Capítulo 32: Quebra

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As palavras de Guimarães foram o ponto final para começarem a nos atacar. Três dos homens saem correndo para ir atrás de Tyler e Matt, mas é certeza que não são apenas eles já que Tyler começou atirar com mais proximidade.

Os que ficaram, junto de Guimarães e Mateo, começam a atirar contra mim e Peter. Fazemos o possível pra desviar dos tiros e atirar contra eles também, mas algo me chama a atenção. A rapidez que eles fogem das balas é quase sobre-humana.

Peter joga algumas caixas de suprimentos que achou no container contra um deles. O homem perde a mira e Peter o prende na árvore com a teia impedindo-o de se mexer.

Enquanto Peter luta com mais dois homens, fico com Mateo, Guimarães e o outro cara que sobrou. Vou pra cima do moreno que atira na perna de Peter que resmunga de dor, mas não para de lutar nenhuma vez.

Meu primo e eu sempre pensamos as coisas juntos. Senão sempre, às vezes. Jogamos teia na arma dos caras puxando-as para cima pra ficarem presas na árvore. A adrenalina que corre nas minhas veias é surreal. O que mais quero agora é ir até o fim, liberar toda essa energia dentro de mim. Com o passar dos meses aprendi a controlar a energia que Leonard me deu. Não me descontrolo mais com ela e a uso para meu benefício. Consigo canalizar energia nas minhas teias o que me auxilia muito.

Achava que Mateo e Guimarães estivessem participando da luta, mas estão apenas observando. Como se estivessem avaliando nossa luta. O que não demora muito, pois ao ver a má luta dos homens, Mateo atira contra nós dois. Desviando, puxo o braço dele com a teia e o jogo na lateral de um container, fazendo-o gemer de dor.

Enquanto me concentro em Mateo, descontando toda minha raiva guardada a anos, Guimarães vai pra cima de Peter atirando e lutando com ele. Não presto muita atenção, quero apenas ver Mateo se contorcer de dor enquanto o espanco cada vez mais, vendo sangue sair de cada corte feito em seu rosto. Mas não irei mata-lo. Não ainda. Sei de outra pessoa que teria prazer em fazer isso no meu lugar.

Outro homem aparece do meio das árvores, correndo direto para o container onde Joe ficou deitado. Desfiro outro soco em Mateo fazendo-o ficar desacordado e corro em direção ao container.

- Ei!

Minha raiva triplica ao ver o homem chutar a barriga aberta de Joe como se ele fosse um lixo. Sem pensar muito atiro na cabeça do indivíduo fazendo com que ele caia ao lado de Joe.

- Precisamos tirar ele daqui, agora. - digo para Peter que entra no container - Não vamos esperar a ambulância mais.

- Ok, vamos. - Peter ajuda Joe a se sentar. Joe apoia ambos os braços nos meus ombros e nos de Peter. - No três. - balanço minha cabeça concordando - Um, dois, três..

Devido ao estado de Joe, quase que inconsciente, parece que seu corpo ganhou trinta quilos a mais que o normal. Fazemos uma força enorme e Joe grita com o esforço. Com a ajuda de sua teia, Peter pega a granada do bolso do soldado morto pra explodir o container.

- Mel, me escuta.. - Joe me chama.

- Eu vou te levar pra um hospital. - digo. Peter e eu andamos vagarosamente com Joe até a porta.

- Mel, me escuta. Para! - olho Joe com os olhos arregalados. Não sei de onde ele tirou tanta força pra conseguir falar alto. Peter balança a cabeça, encostamos Joe na parede do container o ajudando a se apoiar. - Me deixa aqui. Eu só vou atrapalhar assim.

- Não.

- Amelie, você não está raciocinando. Eu quero que me deixe aqui. E vão embora.

- Eu não vou deixar você aqui, Joe. - passo nervosamente a mão no cabelo - Vamos te levar pra um hospital e lá você vai ser tratado.

- Amelie..

- Não tenta me convencer! - digo um pouco mais alto. - Eu já perdi o meu pai, e eu não vou te perder também. Não vou esperar mais a droga da ambulância.

- Mel, olha pra mim. - Joe diz e cruzo meus braços - Nem o hospital vai conseguir me salvar. Eu não sei como ainda tô vivo, mas não vai adiantar mais. Não tem o que fazer e você sabe disso. - sinto as lágrimas se formarem e queimarem meu rosto, balanço minha cabeça tentando segura-las no lugar e mordo meu lábio pra evitar que um soluço preso saia. - Eu não vou atrapalhar vocês. Precisam achar um jeito de se manterem vivos e matar aqueles filhos da puta. Não se preocupe comigo. Por favor.

- Mel.. - Peter chega mais perto sussurrando praticamente - Escuta ele.

Essas palavras me quebraram por dentro. Achava que um dia me tornaria de ferro, que nada mais me abalasse, que todas as coisas que aconteceram fossem um ponto de escalada pra nunca me deixar entrar em desespero de novo. Estava completamente enganada.

A dúvida rodeia minha cabeça entre deixar Joe aqui e levá-lo a força. Sempre foi meu segundo pai e não posso perde-lo também. Sinto que vou acabar me sufocando, porque sei que a culpa vai corroer todos os dias da minha vida por não consegui ajudá-lo da mesma forma que não ajudei meu pai.

Queria respondê-lo a altura, xingá-lo e gritar com todas as minhas forças que nada me faria largá-lo para trás, mas somos interrompidos com um homem entrando no container. Um homem enorme na verdade com seus dois metros e pouco. A força com que agarra Peter e eu é brutal. Batemos incansavelmente nele, mas é como se estivéssemos batendo em pedra. O cara nem ao menos se mexe.

- Mel, Peter, estão ouvindo? - Matt nos chama.

Tento responder, mas sinto o ar começar a faltar nos meus pulmões com o aperto em meu pescoço. Peter arregala os olhos quando me debato para tentar me soltar e sem pensar duas vezes, pega minha arma com a teia e acerta o primeiro tiro no abdômen do homem. Que agora nos joga pra fora do container.

Uma crise de tosse começa a surgir na minha garganta e puxo o ar passando a mão onde estava o aperto.

- Cadê a granada? - Peter pergunta e olho para sua mão vazia.

Ouço o pino da granada sendo puxada e quando nos viramos o homem está se recompondo e Joe atrás dele, sentado no chão com a granada na mão enquanto me olha. O ar que antes entrou aos poucos no meu pulmão novamente começou a exceder e as lágrimas queimarem meus olhos como fogo. Me levanto tão rápido e tento correr até lá, mas Peter me agarra. De repente tudo desmoronou de novo, me debato várias vezes nos braços dele e só escutamos a explosão quando Peter se esconde comigo atrás de outro container.

Senti o chão sumir dos meus pés. E como se o cansaço me tomasse, solto meu peso nos braços de Peter enquanto ele me abraça por trás pra me impedir de levantar. Mas toda a adrenalina volta e ao invés de me levantar ou me debater, choro descontroladamente chamando por Joe na esperança que ele ainda ouça.

- Calma, calma - Peter fala no meu ouvido e percebo que sua voz está chorosa.

Calma é o que mais preciso agora, mas não dá. Meu corpo está tremendo da cabeça aos pés e minha garganta soltando soluços sôfregos. Além do mais, senti como se minha pressão houvesse despencado. Nem percebo a hora que Tyler e Matt chegam até nós com os rostos machucados e cansados.

- Ajuda aqui.

Tyler me segura pelos braços ajudando com que eu fique de pé e antes de dizer qualquer coisa um carro chega e de dentro saem cinco homens.

- Precisamos sair daqui. - Peter diz.

- Vamos nos separar. - Matt diz pensativo - Peter e eu vamos por ali - ele aponta para a direita. - Tyler, você fica com a Mel e vão pra outra direção.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora