18 Tetra "Adônis"

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Eu estava aindo para minha aula quando Ash pula encima de mim me dando um susto. Mas porque caralhos ele fez isso?
- Porra Ash quê que te deu? - pergunto indignado e furioso.
Ele ri e sai, ele deve estar me dando o troco pelo trabalho inabitual de guia turístico, Ash é tão... tão... mais tão... controlador que às vezes eu não sei como os seus pais o aquentam. Eu decido ignorar seu comportamento vingativo e infantil. E acho a sala da minha aula: Estudos Avançados Femininos. Eu não me surpreendo quando só vejo mulheres na sala. Faltam cinco minutos. Pego as minhas coisas da minha bolsa, meu notebook, pequeno tablet e minha caneta touch, ponho o celular no modo: não perturbe. Ponho um arco para impedir meus cabelos de me atrapalhar, talvez em outro lugar eles me zoassem, mas aqui é aula de estudos femininos, ninguém vai falar nada, se falar já preparei meu discurso ou melhor peguei emprestado com meu irmão Antony o único gay assumido da fraternidade, ele estuda Ciências Políticas, ele acredita que se tornar o primeiro presidente gay assumido a ganhar uma eleição – assim que conseguirmos a independência. – Só voto nele se ele for pai de família e infelizmente ninguém na fraternidade está planejando muito se casar antes de morrer, Ash só se casa se estiver na planilha.
Enquanto estou perdido em meus pensamentos de quem na fraternidade irá casar primeiro e quem irá casar por último, sinto a temperatura baixar e simultaneamente o sinal toca reverberando pelos corredores anunciando que as aulas começaram, me viro para frente pronto para prestar atenção. Quando olho para a Professora Pós Doutora H. Storm, uma mulher de uma beleza mediterrânea, seus cabelos são castanhos claro e seus olhos chocolate, sua bele cor de latte, eu não sei porquê, nem como, mas algo nela me parece igual a Mele e seus amigos. Balanço minha cabeça. Devo estar ficando paranóico, porém quando faço isso vejo pela minha visão periférica algo conhecido, me viro para ver o quê é. É quando as vejo, Mele e Lillythe, estão bem ali, do meu lado, a míseros centímetros.
Ah, minha Mele é tão perfeita, tão linda que até Afrodite ficaria com ciúmes.
- Tetra Summer! Tetra Summer! - ouço uma mulher gritar.
Mele se vira para mim e eu acho que estou sorrindo, quase babando, ah se Deus existe eu ei de não estar babando. Ela me empura para frente, com delicadeza e suavidade, com se eu fosse uma folha de papel, é impressão minha ou ela é mais forte que esse corpo aparenta?
Eu me viro e vejo a Profª P. Doc.: Storm, ela está com raiva, ah, meu Deus espero que não seja de mim.
- Já é difícil algum respeito pelo gênero feminino entre os obtusos da fraternidade, mas isso já é passar do limite! - Engulo em seco, meu discurso sobre o feminismo também é para homens agora é inútil. Sei que sua raiva por mim faz sentido, ainda assim espero não ser expulso da matéria, eu realmente quero aprender aqui. - ela bate sua régua de madeira no ponto vázio entre a mesa e minhas coisas, e por um milésimo de centímetros ela erra meu braço, meus pêlos chegaram a sentir o material sólido cortando o ar. Eu tenho que me segurar para não pular e me esconder, meus sentidos ficam alerta, como se aquilo fosse um aviso de uma ameaça maior. Um prelúdio do quê estar por vir.
O resto da aula foi mais tranquilo, embora as moças que sentaram atrás de mim ficaram supondo que eu fosse gay ou transformista, eu fingi que não entendi a última parte. Eu acabo me concentrar em anotar tudo que a professora fala, o quê é muito difícil, ela fala um pouco rápido e vejo que Mele tecla tão suave como se seus dedos bailassem o mais suaves e preciso Ballet nas teclas de seu notebook rosa machê. E quando o sinal toca de novo, para avisar o fim daquela aula eu não me surpreendo de ela e Lillythe guardarem seus materiais tão rápido que eu nem cheguei a ver, vejo elas descerem os degraus da sala anfiteatro até a professora e elas começam a conversa sem som, eu acho, vejo seus lábios se mexerem mais nem um único som vem daquela direção. Olho para uma aluna no última cadeira da primeira fileira, ela parece tão delicada, mas quando ela se aproxima de mim vejo seu pumo de Adão e rosto áspero por de baixo da maquiagem e entendo. Não é exatamente ela, nem exatamente ele, é algo entre os dois, algo que minha mãe certamente não entenderia, ela parece ter um olhar triste e anda com a cabeça baixa, é alguém que seria uma vítima fácil das zoações das fraternidades e irmandades do Campus, das cerimônias secretas de iniciações dos clubes.
- É interessante como a perspectiva das pessoas muda quando não olham só para si? - uma voz melódica me pergunta.
Eu olho para cima para encarar a dona da voz e a professora.
- Helena, por favor, não pegue tão pesado com ele, é novo nisso. - me defende Lillythe, eu acho.
Espera aí! Elas conhecem a professora?
- Lillythe, queria, não tenha tanta empatia! - a professora rebate, piscando o olho para Lillythe.
Eu perdi alguma coisa? Por que parece que eu perdi!
A professora e Lillythe rirem, acho que é da minha cara.
- Lillythe poderia acompanhar o Senhor Summer para sua próxima aula, se não se importar é claro.
Dito isso Lillythe e Mele se aproximam de mim e guardam as minhas coisas rápido e suave, sem fazer um ruído sequer, depois me vejo de pé e não me lembro de ter levantado. Mele põe seu braços perfeitos em mim, e sinto um choque térmico, como se meu corpo quente tivesse encontrado em gelo seco. Mele percebe que estou encarando seus braços, ela me dá um meio sorriso.
- Me perdoe, eu estava embaixo do ar-condicionado. - Ela fala devagar.
Engraçado, pensei que a saída da sala (do climatizador) fosse no corredor. E o assento de Mele ficava no meio de cinco outros assentos... Ih, preciso ver um terapeuta! Estou ficando paranóico.

A próxima aula é com as duas, elas se sentam uma de cada lado e me põe no meio dos assentos. Como se quisesse me encurralar. Tá, amanhã eu ligo para o terapeuta! O professor é um senhor alto e robusto, o mesmo professor de introdução a direitos civis. A matéria é Direitos das Mulheres a Través dos Séculos, nessa aula há mais homens, todavia a maioria esmagadora é mulher. Reconheço Ash disfarçado na terceira fila, na cadeira do canto. A mesma aluna/aluno da outra aula.
As duas não falam comigo, concentradas em seu ballet de dedos, nem sequer me olham, mas me pego diversas vezes as observando antes do fim da aula. Esta aula termina, elas guardam minhas coisas. Lillythe me pergunta novamente se quero ir a sua casa e olho para Mele e ela parece estar pensando no quê me dizer quando vejo os caras, meus irmãos se aproximando e ela vê que eu estou inclinado a ir com os caras.
- Deixa, não é nada tão importante que não possa esperar pelo tempo que for preciso.
Mele me responde aquilo com um tom tão assertivo que até parece algo talhado em pedra. Sinto minha testosterona descontrola de desejo, esse seu lado empoderado que não liga para minha existência me deixa queimando de luxúria. Eu desejo ir com ela para sua casa, para o Céu, para o Inferno, para onde ela quiser ir. Sinto cada músculo queimar de desejo, de luxúria, eu a quero, para abraçar, para proteger, para amar, mas meu celebro racional, todos os meus instintos parecem gritar que não é uma boa ideia. E quando Ash me vê, ele e os irmãos me puxam para ir com eles para nossa aula de Gestão Econômica Básica, sem dizer uma só palavra eles me arrastam para fora dali. Vejo Lillythe sorri entre suas mechas loiras, como um leão orgulhoso. Um calafrio percorre minha espinha.

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