Capítulo 15: Satisfeitos?

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Amberly tinha razão, os pesadelos fazem a gente pensar neles o tempo todo. Tentei me distrair com a audiência, mas sempre que via os rostos das pessoas, tudo vinha à tona novamente. Dessa vez ouvimos o depoimento de duas pessoas que foram vitimas do Leonard. A senhora Winchester, contava tudo, indignada de estarem me defendendo. O tempo todo ela se dirigia a Matt e Peter, mas sempre com os olhos em cima de mim mostrando seu nojo no tom de voz. Já o senhor Louis Van Pelt contou, mas me agradeceu no fim por salvar a vida da filha dele.


FLASHBACK

- Você está bem?

Mateo e eu acabamos de trocar tiros dentro da casa de Louis Van Pelt, um empresário do ramo de artigos pra pesca mais famoso de Nova York. Íamos raptar a filha dele, Maya, mas como sempre acabei amarelando e tentando impedir. O resultado, um tiro na coxa esquerda e Maya desmaiada por ter batido a cabeça.

- Ela não acorda. - Louis segura à menina no colo como se fosse uma boneca de pano.

- Tem carro, não é? - pergunto e Louis concorda com um balançar de cabeça. Pego a pequena Maya nos braços com medo até de machucá-la de tão leve que está. - Dirige para o hospital.

Vamos como que num passe de mágica para o hospital. Nunca vi um pai tão desesperado como Louis dirigindo como um louco pelas ruas movimentadas de Nova York. Parecia que íamos bater em alguém a qualquer momento. Uma enfermeira levou Maya para um quarto, o que é minha deixa pra sair daqui mesmo eles querendo dar pontos na minha perna, o hospital não é um dos melhores lugares pra que eu fique.

- Como posso te agradecer?

- Não agradeça - dou um sorriso fraco - Cuida da Maya, talvez ela fique traumatizada um tempo, é normal. Mas não a deixe perder a infância por isso.

- Pode deixar.

FLASHBACK

- Eu segui o conselho que a senhorita Parker deu aquele dia. - Louis diz - E hoje a Maya aproveita cada etapa da vida dela. E ela também admira a senhorita. Teriam levado se não fosse por essa menina.

- O senhor está falando por si, mas as outras crianças não tiveram a mesma sorte. - Guimarães atesta, deixando Louis sem saber o que dizer por um tempo.

- Eu não sei o que aconteceu na casa de cada um aqui. Mas eu acho que se pudesse, a senhorita Parker levaria um tiro por eles do mesmo jeito. - Louis respira fundo - Doutor eu só vim pra dar o depoimento do que aconteceu comigo e com minha filha, não me coloque numa saia justa, por favor. Até porque não sabemos o que ela passou depois que impediu. Já perguntou pra ela?

Não, ninguém sabia. Apenas uma pessoa nessa sala sabe e juro que pelo canto de olho vi Tyler passar a mão nos braços.

- O senhor está certo, senhor Van Pelt - Matt se levanta e Guimarães trava o maxilar - Então por que não perguntamos?

- Acho justo. - Louis responde.

O juiz aceita com um balançar de cabeça. Eu sempre via julgamentos em filmes e séries. Era apaixonada por Lei&Ordem, gostava da forma que os promotores interrogavam as testemunhas e o réu. Mas nunca vi uma audiência tão dinâmica como essa. Acho que a gentileza do juiz Kellerman ajuda porque acho que estaria ferrada senão fosse ele. Ou se fosse invertido: Kellerman promotor, Guimarães juiz.

- Depois que você saiu do hospital e teve que voltar o que aconteceu com a senhorita? - Matt pergunta quando me sento no lugar de Louis.

Acho que essa é uma pergunta que até Matt tem curiosidade. Mesmo seus olhos estando atrás dos óculos é fácil ver a súplica neles como se dissesse: "Por favor, que seja uma coisa macabra pra esse promotor imbecil calar essa boca".

- Eu parei num prédio mais afastado por causa da perna e---

- Ficou difícil balançar na teia com o tiro? - Matt me interrompe com um ar brincalhão pra descontrair e sorrio.

- Com certeza - respondo no mesmo tom - Parecia que tinha um elefante me puxando pra baixo. Mas é ficou difícil. Eu só não sabia que Mateo estava me vigiando desde a hora que estávamos indo para o hospital. Um dos atiradores deu um tiro nas minhas costas e eu cai do prédio igual uma boneca, mas eu consegui me segurar numa parede. Depois Mateo veio por baixo e deu outro tiro na minha mão pra que eu descesse de vez. Quando a minha adrenalina sobe meu sentido falha. Não como o do Peter que ele percebe coisas a quilômetros de distância, o meu é mais fraco.

- Caiu?

- Sim. - mordo meu lábio - Mas não foi pra matar, o tiro era só pra machucar mesmo. Quando eu estava tentando levantar o primeiro chute na barriga veio. Mateo nem se importou se tinha pessoas passando na rua. Ele ficava toda hora dizendo que eu estava pedindo pra morrer, me segurou pelo pescoço, me levantou na parede e deu vários socos na minha barriga e depois me jogou no chão de novo. Depois eu só senti uma pisada forte na coluna e senti alguns ossos trincando. Eu gritei tão alto que Mateo parou - digo dando uma risada nervosa - Acho que ficou tão atordoado com meu grito que ele só foi voltar a me chutar e socar de novo acho que.. Uns dois minutos depois. Mas quando voltou, descontou a raiva de todo jeito possível. Eram socos, chutes, às vezes a cabeça sendo batida na parede, até uma barra fina de ferro ele achou e enfiou na mesma coxa que estava machucada com o tiro.

- Ninguém ajudou ou chamou a polícia?

- Uma viatura da polícia passou um pouco antes de eu começar a perder um pouco da consciência. Mas não fizeram nada. Na verdade pararam uns segundos e ficaram assistindo antes de irem embora. Quando parei de me mexer ou gemer de dor, Mateo assimilou que eu estava morrendo e que se continuasse, iria morrer e não era isso que ele queria, então parou e me deixou no chão. A única coisa que eu consegui ouvir foi quando Tyler chegou e mandou Mateo embora. Tyler nem pensou duas vezes. Ele me pegou no colo e saiu correndo comigo de lá.

- E depois?

- Eu desmaiei e quando acordei de novo, duas semanas depois, estava numa clinica em Nova Jersey. O hospital não quis me atender, mas Tyler roubou um helicóptero e me levou pra lá. Fiquei sem movimentos nas pernas durante um tempo, acho que um mês ou dois, então Tyler pagou uma fisioterapeuta da clinica pra mim e eu voltei a andar. Tive que receber transfusões de sangue e fazer várias cirurgias na perna. - faço uma pausa - Tyler disse que dormiu comigo todas as noites e ficava acordando a cada vinte minutos pra ver se eu ainda estava respirando, já que precisei ficar entubada por alguns dias. Então, depois que tive que voltar, eu precisei parar um pouco de tentar impedir os sequestros. Fiquei debilitada, sentia dor a cada passo que dava, mas eu precisava mostrar que estava bem ou isso podia acontecer de novo. E eu não ia aguentar, meus pulmões foram comprometidos por causa de uma costela quebrada que o perfurou. Se algo como isso acontecesse de novo e eu não morresse, mas perdesse de vez os movimentos das pernas ai sim eu seria morta. Era torturada normalmente, mas não era tão grave como isso.

- Satisfeito, doutor Guimarães? - Matt se vira para ele.

Foi uma das poucas vezes que vi o promotor ficar quieto no lugar dele sem estar com o semblante autoritário. Joe me olhava com a testa franzida. Lembro-me que nessa época, ele achou que eu estivesse me distanciando de Daya e abandonando todo aquele lugar por achar que era muita responsabilidade ou que talvez aquilo não fosse pra mim. Ele brigou tanto comigo no dia que apareci de novo no abrigo, que achei que não teria mais seu apoio ou que me obrigasse a ficar longe da Daya de vez. Mas não, Joe só ficou sem falar comigo por duas semanas. Tive que comprar um bolo pra chantageá-lo a falar comigo, mas sei que ele ainda tinha dúvidas com respeito a isso.

Nunca contei a ninguém o que aconteceu. Nem para os meus pais. Pra eles, eu tinha ficado longe por causa do trabalho ou que havia fugido pra não acabar morta. Talvez tenha sido burrice voltar, admito. Mas como cuidaria da minha filha estando longe? Além do mais, Daya já havia se acostumado com a titia aqui, e ela sempre odiava quando eu não aparecia com os presentes.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora