Capítulo 31: Lástima

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Joe está amarrado com os braços pra cima, em correntes fortes o suficiente pra segurar um urso. Seu rosto machucado, seu abdômen nu, mas coberto com sangue e aberturas fundas. A poça vermelha enorme em baixo de seus pés junto com pedaços de carne enrolados nas pontas da corrente que arrasta no chão.

Deixo a arma nas mãos de Peter, que segura com certo receio, mas mesmo assim a mantém nas mãos.

- Joe! Joe! - seguro seu rosto checando sua pulsação fraca com dois dedos no pescoço. - Joe, fala comigo, por favor. - meus olhos queimam com as lágrimas e eu simplesmente não sei o que fazer. - Me ajuda, Peter!

Peter acorda do seu devaneio, coloca a arma no meu coldre e me ajuda a tirar as correntes do suporte no teto no contêiner. Ao fazer isso, o corpo de Joe cai diretamente em cima de mim. Abraço-o sentindo o sangue molhar meu uniforme e mesmo tentando manter seu peso achei melhor deitá-lo devagar apoiando sua cabeça nas minhas pernas.

- Joe, Joe. - seguro seu rosto. - Fala comigo, por favor.

- Vou chamar uma ambulância. - Peter se afasta indo para a porta com o celular nas mãos.

Joe apenas mantém os olhos abertos me encarando. O conheço tanto que sei que seu olhar é de alívio ao me ver. Era sempre assim quando chegava no abrigo sem dar notícia por alguns dias. Passo a mão em seu cabelo repetindo varias vezes que tudo ficará bem. Eu sei que não vai ficar. Joe está com ferimentos tão profundos que é possível enxergar os músculos de sua barriga. Não seria de admirar se as tripas dele começassem a sair também. A perca de sangue foi muito grande. Difícil saber há quanto tempo Joe estava sangrando assim.

Um barulho mais agudo no comunicador me desperta. Um tiro, pra ser mais exata. Depois de desligar o telefone, Peter me olha com os olhos arregalados.

- Tyler, tá me ouvindo? - Peter o chama. Um, dois, três, quatro segundos se passam sem resposta nenhuma.

- Começaram a chegar, estou tentando afastar alguns - Tyler responde, outro tiro se é ouvido. - Droga!

Os tiros começam a aumentar. Devem estar descarregando um pente por segundo.

- Precisamos tirar ele daqui agora. - digo.

Peter me ajuda segurando as pernas de Joe juntas. Contamos até três e tentamos o levantar, mas Joe geme de dor e com um aceno pede para o colocarmos no chão.

- A ambulância já está vindo, mas ele vai morrer se ficar aqui. - Peter diz.

Pouco me fodendo para o sangue em minhas mãos, prendo meu cabelo no rabo de cavalo alto e olho para Joe, que me encara atentamente com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

- Ouviu isso? - Peter pergunta.

Claro que ouvi. O silêncio. É só isso que se pode notar. Nada mais que o vento batendo nas árvores e som de pássaros cantando. Tiros? Nenhum. A respiração de Tyler ou Matt? Nada.

Peter toma meu lugar ajoelhado atrás de Joe para manter sua cabeça alta. Com minha arma em punho e cautela vou devagar para a porta, apontando na mesma direção e observando tudo. Meus sentidos estão parados, mas não confio muito neles. Podem simplesmente me deixar na mão agora. Um barulho fino me desperta como se algo houvesse sido arrancado. Um pino seguida de uma granada rolando para o container. Não penso duas vezes a não ser usar minha teia e jogar a granada pra longe, fazendo-a explodir no container a frente.

Peter ajeita um lugar para Joe ficar até a ambulância chegar com alguns panos velhos que estavam no fundo do container. Vamos precisar tirar ele daqui quando os paramédicos chegarem, isso se não explodirem a ambulância também.

Barulhos de galhos sendo quebrados por pisadas. Meus sentidos ficam alvoroçados mais do que das outras vezes. Peter e eu saímos de dentro do container e olhamos envolta. Cinco homens vestidos com roupa militar e armados até os dentes aparecem. Ao lado, Guimarães e meu patético irmão com roupas parecidas, mas ao contrário dos cinco homens não estão armados. Pelo menos não tanto quanto eles.

- É uma lástima, não é mesmo? - Guimarães se aproxima ficando na frente dos homens junto à Mateo - O que aconteceu com Joe. Imagino a dor que ele deve estar sentindo. Eu sempre me perguntei quanto tempo uma pessoa com os ferimentos do nível do Joe demoraria pra morrer. Acho que ele acaba de quebrar algum recorde porque já faz horas que a barriga está aberta. - Guimarães dá uma risada leve antes de me encarar. - É bom te ver de novo, fiquei me perguntando quando a veria novamente.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora