Capítulo 34: Adeus, Joe!

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Tyler e eu nos encontramos com Peter e Matt quilômetros a dentro na floresta. Tínhamos vencido essa etapa. Peter deixou um dos homens vivos e Matt se encarregará de fazê-lo falar.

Nossa próxima parada foi num hospital mais afastado do centro. Tyler me ajudou a andar até lá enquanto Peter e Matt cuidaram de levar o homem para o esconderijo que Matt usa e depois iriam cuidar pessoalmente dos corpos.

Graças ao Universo minha perna não quebrou apenas saiu do lugar e os médicos tiveram de colocar. Não emiti som nenhum de dor. Estava anestesiada emocionalmente e isso fez com que ela nada fosse. Mesmo assim, eles aconselharam que devia ficar na cadeira de rodas até que eu melhorasse de vez. Tyler levou alguns pontos na barriga, mas nada muito grave, superficiais na verdade. Fiquei preocupada com ele nas primeiras horas já que ficou quieto durante um bom tempo. Nós dois não queríamos compartilhar as coisas que conversamos com os dois idiotas antes de mata-los.

Como Tyler conhecia o médico que nos atendeu, pediu a gentileza de não dizer nada pra ninguém do que viu e colocar no prontuário que foi apenas um acidente de carro. Não queríamos a atenção da polícia e nem da mídia. Felizmente, o médico não fez objeção.

Assim que Tyler me levou para seu apartamento, logo tratou de me dar uma bola de apertar para aliviar o estresse. Não recusei. Precisava mesmo. Estava toda hora apertando as unhas na palma da mão procurando me aliviar, mas nada. A bola ajudou e agora não consigo largar.

A parte mais difícil disso é aceitar que Joe se foi. Horas se passaram até eu ter coragem de aparecer no abrigo e dar a notícia. Tyler foi comigo, me ajudando a empurrar a cadeira de rodas. Assim que chegamos, Débora nos recebeu e logo percebeu que algo havia acontecido. Não consegui olhá-la nos olhos e assim ela desabou de joelhos no chão: chorando.

As crianças e os adultos logo se juntaram em volta dela. Os pequenos sem entender o que tinha acontecido, os adultos acompanhando Débora nas lágrimas. Quando as crianças compreenderam todas saíram correndo com lágrimas nos olhos e chamando pelo homem que havia dado um lar pra elas.

Daya apareceu cinco minutos depois perguntando desesperadamente o que tinha acontecido. Não tive tempo de responder porque um dos senhores acabou dizendo antes. Foi a primeira vez em meses que vi Daya me olhar com ódio. Imediatamente ela correu em cima de mim, mas não pra me abraçar, e sim pra me bater. Dizendo que eu havia causado tudo isso, que Joe morreu por minha culpa e que me odiava por isso. Os tapas que ela deram foram dolorosos, mas não fisicamente. Estava sentindo-os na alma. Não consegui olhar pra ela, pois tudo o que disse foi a mais pura verdade e eu reconhecia isso. Mas ouvir isso da minha própria filha só fez quebrar os restos dos cacos que já estavam formados e quando Tyler conseguiu segura-la, aí eu desabei.

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Dois dias depois. Dois dias que Joe se foi e hoje faremos o funeral. Iremos enterrar apenas um caixão com alguns pertences dele. Já que não há corpo pra enterrar. Não preguei os olhos essas duas noites. Sempre que os fechava, sentia cheiro de sangue, ouvia gritos e via uma explosão. Minhas pálpebras já estão com olheiras meio fundas e não é pra menos. Não consegui voltar pra casa entao fiquei com Tyler no seu apartamento.

Mandei uma mensagem pra Amberly perguntando se ela poderia vir. Não houve respostas. Mas eu tenho certeza que ela verá assim que puder. Preciso dela mais do que nunca e sei que onde quer que esteja resolvendo seus problemas, ela sente.

Agora estou em frente ao espelho de Tyler sentada na cadeira de rodas olhando meu reflexo vestido de preto pronta para o funeral. Depois que Daya despejou tudo aquilo em cima de mim não consegui colocar mais uma lágrima pra fora. Acho que sequei todos os reservatórios.

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Eu sabia que Joe conhecia muitas pessoas e todas elas o admiravam tanto quanto estava vivo como agora. Todas elas vieram prestar solidariedade e homenagem, cada um com uma rosa branca na mão.

Daya não quis ficar comigo, está agarrada a cintura de Débora com os olhos baixos enquanto o pastor diz algumas palavras que não presto atenção. Fico olhando a rosa branca que tenho nas mãos intercalando os olhos entre ela e o caixão fechado. Tyler mantém a mão sobre meu ombro como forma de me consolar, Peter fica com as mãos no bolso prestando atenção nas palavras do padre e Matt ao seu lado segurando a bengala na mão. O tempo está nublado, trazendo um ar mais sombrio e deprimido. Pessoas vestidas de preto chorando, outras anestesiadas o suficiente, mas com os olhos inchados. Assim como eu, Débora está com olheiras, mas as dela bem mais fundas que as minhas. Deve ter chorado todos esses dias.

Longos minutos se passaram até o padre terminar seu discurso fúnebre. Um por um foi jogando suas rosas em cima do caixão, Daya foi a primeira seguida de Débora. Achei melhor ser a última, queria ficar um pouco sozinha com ele. Os meninos iriam me esperar mais afastados pra me dar um tempo. Deixei a cadeira bem próxima do caixão e fico segurando a rosa nas mãos. Não tenho palavras pra dizer agora. Não saberia me desculpar por tudo.

Flashback

- Desde quando você é marceneiro? - pergunto para Joe.

Depois que entrei no quinto mês de gravidez e descobrimos o sexo do bebê, Joe resolveu me ajudar a montar o quarto. Não comprei muita coisa já que a maioria das mulheres aqui começaram a bordar toalhas, fraldas e fazer o enxoval da bebê. Por segurança, Joe achou melhor comprar as roupas pela internet. Assim fizemos. Agora estou terminando de colocar os ursos em cima da poltrona e Joe terminando de ajeitar o berço que ele próprio decidiu fazer. Não vamos demorar muito, ainda mais que hoje é o aniversário de Débora e estamos fazendo uma festinha no pátio.

- Eu sempre fui um exímio marceneiro. - ele solta uma risada gostosa.

- Era isso que você fazia antes? - o olho curiosa.

- Só por diversão. - ele responde, franzo minha testa pensando seriamente na resistência do berço. Joe percebe minha dúvida estampada na cara e cruza os braços - Não duvide do meu trabalho, dona Amelie.

Joe até tenta manter sua pose séria, mas falha miseravelmente acompanhando minha risada.

- Então?

- Ficou ótimo. - passo minha mão na grande do berço - Obrigada por isso.

Flashback

Respiro fundo sentindo a brisa bater no meu rosto e olho para o caixão suspenso antes de beijar a rosa e deixar em cima da tampa.

- Adeus, Joe.

SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora