Capitulo 7: Princesa encantada

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O dia no tribunal terminou depois do depoimento da Amberly. O juiz determinou que eu fosse pra casa e pra sair do fórum, foi àquela loucura. Pessoas atirando comida podre, cartazes pedindo minha cabeça, xingamentos, câmeras, jornalistas. Aquela confusão toda.

Quando Amberly e eu chegamos em casa, fomos direto para o banho quente, relaxar os músculos. Nós duas não falamos nada uma para a outra até então, o dia foi tão conturbado que queríamos relaxar em silêncio. Mas isso já está me incomodando.

— Estava angustiada pra te ver – quebro o silêncio enquanto Amberly me encara da porta — Não nos víamos desde ontem.

— Eu sei que assusta. – Amberly me olha.

— O promotor está doido para que o júri me julgue. – cruzo minhas pernas — E acho que ele tá conseguindo.

O silêncio se instala de novo junto com a frustração de saber o que se passa na cabeça da Amberly. Eu queria ter o poder de ler mentes, ou não, não sei. Mas eu queria saber quais são os pensamentos mais profundos das pessoas que me apoiam. Será que no fundo elas me culpam por algo? Peter, será que ele se arrepende de ter me encontrado? Será que Amberly pensa em desistir em algum momento? Será que Daya me considera uma má pessoa?

Só percebo que estou viajando em ilusões quando Amberly sobe de fininho na cama e sorri pra mim.

— A gente não tem um segundo de paz – ela da uma risada baixa e a acompanho — Senti sua falta.

— Eu também – dou um sorriso de canto. — Minha colega de cela não era cheirosa.

— Que azar. – Amberly deita de barriga pra cima. — Deitei com Daya pra ajudá-la a dormir depois do susto. – a olho — Eu fiquei com dó, bem no aniversário dela. – novamente o silêncio se instala até Amberly virar para o meu lado e apoia a cabeça na mão enquanto me encara. — Matt vai conseguir te livrar dessa. – ela brinca com meu cabelo — Vamos ter uma vida normal um dia e essas coisas tem que acontecer antes. Não conseguimos ter tudo o que queremos fácil e rápido.

— Eu sei. – apoio minha cabeça na mão – É o destino. Pelo menos tá funcionando, eu acho.

Amberly se aproxima dando um selinho em mim e ficamos olhando uma pra outra. Nunca pensei que minha primeira relação amorosa seria no meio do vuco vuco. Quando eu era pequena, que Megan contava histórias pra que eu dormisse, ela sempre falava de um príncipe encantado que sempre salvava a princesa dos problemas. Ela disse que isso aconteceria comigo um dia, que eu me apaixonaria tão intensamente que todos os problemas ao meu redor seriam vencidos pelo amor. Quem diria que meu príncipe encantado na verdade é uma princesa. E mesmo que minha história está completamente longe de ser um conto de fadas, Megan estava certa. Quando Amberly está perto, os problemas parecem diminuir. Somos só nós duas.

— Passei por muita coisa e depois disso, minha vida mudou pra melhor. Você vai conseguir também.

— Na verdade já está mudando – digo.

— Quando vencermos o processo podemos ir pra qualquer lugar. – ela diz — Onde você quiser.

— A casa na praia seria uma boa.

— Eu também acho uma ótima ideia. – ela sorri — Já vai se preparando, baby.

Dou risada e um beijo no ombro de Amberly, deitando em seguida. Ela deita mais perto de mim, quase em cima na verdade.

— Descansa um pouco. – ela diz.

— Mas eu não quero. – digo.

— E o que você quer? – a voz de Amberly muda completamente. Ela me encara de modo diferente e com uma intensidade fora do comum que me faz perder a respiração por alguns segundos.

— Não sou eu que estou quase em cima de você.

Dou um selinho nela que demora uns segundos pra processar a minha fala. Amberly coloca o joelho no meio das minhas pernas subindo em cima de mim e logo me beijando desesperadamente. Eu só quero que ela me possua e nada mais importa.

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— Aposto que sua colega de cela não fazia isso – Amberly diz quando deito com a cabeça em seu ombro e dou risada já imaginando a cena estranha e nojenta.

— Eca. -–Abraço a cintura de Amberly, ela deposita um beijo na minha testa e ficamos assim, apenas curtindo uma a outra. — Ei – chamo - Quer jantar comigo?

— Claro. – ela sorri. — Quero ver se vai ser tão bom quanto o primeiro. Já vou escolher o que usar.

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Amberly adormece ao meu lado calmamente agora pela manhã. Fico observando enquanto ela dorme com os cabelos espalhados no colchão, o lençol embaixo do braço e um rosto sereno. Amberly possui várias cicatrizes de todo o tipo, descendo por suas costas e na barriga maiores ainda. Fico imaginando o que teria as causado. Talvez um acidente, ou.. Uma surra. Mas essa última possibilidade corta meu coração.

— Você é tão perfeita. – digo baixo com medo de acordá-la enquanto faço pequenos círculos no seu ombro descoberto. — Onde eu fui te meter? Mas agora eu não consigo te afastar. – as lágrimas começam a descer e me julgo mentalmente por estar sendo fraca emocionalmente.

— Você não se livraria de mim tão rápido – Amberly ri baixo e me olha.

— Você acordou. – dou um sorriso fraco e sem graça me aconchegando mais perto dela.

— O que você estava fazendo?

— Só vendo você dormir.

— Entendi. – Amberly me da um selinho que me faz sorrir.

— Amberly.

– Sim?

Meu plano de dizer o que sentia com Amberly dormindo foi justamente para ela não entender mau o que eu havia dito.

— Você ouviu o que eu disse? – pergunto — Não quero que entenda que quero te afastar.

— Olha tudo bem se não estiver à vontade, se isso for muito pra você eu entendo totalmente – Amberly diz calmamente me encarando.

— Não é muito pra mim. Fico pensando se é muito pra você. Mas não quero me afastar, eu não consigo.

— Nunca vai ser muito pra mim, ok? Eu gosto disso – ambas damos um sorriso de canto e Amberly passa a mão pelo meu braço me fazendo arrepiar. — Pode contar comigo pra tudo, ok? Já te considero da família.

— Meio que isso já quer dizer mesmo – digo rodando a aliança no dedo dela.

— Quando eu te pedir em casamento, sim. – Amberly diz e minha primeira reação é engasgar com minha própria saliva. — O que foi? Não gostou? – ela ri.

— Gostei – acompanho sua risada.

— Nunca cheguei a falar isso pra ninguém.

— Fico feliz em ser a primeira então. – digo, olhando-a.

— Você é especial demais pra mim – Amberly sorri — Não quero que se afaste.

Ouvir isso novamente pela milésima vez vindo de Amberly enche meu coração de alívio e esperança. Não que eu não confie nela, mas ouvi tantas coisas ruins nos últimos anos que eu preciso sempre ouvir novamente pra ter certeza se meus sentimentos não estão sendo vãos.

— Você está se saindo bem. – Amberly mexe no meu cabelo. — Eu não vou me machucar por causa das suas coisas. Se machucar, vai curar. Mas, se você for embora, vai ter uma ferida em mim que não vai se curar tão rápido.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora