Capítulo 25: Desmoronando

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Não sabia como encarar a situação. Parece que tudo ficou mais difícil, mais complicado. Em pouco tempo tudo virou de cabeça pra baixo. Tudo parece que desmoronou de vez. Matt acabou me repreendendo por esconder a verdade. Eu o entendo. Não deveria ter feito isso, mas o medo foi maior.

Daya não merece isso. Não queria que ela vivesse com medo e infeliz. Por isso não quis tirar a liberdade da minha filha, priva-la de coisas que eu não tive liberdade pra fazer. A escola está fazendo tão bem pra ela que seria injusto tirá-la de lá por medo de Mateo ir atrás dela.

Matt e eu fomos embora do seu esconderijo. Atentos pra ver se Mateo nos seguira. Por sorte não seguiu. Mesmo assim ficamos olhando ao redor todas as vezes. A audição aguçada de Matt também ajudou muito.

Liguei pra Peter e Tyler pra marcarmos um encontro que aconteceu na casa do Matt. Ele achou mais seguro. Chegaram e não perdi tempo em contar a eles o ocorrido.

- Você tem certeza disso Mel? - Peter pergunta.

- Uhum - balanço minha cabeça concordando - Tem as gravações da sala como prova, mas não duvido nada que Guimarães já as apagou.

- Sabe - Tyler se levanta e fica andando - Quando vi esse cara a primeira vez não foi estranho pra mim. Agora que você tá falando, lembrei. Ele foi um dos últimos a ser contratado pelo Leonard meses antes da confusão começar. Li a ficha dele um trilhão de vezes antes de Leonard bater o martelo final.

- Então, ele é um falso promotor? - pergunto. - Mas ele conhece bastante da Lei.

- É porque ele é promotor. - Tyler responde - Leonard comprava policiais e juízes, lembra? - balanço a cabeça concordando - Guimarães era um deles. A ficha dele de encerrar casos é gigante. Por isso Leonard o contratou, pra passar um pente fino em cima dos casos.

- Ele é persuasivo. - digo - Kellerman é um juiz focado não se deixa enganar. Pelo menos sabemos que ele não é corrupto.

Negociações são complicadas. Principalmente quando envolve crianças, juízes, policiais. Se não acertássemos quais deles aceitariam receber milhares de dólares pra trabalhar pra nós os negócios ficavam comprometidos. Na maioria das vezes resultava na morte deles. Mas Leonard sempre tinha uma intuição boa pra isso. Até porque tinha contatos que indicava quais iriam topar o trabalho. Foram poucos que tivemos que matar pra não comprometer nada.

Não sei de todos os nomes, nunca me importei com isso. Quem cuidava dessa parte era Paolo. Ele sabia de tudo e ficava de olho quando um deles não cumpria o acordo. Quando isso acontecia, nem mesmo os filhos dessas pessoas eram poupados.

- Já que Amberly não vai estar por uns dias, seria correto deixar Daya no abrigo com Joe. - Matt diz. - Melhor ir falar com ele e explicar a situação. Deixará ela segura.

- Tá bom.

- Tyler, traz pra cá todas as informações que tiver sobre a organização, Guimarães e Mateo. - Matt continua e se levanta - Tudo! Não deixe nada pra trás. Peter fica comigo, vamos rever umas coisas.

- Pode deixar. - Tyler diz.

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Tyler e eu saímos juntos da casa do Matt. Pelo horário, Daya ainda vai demorar uns quarenta minutos pra sair da escola, tempo suficiente pra falarmos com Joe.

- Que bosta. - Tyler diz me fazendo rir - É sério. - ele ri - Eu achando que ia me aposentar.

- Aposentar?

- Eu sou velhinho. - Tyler passa o braço envolta dos meus ombros - Preciso de descanso.

Flashback

Sangue, sangue pra todo lado. Paredes, piso, teto. Foi uma verdadeira carnificina. Leonard confrontou Fisk nas negociações com os russos. A pior coisa que ele resolveu fazer.

- Tyler? Tá me ouvindo?

Tiro o corpo de Louis de cima de mim e resmungo baixo por causa do ferimento do meu ombro. A maioria dos homens que trouxemos conosco estão agonizando no chão ou já mortos. Difícil saber. Pior de tudo é que acabei me perdendo de Tyler nessa confusão. Enquanto me arrasto devagar no chão acabo colocando a mão numa gosma que me dá vontade de vomitar quando vejo que são miolos de um dos homens. Do nada sinto algo agarrando meu tornozelo e quando penso em chutar, vejo o rosto do Tyler ensanguentado atrás de mim.

- Se você chutasse íamos ter uma conversa séria.

- Graças a Deus. - digo, me juntando a ele. - Você tá bem?

- Estou. - Tyler se levanta mancando, me pega no colo e passo meu braço envolta do seu pescoço. Ele me carrega porta afora com cautela. Os homens do Fisk ou o próprio Fisk pode nos encurralar e ai sim estaremos mortos. Nunca daríamos conta dele sozinhos. Fisk quebrou o crânio de um dos homens apenas com um soco. - Eu juro que depois dessa merda eu me aposento.

- Em seis anos que estou aqui já ouvi isso umas quarenta vezes. - digo e Tyler me olha risonho.

- A esperança é a última que morre.

Flashback

Chegamos logo no abrigo, mas antes passei em casa pra fazer as malas de Daya e por precaução mandei uma mensagem pra Amberly, caso ela voltasse logo e encontrasse o quarto de Daya vazio. Deixei até avisado que estaria resolvendo um problema, mas que meu telefone ia estar sempre ligado pra qualquer coisa.

- Será que Joe vai aceitar? - Tyler pergunta e o olho - Seria arriscado levar problemas pra ele de novo. Tem as crianças.

- Não tenho com quem deixá-la. - respiro fundo - A essa altura ninguém. Ou.. - olho pra Tyler. Ele automaticamente decifra sem nenhuma palavra bufando em resposta.

- Não, Mel. Eu já disse, Trina está incomunicável.

O tom de voz calmo de Tyler mudou para um tom irritado. Não seria minha intenção, mas a ex namorada dele seria uma boa opção pra ficar com Daya. Ela mora longe, fora do mapa da organização. Mas já que Tyler não quer dizer onde ela está a única opção vai ser o Joe mesmo.

- Deb, eu preciso falar com Joe - digo. Débora nos recebeu no abrigo no lugar de Joe, nos levou para o pátio e serviu duas canecas de chocolate quente pra nós dois.

- Joe não está, Mel. - ela responde - Ele saiu cedo e ainda não voltou.

- Ele disse pra onde iria?

- Não. Disse que ia resolver umas coisas. - ela dá um sorriso leve - Não falou o que era, mas deve ser importante pra demorar assim.

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Não ficamos muito no abrigo, só terminamos o chocolate e saímos. No caminho tentei ligar pra Joe, mas sem sucesso. Ele é o dono do abrigo, então tudo precisa passar por ele antes da decisão final. Débora não tem essa autonomia. Embora eles já nos conheçam bem, preciso da autorização dele pra isso.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora