Naquela noite não consegui dormir direito. Foi mais uma noite que fiquei olhando Amberly dormir serenamente.
A audiência ficou interrompida por dois dias. Segundo Matt, Guimarães pediu os dias pra rever o meu caso. O que é uma grande mentira, ele não precisa rever nada. Só devia estar com o corpo dolorido assim como eu. Esses dias foram suficientes pra terminar de colocar a casa no lugar e descansar a cabeça. Amberly fez o possível pra me distrair assim como havia dito. Assistimos filme, cozinhamos juntas, tivemos nossos momentos sozinhas também quando Daya estava na escola.
Foram dois dias perfeitos em meio a essa bagunça. E Amberly como sempre, fez jus a sua promessa. Não queria que esses dias acabassem, mas como nada é do jeito que queremos, o dia da audiência chegou.
Não foi fácil encarar Guimarães depois do ocorrido. É complicado imaginar o que ele está tramando, já que não deu uma palavra sobre o incidente comigo. Quando foi questionado sobre o rosto machucado, simplesmente disse que havia só sofrido um acidente de carro.
— Seu coração está acelerado – Matt diz, até então eu não tinha percebido que estava encarando Guimarães. Estamos esperando o juiz entrar na sala para começar a audiência. Hoje é o último dia e será o mais decisivo.
— Aqui, sempre fica. – respondo dando de ombros.
— Não, não fica não. – o olho — Eu ouço seu coração, e ele não está como das outras vezes.
— Você não é um cego muito comum, né? Vigilante. – Matt dá um leve sorriso.
— O que me entregou?
— Já ouvi histórias. – dou um sorriso — Agora só confirmou.
O juiz entra na sala, ficamos em pé por respeito e nos sentamos novamente como todas às vezes. E rapidamente dá início a sessão. Aperto minhas mãos nervosa o bastante para machucar. Matt coloca a mão sobre meu pulso como forma de me relaxar, o que funciona. Quando percebe que já estou mais confortável, Matt pega sua bengala longa e se dirige para frente do júri, mas não diz uma palavra até então.
— Senhor Murdock. – Kellerman o chama, tirando Matt de seu devaneio.
— Desculpe excelência. – Matt diz e se endireita — Senhoras e senhores do júri, eu estive preocupado recentemente com questões de moralidade. De certo e errado. Bem e mau. – Matt faz uma pausa enquanto olha para o júri — Às vezes, o limite entre os dois é uma linha tênue. Às vezes é um borrão. E por vezes, é como a pornografia. – assim que ele diz isso, um burburinho começa como se Matt tivesse dito algo improprio dentro dessa sala gigante — Você reconhece quando vê. Algumas pessoas estão mortas, outras não estão junto de suas famílias mais. Pais, amigos, filhos. Eu não quero minimizar isso, mas essas questões.. Essas questões são vitais porque ela nos une uns aos outros a humanidade. – Matt dá dois passos para o lado — Nem todos pensam assim. Nem todos veem a linha tênue. Só o borrão. Pessoas morreram. Pessoas... Morreram – a cada palavra que Matt diz uma pontada de tristeza me atinge ao mesmo tempo em que o consolo em suas palavras começa a aparecer. Presto atenção, olhando-o fixamente sem ao menos ver o júri. Parece que somos apenas nós dois tentando convencer não um monte de gente, mas só a mim mesma. — E minha cliente, Amelie Parker, tirou a vida dessas pessoas. Isso não está em discussão. – dou um balançar de cabeça leve concordando com ele — É uma questão de dado. De fato. E fatos não tem julgamento moral. Eles apenas afirmam o que são não o que pensamos deles, não o que sentimos. Apenas são. – Matt se vira pra mim — O que movia minha cliente quando cometeu essas atrocidades, se ela é uma mulher boa ou o contrário disso, é irrelevante. Essas questões de bem e mau por mais importantes que sejam não tem lugar em um Tribunal de Justiça – Matt se vira para o júri novamente — Só os fatos importam. Minha cliente afirma ter agido por medo, por não ter escolha, por ser uma vítima. Os homens que estavam por trás disso não vieram prestar depoimento, as outras testemunhas afirmam que Amelie sofria na mão desses homens e todos vimos às marcas físicas e emocionais que ela tem que carregar todos os dias. E esses, senhoras e senhores do júri, são os fatos. Minha cliente, baseado na santidade da lei, que todos nós juramos defender, deve ser absolvida dessas acusações. Agora, além disso, fora daqui, ela pode muito bem encarar um julgamento pessoal. Mas aqui – Matt aponta para o chão — Nesse tribunal, o julgamento cabe a vocês. Somente a vocês.
Matt toma seu lugar ao meu lado novamente e mais uma pausa se inicia com o júri fora da sala. Não sei quanto tempo se passou, nem me importei com a hora. Fiquei mais olhando o semblante ameaçador e vitorioso de Guimarães e tendo conversas vagas com Matt para tentar me acalmar.
Tempos depois, os jurados entram e sentam em seus lugares.
— O júri já tomou uma decisão? – Kellerman pergunta e um homem de meia idade se levanta com um papel na mão.
— Sim, excelência. – o homem coloca seus óculos de grau e olha para o papel — Diante de todos os fatos expostos, o relato das testemunhas e as provas físicas apresentadas, o corpo de jurados declara à senhorita Amelie Parker inocente. Ela deve ser absolvida da pena de morte e apenas prestar serviços voluntários para a comunidade.
Prendo minha respiração ao ouvir a sentença. Já estava preparada pra ouvir a palavra culpada juntamente com minha execução. Agora isso, conseguiu fazer minhas pernas bambearem. Deixo minha cabeça baixa por alguns segundos processando e tentando regular minha respiração que já estava se findando.
— Agradeço aos senhores jurados a presença e o cumprimento do dever. Os senhores jurados estão dispensados. Agradeço também ao Dr. Promotor, ao Dr. Defensor e aos serventuários da Justiça aqui presentes. Declaro encerrada a sessão.
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SURVIVE - 2 TEMPORADA (CONCLUÍDO)
Fanfiction𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐃𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐎𝐁𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓Ã𝐎 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒. 𝐏𝐋Á𝐆𝐈𝐎 É 𝐂𝐑𝐈𝐌𝐄! 𝖠𝗀𝗈𝗋𝖺, 𝗇𝖾𝗌𝗌𝖺 𝗌𝖾𝗀𝗎𝗇𝖽𝖺 𝗍𝖾𝗆𝗉𝗈𝗋𝖺𝖽𝖺, 𝖼𝗈𝗆 𝖺 𝗃𝗎𝗌𝗍𝗂ç𝖺 𝗉𝖾𝗌𝖺𝗇𝖽𝗈 𝖾𝗆 𝗌𝗎𝖺𝗌 𝖼𝗈𝗌𝗍𝖺𝗌, 𝖠𝗆𝖾𝗅𝗂𝖾...