Capitulo 6: Cabeça erguida

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Um dos policiais me levou pra uma sala separada para que eu pudesse terminar de me acalmar. Ele me serviu um copo de água com açúcar e algumas bolachas pra ver se eu conseguia manter minha boca ocupada pra não sair chorando de novo.

— Não sei quanto tempo mais eu aguento. – digo pra Tyler.

— Você vai conseguir. – ele senta na minha frente. — Começamos agora e..

— Começamos agora e eu já quero sair correndo. – levanto e o policial que fica de guarda me olha — Tyler, não dá. Você sabe muito bem que não é fácil encarar aquele monte de gente pronta pra te dar um tiro na primeira oportunidade. – respiro fundo.

— Eu sei como se sente. – Tyler diz pensativo. — É difícil encarar aquela multidão.

— Eu não as julgo, nós fizemos coisas pesadas, Ty. Por um lado, sim, foi nossa culpa. – digo, Tyler me olha estranho — Devíamos ter resistido, devíamos ter lutado e nada disso teria acontecido.

— Ou teria. – ele diz. — Pensa comigo, Mel. Você foi a que mais resistiu pra tentar impedir tudo aquilo e sempre acabava quase morta. Só nós dois sabemos todas as vezes que tentou impedir. E mesmo que morresse nada.. – Tyler levanta e segura meus ombros — Nada garante que isso faria Leonard desistir. Ele tinha mais pessoas pra isso, mais pessoas que estavam dispostas a perder tudo e fazer o que Leonard mandava. Você sabe mais do que eu que lá dentro tinha aqueles que estavam lá porque gostavam de matar, gostavam de estuprar.. – ele faz uma pausa e segura meu rosto — A culpa não é nossa, a culpa.. Não é sua. Precisa parar de se auto julgar. Você é a melhor pessoa que eu conheço Mel. E a mais corajosa. De tudo o que você passou, não deixou sua alma ser corrompida, é a bondade em pessoa. Só quem realmente te conhece sabe disso.

— Tyler..

— Não. – ele me interrompe. — Você precisa respirar fundo e entrar naquela sala de cabeça erguida.

— Eu não consigo.

— Consegue. – Tyler sorri — Nós dois sabemos que consegue.

— Mas e você?

— Não se preocupe comigo. – Tyler beija minha testa e respira fundo — Sabe que antes de você aparecer eu estava lá porque queria. Aquela menina assustada me mudou muito, mas ainda sim, eu não me importo de pagar pelos crimes que cometi. Só preciso que você fique bem. Só você me importa.

A atitude de Tyler me inveja. Mesmo nos piores momentos esse cara não consegue perder a alegria e não para de sorrir. Talvez o positivismo dele o tenha mantido vivo até hoje.

Não ficamos na sala por muito tempo. Tyler deu seu depoimento, sincero como sempre. Não se importou em admitir que entrou no negócio sujo porque gostava daquilo, de ganhar dinheiro fácil, mas também não poupou esforços para dizer que nos últimos nove anos viu que suas ações estavam erradas e que tinha medo de sair por acabar sendo morto e me deixando lá sozinha. Contou também sobre as pessoas que ajudou a sair, mas que acabaram com as cabeças sendo entregues a ele como punição de Tyler ter ajudado.

Além de contar em detalhes todas às informações que sabia sobre a organização. Detalhes esses, que serviriam pra policia investigar e tentar acabar com o restante que havia sobrado nos outros países. Em nenhum momento, Tyler vacilou o olhar firme no promotor, no júri, no juiz e nas pessoas aqui. Ele estava decidido a entregar tudo e acabou ganhando a admiração do doutor Guimarães. Tyler também entregou o nome dos policiais que sabia que recebiam propina para ajudarem a passarem pano para Leonard, disse onde as provas com o nome de cada um estavam e os acusou de negarem ajuda e corrupção.

Por considerar o depoimento de Tyler o suficiente, o júri deu o veredito: concluíram que ele estava arrependido e disposto a ajudar no que fosse necessário, por isso, Ty irá pegar dez anos de prisão em regime aberto, prestará serviços comunitários e ajuda as famílias que prejudicamos por certa de vinte anos.

Aquilo foi o impulso pra me dar um pouco do alívio que eu precisava. Algumas lágrimas de conforto rolam pelo meu rosto sem pudor algum. Só de saber que Tyler ficou impune da pena de morte já foi reconfortante.

Não presto muita atenção no que as pessoas dizem agora, mas sou totalmente desviada do meu devaneio quando ouço o nome de Amberly sendo chamado para depor. Nossos olhos se encontram no momento que ela se senta para começarem.

— Sua cliente tem certeza que quer continuar? – o juiz pergunta enquanto encara meu rosto molhado.

— Sim, ela tem – Matt responde e limpo meu rosto rapidamente com as mãos e endireito minha postura.

Fico prestando atenção na postura da própria Amberly, que está mais confiante do que nunca, mesmo demonstrando uma leve preocupação em seu semblante. Guimarães se aproxima do júri com sua pose autoritária talvez tentando intimidá-la.

— Conhece a senhorita Parker há quanto tempo?

— 3 meses. – Amberly responde.

— E como conheceu?

— Ela precisava de ajuda. – Amberly me olha, levando Guimarães a me encarar por um tempo.

— E decidiu ajudar uma estranha? – Guimarães a olha novamente enquanto passeia pelo espaço — Não pensou nas consequências de ajudar alguém como ela?

— Como vou duvidar de alguém que nem conheço?

— Simples, poderia ser apunhalada pelas costas na hora que menos esperasse.

— Não me importo muito com isso. – Amberly endireita sua postura mais ainda.

— Pois devia. – Guimarães para colocando as mãos atrás das costas — Diga-me, senhorita VanCite, ela te obrigou a algo?

— Fala sério – resmungo tão baixo para ninguém ouvir, mas ainda sim recebo o olhar de advertência do juiz.

— Não.

— Pode contar o que sabe dela?

— Amelie é uma vítima. – Amberly dispara — Tudo o que ela sempre fez tiveram homens por trás da operação. Ela pode ter feito coisas ruins, mas acredite, ela sofreu muito pior nas mãos daquelas pessoas.

Um burburinho na sala começa alto o suficiente pra fazer o juiz bater o martelo pedindo ordem. Minhas mãos soam e tento limpa-las na saia, fechando os dedos pra tentar relaxar a tensão.

— Está dizendo por si própria ou a relação de vocês interfere em dizer a verdade?

— Todos pensariam o mesmo se tivessem visto o que eu vi. – Amberly diz calmamente.

Mesmo de costas pra mim da pra ver quando os ombros de Guimarães ficam tensos e suas mãos abrem e fecham rapidamente pra tentar aliviar antes que alguém perceba. Matt se levanta assim que o promotor toma seu lugar com os olhos cravados em mim.

— Chegou a ter contato com Leonard?

— Sim. – Amberly responde.

— Ele te ofereceu algo? Fez algo? – Matt cruza as mãos.

— Não, mas ele ia.

— Presenciou algo de ruim que ele fez com Amelie?

Com essas perguntas, meu corpo fica tenso novamente. Eu me lembro de quando Leonard raptou Amberly e eu precisei transar a força com Paolo pra conseguir que ela ficasse viva. Disfarçadamente, coloco minha mão na barriga sentindo falta do que estava aqui sem eu saber até umas semanas atrás.

— Eu vi o que resultou. – Amberly pisca algumas vezes, talvez tentando se concentrar na pergunta.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora