Capítulo 16: Ameaças

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- Senhorita Parker, tem um minuto?

A audiência havia se encerrado nesse dia e me distanciei de Amberly pra beber um pouco de água antes de voltarmos para o abrigo. Só não imaginava que Guimarães me observava no começo da sala onde fica o bebedouro.

Mesmo estranhando o fato de Guimarães fechar a porta antes de se aproximar com as mãos dentro do bolso, tento ficar o mais calma possível e rezando pra sei lá quem pra me dar paciência pra não dar um soco no rosto dele caso faça alguma gracinha.

- Estou disposto a fazer um acordo com a senhorita. - ele diz - Em troca, eu peço para o júri aliviar a sentença. - Guimarães me olha esperando uma resposta, mas como não dou, ele resolve continuar. - Por mais que sua história seja comovente, verídica ou não --

- Verídica ou não? - o interrompo. - Acha que eu inventei tudo aquilo?

- Pessoas como você são ótimas mentirosas. E eu tenho que admitir, você mente bem.

- E que tipo de pessoa eu sou, doutor? - cruzo meus braços.

- Amelie, um dos trabalhos que fazia era aplicar golpes em mafiosos e políticos. Então, me diz você o tipo de pessoa que é.

- Vocês têm aqueles detectores de mentiras. - digo - Se acha que estou tentando aplicar um golpe pra livrar minha carcaça da cadeira elétrica, então o use em mim. Eu não quero nenhum acordo, não vou cair na chantagem de ninguém. Muito menos da justiça. E sinceramente, não faço ideia do que você quer oferecer a mim. Liberdade? Estou tentando conseguir com a verdade.

- Verdade? Só você garante isso. - ele diz com um ar de riso - Seus amigos.. Ninguém garante que você não os esteja chantageando. Eu sei que estar aqui nesse tribunal é uma tortura pra você, Amelie. Acabaria logo com isso. É só deixar a menina à responsabilidade do Conselho Tutelar e tem sua liberdade. - arregalo meus olhos com sua ultima frase. - Não tem índole nenhuma pra cuidar daquela menina. Uma criança precisa de um lar e uma mãe saudáveis, não de uma condenada.

- Então esse era o acordo? - pergunto indignada - Minha filha em troca da minha liberdade? - dou uma risada nervosa ainda olhando para a cara patética do homem - Me poupe. A resposta é não. - me viro para ir até a porta.

- Já se perguntou como Daya se sente? - sua pergunta me faz travar no meio do caminho - Uma mãe assassina que está prestes a ir pra uma cadeira elétrica. Você fez coisas ruins como acha que Daya te enxerga? Estupro? Sério, Amelie. Por que não admite logo que era uma prostituta? - me viro para encará-lo sentindo meu sangue subir - Não tem mau nenhum nisso. Se soubesse de você antes até eu pagaria pelos seus serviços. Pena que eu cheguei tarde - não penso duas vezes pra dar um tapa no rosto de Guimarães. O ódio foi tanto que meus dedos marcaram sua bochecha. - Não devia ter feito isso. - ele passa a mão na bochecha dando risada.

Já a beira de perder o resto do meu controle, agarro Guimarães pelo colarinho do seu terno empurrando-o contra a parede. Tudo começa a fazer sentido. Sua ignorância com tudo, sua falta de senso quando Matt disse sobre Mateo ter me sequestrado, seu acordo idiota. Seria fácil pra Mateo se Daya fosse para o Conselho Tutelar. Guimarães é um pau mandado de Leonard. Um ótimo mentiroso por sinal.

- Vai fazer o que, Amelie? Me matar em pleno fórum? Espero que tenha outra ideia melhor já que tem câmeras aqui.

- Tá blefando. - bato suas costas contra a parede.

- Não estou. Elas veem, mas não ouvem. - ele aponta para o ouvido - Se quiser desmentir tudo depois, não vai funcionar. Quem está vendo isso agora acha apenas que está me agredindo. E eu vou confirmar, já que não fazem ideia das coisas que eu disse.

- Pra quem vocês tão trabalhando?

- Ah minha querida, Leonard morreu, mas a organização não parou. Você acha o que? Que se livraria da gente tão fácil assim? - uma das mãos de Guimarães agarra minha cintura e por instinto me afasto bruscamente. Dois guardas aparecem na sala, mas Guimarães os dispensa apenas com um sinal. Claro, os guardas também - A organização é grande, temos filiais no mundo todo. Nosso novo chefe pode ser mais brutal que Leonard. - Guimarães anda envolta de mim como um predador. - Você nunca terá paz. Nunca saberá o que é viver uma vida feliz. Estamos te observando, cada passo que você dá. Acha mesmo que a lista que Tyler deu servirá de alguma coisa? Está enganada. Você é nossa, sempre foi. Tyler é dispensável agora, mas você.. - Guimarães percorre meu quadril com os dedos - Nunca saberá o que é liberdade. Pode ser uma sobrevivente, mas nunca saberá o que é viver sem ter medo.

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As palavras de Guimarães, todas as ameaças, não saíram da minha cabeça nenhum instante. Toda aquela esperança que eu estava tentando nutrir foi peneirada e está em migalhas. Pra ajudar, ele ainda ameaçou que se eu contasse a alguém tudo o que aconteceu naquela sala, Daya seria morta. Então terei que aguentar isso sozinha no meu mundinho.

Questões sobre a organização não param de chegar à minha mente como se fosse um quadro em branco sendo preenchido. Mateo não teria capacidade para comandar aquele circo. Sua autoridade é limitada, existem mais pessoas poderosas dentro daquele lugar. Mas quem ao ponto de tomar o lugar mais alto?

Mesmo voltando para o abrigo, não consegui relaxar nenhum minuto. Estou há quase uma hora embaixo do chuveiro tentando aliviar meu medo e tensão com água quente. Não compartilhei nada com Amberly, nem com ninguém. Estou deixando fluir, mesmo sabendo que talvez não aguente por muito tempo. As coisas estão esquentando e eu não sei como me preparar pra isso.

Na noite passada, Amberly e eu decidimos que iríamos para minha antiga casa por um tempo. Tem mais pessoas que precisam de lugar pra dormir e vamos ceder o lugar pra elas. Além do mais, principalmente agora, não seria seguro para as crianças que ficássemos aqui. Joe organizou uma pequena festinha no pátio com a ajuda das crianças, mas não estou com muita vontade de aparecer. Mesmo assim, saio do chuveiro vestindo uma roupa mais velha e ficando no canto do pátio sem que eles me vejam. Só quero observar, sem conversar com ninguém. Mesmo tendo certeza que isso vai ser impossível.

Meus olhos correm pelo pátio onde estão Amberly e Daya. Mas não passei despercebida por muito tempo, Amberly já notou minha presença, dispensando Daya e sentando-se do meu lado. Amby é boa observadora, sabe quando tem algo acontecendo, mesmo que eu quiser esconder por muito tempo, não conseguirei. Ainda sim, tenho medo de dizer tudo pra ela e eles descobrirem. Não sei como eles nos observam, se alguém infiltrado ou à distância, mas não posso correr o risco ainda de falar tudo. E uma das qualidades da Amberly é entender quando não acho que seja a hora de me abrir. Ainda sim, não posso omitir tudo dela. Não seria justo.

- A única coisa que eu posso dizer no momento é que a organização do Leonard ainda tá de pé a todo vapor - digo enquanto olhamos Daya brincando com as outras crianças - E isso me assusta.

- Mateo?

- Não acho que seja ele. - respondo pensativa - Mas não sei quem possa ser.

- Parece que tudo vai por água abaixo. - Amberly diz. - Leonard morreu, não tem como aquilo voltar. Estão indo atrás de você?

- Eles nunca vão parar. - abraço meus braços já imaginando mil coisas que eles podem fazer. - Eu queria muito poder te contar tudo, mas não posso ainda. Não até ter certeza que estamos seguras.

-Desde que uma hora me conte.

- Eu vou, prometo. - olho pra Amberly - Só quero te pedir, que não importa o que aconteça, não deixe a Daya sozinha. Se não com você, com o Peter.

- Sabe que eu nunca a abandonaria assim.

- Não é por isso. É só medo de virem atrás dela também. - digo.

- Ela vai estar segura, Mel. - Amberly me garante.

Mesmo não me abrindo totalmente com tudo que se passa na minha cabeça, apenas de saber que Amberly vai cumprir sua promessa com respeito à Daya, aquelas migalhas de esperança começam a se unir dentro de mim novamente.

Não importa o que seja o que aconteça daqui um tempo, eu vou fazer de tudo pra manter minha filha segura.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora