Três semanas depois.
Três semanas passaram voando. Na verdade nem parece que passou tudo isso. Depois que o julgamento terminou bem consegui acertar positivamente minha vida.
Claro, ainda continuo procurando um emprego, o que está sendo bem difícil. Como nunca fui numa escola, Peter me dá algumas aulas, mas ele se empolga tanto que quando vejo já estou boiando e ele falando matérias da faculdade. Daya entrou para o grupo de teatro da escola e agora está ensaiando pra uma peça. Ela não ficou muito contente em ser a árvore, mas Amberly a convenceu que esse era um grande passo e que ela devia se esforçar pra conseguir o papel principal sem dificuldade nenhuma na próxima. Isso a animou mesmo que tenha que ficar uma hora sem fazer nenhum movimento.
Depois de irmos à gruta, Amberly e eu decidimos que nada ia ficar no meio de nós duas novamente. Íamos aproveitar e garantir que nada nos atrapalharia. Funcionou. Estamos mais próximas, Amberly sorri mais que o costume mesmo tendo aquelas fases de ficar mais calada, mas em nenhum momento isso interferiu.
Agora estou aqui sentada numa cafeteria tomando um expresso depois de ter recebido vários nãos dos lugares que fui deixar meus currículos. Amberly precisou viajar por alguns dias pra resolver alguns assuntos. Então aqui estou.
- Parece que a manhã não está sendo muito boa. - me viro olhando Matt atrás de mim.
- Oi - dou um sorriso - Como sempre perspicaz. - brinco enquanto ele se senta de frente pra mim.
- Eu dou meu jeito. - ele sorri - Procurando trabalho?
- É. Mais difícil que eu esperava. - coloco minha xícara na mesa olhando-o. - Teve uma noite complicada? - aponto para minha própria bochecha e depois que percebo o que fiz sendo que ele nem viu me chamo de burra internamente - Eu esqueço que você não vê.
- Eu vejo sim. - ele diz rindo.
- Doutor Murdock, você me enganou todo esse tempo?
- Não. Não. - ele dá uma risada baixa e o acompanho - Eu vejo de uma maneira diferente. É como se eu estivesse vendo fogo, o tempo todo. - franzo minha sobrancelha tentando entender. - Eu vejo você, mas ao contrário de como você me vê só enxergo fogo. Em tudo.
- Então, você vê meu rosto, mas isso te atrapalha.
- É isso. - ele dá um sorriso fraco - Como disse, não sou um cego comum.
- Você é o demônio de Hell's Kitchen - afirmo - Leonard sempre teve medo que você viesse atrás de nós como fez com Fisk. Mas o fato de não sabermos quem você realmente era sempre foi um empecilho pra não irmos atrás.
Quando ficamos sabendo que um mascarado de roupa preta acabava ou atrasava os planos de Fisk, Leonard redobrou os cuidados na organização. Até mesmo parou de fazer negócios com Fisk pra preservar as coisas que fazíamos. Leonard nunca teve medo de nada, mas do demônio de Hell's Kitchen ele tinha.
- Você é religiosa? - Matt pergunta.
- Não, o meu pai era. - respondo olhando-o - Mas ele não era muito devoto. Ia à missa de vez em quando e deixava sempre a Bíblia em cima da mesa de cabeceira dele. Eu sempre achei que isso o ajudava a ser um homem bom. - dou um sorriso fraco - Ele dizia que tinha fé então não precisava ir sempre à igreja. Acho que ele foi se confessar algumas vezes. Não sei o que ele tinha pra confessar, papai não falava nem um palavrão.
- Eu sou católico. Meu pai era. - Matt se ajeita na cadeira - O único que sabia do meu segredo era o padre da igreja que eu frequentava.
- Segredo de confissão.
- É. - ele balança a cabeça - Eu ia atrás dos homens que trabalhavam para o Fisk, os espancava até conseguir informações, mas nunca os matava. Sempre me perguntava se Deus aprovaria o bem com isso. - Matt da uma leve risada - Nem sempre a fé nos ajuda a ser uma boa pessoa. Seu pai seria mesmo se não tivesse uma fé. Você não é religiosa e ainda sim é uma pessoa de bem.
- Temos o bem e o mal dentro de nós, não é?
- Escolhemos qual vai se destacar. - ele diz e balanço a cabeça concordando.
- Leonard era bem religioso. Ele ia à missa quase todos os dias, se confessava. - cruzo os braços - Uma vez ele me levou na missa, na verdade me obrigou - Matt dá uma risada fraca. - Eu prestei atenção como todo mundo, mas aí eu entendi o conceito de inferno. Não é um lugar que atormenta as pessoas que pecam, mas ele existe aqui e atormentam as pessoas boas. E eu entendi que Leonard fazia parte dele, que não importava o qual religioso era ele nunca seria uma boa pessoa. Ele não se arrependia de nada do que fazia. Por isso eu nunca me tornei religiosa. Isso não me definiria.
Nunca tinha dito isso a ninguém. Acho importante acreditar em algo maior, mas isso não se encaixava em mim. Nunca se encaixou. Tudo era negro, tudo era incerto pra na minha vida e sempre achei que se tivesse um Deus que se importasse comigo ele nunca permitiria nada daquilo comigo ou com as pessoas que ajudei a prejudicar. Minha vida se tornou tão escura, eu me tornei tão escura que nada disso importa pra mim agora.
- Mel - Matt me tira dos meus pensamentos e o olho - Já pensou em fazer terapia?
- Não, por quê?
- Já pensou no por que você pensa assim? Ou no por que continuou esse assunto? - nego com a cabeça - Mel, você morreu por dentro. Até quem não te conhece sabe disso. Você pode ser bondosa, pode ser amorosa, sorrir o tempo todo por fora, mas e por dentro?
- Eu sou quebrada - apoio meus braços na mesa - Nunca contei isso pra ninguém. Nem pra Amberly, pro Tyler ou até para o Pete. É difícil me abrir com eles.
- E por que você se abriu comigo?
- Porque você não faz parte da minha vida 24h por dia. - digo e ele dá um leve sorriso. - Eu devia superar né? Mas eu não consigo. Toda vez que olho meu reflexo, só vejo os cacos que sobraram, Matt. Eu era mais.. Alegre, sempre fui mais extrovertida. Agora eu só quero me reter. Esconder-me. Viver minha liberdade, mas apenas no meu mundo pra não ser machucada de novo.
- Não tem mal mostrar que você não está bem. - Matt se apoia na mesa também - Você não é obrigada a superar. Ninguém é. Tem coisas que nunca vão ser superadas. Mas deixar de se abrir com alguém só vai te fazer morrer a cada dia. Às vezes, Mel, só ter alguém pra te escutar é o suficiente.
- Você devia ser terapeuta. - dou um sorriso leve e Matt me acompanha. - Eu só.. - olho pras minhas mãos - Tenho medo de me abrir totalmente, sabe? Acharem que estou sendo dramática. Mas não é drama. O que eu contei naquele tribunal, o que vocês sabem, não é nem 50% do que realmente aconteceu. Os sentimentos que eu expus lá, não são nem.. 10% do que eu sinto. Eu tenho medo de sair na rua, todas às vezes. Eu ando na rua olhando pra trás e para os lados achando que algum deles vai me atacar. - aperto minhas mãos as sentindo tremerem.
- Como eu disse - Matt coloca sua mão em cima das minhas - Não faz mau nenhum em demonstrar que não está bem. Ninguém vai te julgar por isso. Só não pare o que já está fazendo. Não pare de sorrir. Às vezes é um bom remédio.
Matt tinha razão. Se abrir com alguém alivia, parece que um peso saiu das minhas costas. Não foi tudo que disse que se passa na minha cabeça, mas só de dizer isso, o mínimo que foi, parece que colocou minha mente no eixo por um tempo.
- Interrompo alguma coisa?
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SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)
Fanfiction𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐃𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐎𝐁𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓Ã𝐎 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒. 𝐏𝐋Á𝐆𝐈𝐎 É 𝐂𝐑𝐈𝐌𝐄! 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺, 𝗇𝖾𝗌𝗌𝖺 𝗌𝖾𝗀𝗎𝗇𝖽𝖺 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈𝗋𝖺𝖽𝖺, 𝖼𝗈𝗆 𝖺 𝗃𝗎𝗌𝗍𝗂ç𝖺 𝗉𝖾𝗌𝖺𝗇𝖽𝗈 𝖾𝗆 𝗌𝗎𝖺𝗌 𝖼𝗈𝗌𝗍𝖺𝗌, 𝖠𝗆𝖾𝗅𝗂𝖾...