Capítulo 30: Aranha e Calibre

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- Na minha casa? - me levanto indo olhar o notebook, vendo o ponto vermelho parado na tela. - Ele sabe que não tem ninguém lá.

Começo a ter um arrepio descomunal que vai do dedinho do pé até a ponta do meu fio de cabelo. Como se não bastasse, parece que meus sentidos começam a tinir. Olho para Peter que retribui o olhar e dá um balançar leve na cabeça.

- Precisamos ir. - digo rapidamente.

- O que? Por quê?

- Tem alguma coisa acontecendo. - Peter responde. - Vem, tenho uma coisa pra você.

Peter me puxa para o banheiro tirando um saco preto com um cabide. Dentro do saco é retirado um uniforme preto com alguns tons cinza e branco. Detalhes de teias de aranha nos antebraços, ombros, pescoço até a barriga terminando com uma faixa até as pernas. E no peito um desenho branco de uma aranha.

- Já que seu antigo uniforme estragou tomei a liberdade de fazer um zero bala pra você. O tecido é flexível - Peter diz e seguro a peça de roupa - É mais confortável que o antigo. E o zíper é menor, nem dá pra ver. E o seu não tinha uma aranha no peito. Agora que sabe tudo sobre seu passado achei que seria bom dar um destaque pra ela. Mesmo não sendo um consolo, querendo ou não, foi ela que te salvou.

- Valeu Pete. - sorrio.

Peter me deixa sozinha. Visto o uniforme com mais facilidade, me sinto até mais leve já que o tecido se movimenta ficando mais folgado do que o antigo. Peter não fez nenhuma máscara, o que sinceramente nem precisa mais.

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- Você ainda tem essas armas? - pergunto ao ver um dos quartos da casa de Tyler cheio de armas de todos os tipos. - Achei que tinha se livrado delas. - sorrio ao ver as belezuras brilhando nos armários.

- Não achei que devia destruir - ele sorri - Pra uma emergência é sempre bom estar prevenido.

Tyler pisca pra mim e nós dois sorrimos um para o outro. Matt disse que devíamos ir preparados já que não sabemos o que vamos encontrar. Talvez Joe seja apenas uma isca pra nos levar para o campo de guerra. Em todos os casos, precaução nunca é demais.

Ainda não consegui me desfazer dos meus cintos táticos de cintura e perna. Mesmo desgastados ainda são meus bens mais preciosos. O que sempre gostei mais do treinamento que aquele lugar infernal fazia era o de tiro. Sempre gostei de armas, e dizia para papai que quando crescesse queria me inscrever naqueles clubes de tiros. Prefiro mil vezes usá-las a meus poderes em si. Só o uso em caso das armas falharem.

Abro a gaveta do armário debaixo vendo as pistolas que fazem meus olhos brilharem. Vou passando a mão em todas elas até parar na minha preferida, a Taurus 840. Foi à primeira arma que Mateo me ensinou a usar. Calibre 40 e um cartucho com 17 tiros. Pouco comparado a algumas que permitem 36 tiros. Por isso sempre levo vários cartuchos e aprendi a trocar em dois segundos.

Deixo a pistola no meu coldre já pegando também as munições e escolho uma reserva, a Sig Sauer de nove milímetros, semi automática, pra ficar no coldre da minha perna. Por mais precaução um rifle de precisão é sempre bem vindo. Sendo assim, pego um Defense Delta 5 PRO.

- Acho que você não está mais com medo. - a voz de Matt surge atrás de mim. É a primeira vez que o vejo usar o seu uniforme.

- Tirou ele do armário?

- Queria ver se ainda servia. - ele sorri. - Parece que sim. - Matt gira a máscara nas mãos e me olha.

- Eu não estou com medo. - respondo sua primeira afirmação enquanto me apoio na mesa. - To com raiva. - respiro fundo, Matt se apoia do meu lado - Se eles estão usando o Joe como isca, vão pagar por isso. Todos eles.

- Alguma coisa ai dentro me diz que isso pode mudar.

- Não faria tudo por alguém que ama?

- Faria. - ele balança a cabeça - Isso vai de matar a todos ou me entregar. Já fiz várias vezes. Tem hora que não vemos saída. Essas pessoas podem não ter poder nenhum. Mesmo assim são poderosas. Wilson Fisk, Leonard, poder nenhum, mas sua influência, seu dom pra maldade torna tudo mais difícil. Por mais que você luta, eles sempre vão te vencer até você conseguir achar um ponto fraco.

- Tá dizendo que vamos perder agora?

- Não, agora provavelmente vamos achar meia dúzia de homens. - ele dá uma risada leve e o acompanho - Mas isso não quer dizer que vai acabar. Como me disse uma vez, está lutando com fantasmas. E quando se luta com fantasmas é mais demorado pra vitória chegar.

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- Então, qual sua ordem? - Tyler pergunta fazendo Peter e Matt me olharem.

Nunca fui de dar ordens nas missões, sempre recebia e executava bem meu trabalho. Bom, quase bem. Sempre tentava burlar alguma coisa e no final recebia minha punição.

- Vamos atrás do Joe. Já que você não mata, Pete, então deixe um vivo. - Peter balança a cabeça - Quero tirar informações pra chegar no líder.

- Coloquem o comunicador - Tyler entrega um pra cada - Não sabemos o que esperar, então vai estar sempre ligado.

- Quero um deles vivo, não esqueçam disso. - repito. - De resto, vamos matar os filhos da puta.

O rastreador de Joe mudou de lugar. Por algum motivo ele foi para uma área não residencial. Na verdade praticamente dentro da floresta num lugar que nunca vi antes. Segundo Peter, apenas alguns containers velhos que usam para guardar coisas.

Terminado de pegar tudo o que precisamos, inclusive a porra da coragem, saímos da casa de Tyler em duplas. Tyler ficará como sniper. Tiro a longa distância é com ele mesmo. Matt cuidará do perimetro mais próximo agindo como sempre agiu: nas sombras. Peter e eu faríamos a aproximação mais direta.

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Tyler já se posicionou em cima de uma pedra mais no alto da floresta e Matt está nas redondezas. Por incrível que pareça não há nada aqui a não ser arvores e containers. Nenhum sinal de pessoas ou animais. O espaço é totalmente cru, deserto.

- Não era pra ter vários caras armados agora? - Peter pergunta baixo enquanto andamos a postos.

Fico com minha arma em mãos andando, olhando tudo ao redor, pronta pra dar o primeiro tiro em quem se aproximar de nós. Tyler comunica que não vê ninguém ao redor dos containers, o que aumenta mais ainda minha suspeita. Mateo sempre teve estratégias de guerras, nem todas davam certo, o que implicava ele ser repreendido.

- Dois containers a frente. - Matt diz.

- O vermelho? - Peter pergunta e mordo meu lábio para não rir.

- Eu lá vou saber a cor do container, Peter? - Matt reclama.

Avançamos com cautela para perto do container vermelho. Meus sentidos começaram a ficar alvoraçados. Peter me olha indicando a mesma coisa. O container está com a porta encostada. Algumas gotas vermelhas espalhadas na grama chamam minha atenção. Dou um toque em Peter apontando para o sangue no chão, pode ser de qualquer pessoa ou até mesmo de um animal. Nas florestas de Nova York costumam ter alguns ursos e outros tipos de animais, grandes ou pequenos, perigosos ou inofensivos. Armadilha de urso é o que não falta aqui.

Com cuidado, Peter fica a minha frente segurando a alça de ferro da porta do container. Dou um sinal positivo a ele para que abra e assim o faz. A imagem que vejo me desestabiliza fazendo minhas pernas fraquejarem e minhas mãos soarem ao ponto de ficar difícil segurar a arma.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora