Capitulo 22: Cachoeira e sorrisos

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Depois que voltei pra casa encontrei Amberly encostada na bancada da cozinha mexendo no celular. Assim que coloquei os pés pra dentro senti aquele ar esquisito que ainda pairava. O ar do desconforto e desanimo.

Não sou uma pessoa de ficar parada, quieta. Principalmente depois que me livrei de Leonard. Então, esse ar me incomoda mais do que o normal.

- Quer fazer o que? - pergunto a Amberly.

- Pra mim, qualquer coisa.

Amberly responde e tenho vontade de pular em seu pescoço e esganá-la, já que sou sempre eu que tenho que pensar no que fazer pra não ficarmos estagnadas em casa.

Respiro fundo e me lembro de um lugar que ouvi falar uma vez. É uma gruta de água vulcanizada. Por causa disso, o lugar é quente, costuma ter neblina e a água morna é medicinal.

Mas mesmo que chegamos lá, nem a melhor paisagem possível foi capaz de mudar o clima. Dessa vez quem perdeu a vontade de fazer tudo fui eu. Apenas tiro meus sapatos, minha camiseta e entro na água sentindo o morno relaxar meus músculos.

A água se movimenta com Amberly entrando logo depois com sua expressão neutra. Enquanto ela boia fico olhando um ponto fixo na água, vendo meu reflexo cortado pela luz que entra pela entrada da caverna.

Flashback

- Você é muito mole, garota. - Mateo grita depois que pula na água pra procurarmos a arma que tive que jogar depois de matar o vice-prefeito.

- Eu não sei nadar, Mateo. - cruzo os braços - Vai você. Eu fico aqui.

- Você matou então vai me ajudar a procurar. - Mateo estende a mão - Anda logo, garota. Eu te ajudo.

Nunca tive motivos pra confiar no cara que apenas me machucou todo esse tempo. Mas se eu fiz a cagada preciso tentar o menos consertar. O meu alvo era a mulher do vice-prefeito que havia desviado milhares de dólares da organização, mas o imbecil do marido entrou na frente na hora errada.

- Tá bom. - respiro fundo e seguro a mão de Mateo que por um milagre divino me deixa entrar na água devagar sem puxar.

Flashback

- Temos que falar sobre sua mãe. - Amberly puxa assunto me tirando do devaneio. - O que vai fazer quando ela vir atrás de você? Tudo isso é muito estranho.

- Eu sei - respondo a olhando - E não sei.

- Não sei se é porque eu não tenho mãe que tenho esse sentimento ruim. Pode ser que eu esteja falando merda.

- Podemos não falar disso agora? - digo, tentando manter a calma - Ficamos distantes depois daquilo. Se for pra sempre ser assim.. - respiro fundo.

Nesse momento sinto alguma coisa dentro de mim batalhando pra tentar me manter firme num relacionamento que sempre enfraquece depois que minha própria mãe aparece. Não era pra ser assim. Eu não quero que seja assim.

- Eu não tenho muitos amigos. - Amberly diz - Acabo não tendo muito assunto. Decepcionei você com isso. Eu sei que sou entediante.

- Somos duas então.

Se Amberly se acha entediante, eu me sinto assim também e talvez mais ainda. Talvez seja por isso que ela sempre está fechada ou nunca tem ideia do que fazermos. Talvez eu não seja uma companhia muito boa. Não sei.

- Você sempre tá fazendo algo. - Amberly me olha.

- Não gosto de ficar parada - dou de ombros - Me incomoda. Só quero aproveitar minha liberdade.

- Você merece, sério.

- Não sei o que pode acontecer mais pra frente. - dou um sorriso leve - Então só quero aproveitar agora. Devia aproveitar também. Você só fica com a cara amarrada o dia todo. - espirro algumas gotas de água no rosto de Amberly e ela dá uma risada fraca - Tipo quase todos os dias.

- Tá dizendo que eu sou muito séria, Amelie Parker?

- Estou VanCite. - digo - Tipo seis dias na semana.

Assim que digo isso, Amberly me pega no colo tão rápido e quando percebo estamos em cima da cachoeira.

- Vai ver quem vai estar séria agora.

Sou arremessada cachoeira abaixo até cair como uma bomba dentro da água. Pra ajudar cai de barriga fazendo arder tudo. Volto para cima nadando dando de cara com Amberly gargalhando.

- Palhaça. - digo, séria.

- Viu? Agora você que está com cara de cú. - ela diz e dou risada passando a mão no rosto pra tirar o excesso de água.

- Primeiramente, eu nunca falei cara de cú. Segundo, foi só agora que fiquei séria. - mostro a língua pra ela, que cruza os braços e ri. - Pelo menos consegui um sorriso seu. Devia sorrir mais. Fica mais bonita quando sorri.

- Tá bom, eu vou sorrir.

- Melhor - olho pra Amberly dando uma piscada pra ela.

- Mas foi legal. - Amberly sorri virando o rosto pra esconder, coloco o dedo embaixo do queixo dela virando-a pra mim. - É uma mania chata que eu adquiri com o tempo. - Amberly segura minha mão.

- Eu gosto dessa.. Mania chata. - dou um sorriso fraco - É um.. Charme.

- Achava que você odiava.

- Não - mordo meu lábio negando com a cabeça - Incomoda e me deixa preocupada. Sempre acho que estou fazendo algo errado. Mas não. Não odeio.

- Não é culpa sua. É só um problema meu. - Amberly diz - Você não tá fazendo nada de errado, ok? - balanço minha cabeça concordando e Amberly sorri. Na verdade um sorriso diferente dos outros. Me transmitindo segurança. Segurança que tudo está bem, que ela está se sentindo bem comigo. - Obrigada por me trazer aqui - passo o braço envolta do pescoço dela.

- Obrigada por vir comigo - digo olhando-a nos olhos. - Se recusasse íamos ter um sério problema.

- Então me lembre de nunca recusar.

Amberly beija minha bochecha, a levanto pela cintura e ela prende as pernas envolta da minha cintura. Sem perder muito tempo, selo nossos lábios num beijo calmo, enquanto ela segura meu pescoço. Várias coisas passam na minha cabeça nesse momento. Coisas que nem deveriam, mas passam. Simplesmente as ignoro, só querendo curtir o momento. Minha vida é ótima em mudar de rumo. Mas esse que ela tomou eu não tenho o que reclamar.

- Eu te amo muito. - digo olhando-a - Sério.

- Eu também te amo. - Amberly me dá um selinho e sorri - Mesmo que talvez não pareça.

Não sei quanto tempo ficamos assim, trocando caricias uma com a outra, mas está tão bom que queria que o dia continuasse pra sempre assim. Sem preocupações ou sem alguém nos interrompendo. Era só isso que nós duas precisávamos, já que todas às vezes alguma coisa acontece.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora