝖾𝗅𝗂𝖾...