28 Tetra "Adonis"

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Eu avisto Lillythe e aquele cara mais velho, que parece velho demais para a graduação, qual era mesmo o seu nome? Ah, já sei Hunter, caçador em inglês. Me lembro da piadinha, da cara, do risos do cara, era como se eu estivesse dizendo para o tubarão que ele era uma tubarão e que ser tubarão é sua vocação, era como se eu sentisse que uma energia emanava dele, uma energia nada amigável, uma energia que me dizia para ficar longe ou o tubarão vão te pegar. Depois que os dois esquisitos que parecem não ter idade para a ser universitários vão embora eu chego silenciosamente perto de Ash. Ele se assutar com isso, se recompõe e me olha inexpressivo, sempre tem que ser o dominante, sempre o quê dá a última cartada.
- Lillythe me contou que está em abstinência, me pergunto irmãozinho, você é virgem? - ele põe a mão no queixo enquanto fala e termina me encarando, não sei se ele está brincando ou falando sério, só sei que esse é o último lugar, o último momento que eu quero discutir esse tipo de assunto.
- Claro que não! Deixa de ser panaca!
Ash estreita os olhos, talvez eu tenha saído um pouco do limite com a palavra: "panaca", ele é o Presidente da Fraternidade, da nossa fraternidade, ele pode quando bem entender, sem nenhum motivo me expulsar, tenha cuidado com o quê fala! Ser expulso no meio do ano letivo não vai me deixar ter acesso aos dormitórios, nem as contas que preciso pagar a mais para morar no Campus ou sequer perto, Melbourne pode não ser tão disputada quando Sidney, mas ainda é uma cidade bem cara e viver perto da universidade sozinho é ainda mais caro. Seja esperto!
- Vou fingir que não ouvi isso. Pela nossa última festa. Se me contar porque ainda não transou com a Mele.
Não sei se fico surpreso com ele lembrar dos nomes de pessoas que viu duas vezes na vida, assutado com o teor de ameça ou constrangido com a intimidade daquela pergunta. Desde quando nosso presidente se interessa por quem deixamos ou não de transar?
- Bom, as coisas são mais complicadas do quê parece!...
- Não são, não! Uma gostosa quer de dar e você é panaca demais para aceitar. Ela por acaso tem um pinto? para deixar isso mais plausível.
Não! Mele não tem pinto, só se for de estimação. Eu dancei com ela, muito junto, muito colado, a água em todo o seu corpo naquele dia, seus movimentos, eu podia ver a marca de suas lingeries. ela não tem pênis, seios de bicudos talvez, mas pênis não. Naquela Noite eu pude sentir cada curva de seu corpo quando dançamos. Ela não é uma mulher de trompa, nem nunca foi. Sei disso pelo formato da bacia. Ela é muito açúcar para o meu chá, isso sim!
- Talvez eu...
- Esteja sendo otário?
Otário é pegar pesado! Eu não sou otário! Mele é mais do que meus olhos podem ver, meu celebro possa compreender, sinto isso, sinto isso em todos os músculos, articulações, ossos e fibras do meu corpo. Ela é algo entre o real e o compreensível. Não sei como sei que ela é, mas sei que ela é. O quê não faz o menor sentido, porém ela é! Sei disso, sinto isso, como uma verdade absoluta, um fato irrevogável, um dogma. Ela é algo além de sua aparência, algo que transende a compreensão humana, o senso comum, eu sou um singelo mortal nisso. A coisa em minha mente que inexplicável me diz as coisas, me diz que é. Que se eu tiver juízo ficarei longe de Lillythe, Hunter, Mele ou quem quer que eles andem, que nem um deles é seguro para a existência da vida, que eles são o tubarão do fosso no Mar. Algo antigo, poderoso, forte. Algo perigoso. Perigoso para mim. Sei que ela está atrás de mim, me quer para seus próprios propósitos egonista, sei disso, sinto isso, Lillythe é a líder do grupo deles, Mele é alguém importante nessa organização, Mele me espera de alguma forma há algum tempo, não consigo entender como, só sei que é assim. Eu desejo Mele como nunca desejei ninguém, um desejo tão profundo e latente que sinto meu corpo doer de tanto desejo, é como se fosse predestinados a pertencer um ao outro, ainda assim sinto na parte mais profunda de meu íntimo que devo ficar o mais longe possível de Mele, ela está aqui para roubar minha alma, minha inocência. De alguma forma cada vez que eu vejo Lillythe ou Mele sinto que Lillythe me vence mais um pouco, que seu time só avança suas jardas, eu perco cada vez mais, mais próximo de ficar encurralado, mais próximo de seu cheque mate. Mele é tão perfeita! É torturante dizer não! Fazer o que minha mente racional me manda que o completo oposto que meu pênis quer fazer! Meu corpo já perdeu essa guerra no segundo que encostou em Mele, porém a cada vez que vejo Lillythe sinto que ela rouba uma parte de minha mente, uma parte que quer lutar. Não sei o quanto ainda me resta, o quanta vontade eu ainda posso ter para lutar, só o que sei que é inconcebível para minha mente e meu corpo sequer cogitar em abandoná-la, minha mente já é fiel a Mele. Desde que eu a vi não consigo me ver com ninguém mais, não consigo ver pornografia, ter sonho eróticos, ler livros eróticos... nada com outra mulher, toda a minha luxúria se esvaiu e se tornou refém de Mele, todo o tesão que este corpo pode sentir é escravo e servo fiel de Mele. Se Ash soubesse, se ele sequer conseguisse ser capaz de compreender o que eu sinto, o quê eu sei em minha mente. Todavia eu mesmo nunca fui capaz de compreender por que Ash seria? Mele seria! Sei que seria. É algo que sinto que compartilhamos. Algo que sinto que Lillythe compreende melhor que seus seguidores, que sinto que é a razão de ela nunca me deixar partir, de me fazer seu refém. Sei que seu plano está quase concluído, minhas vontades já estão fracas. Eu nunca poderia ser um Lanterna Verde, sinto que logo poderia ser um Lanterna Preto, agora estou mais para um Lanterna Vermelho.
- Não sei explicar! Só sei que ela é algo ameaçador, seu verdadeiro Eu.
Ash me encara pensativo, ponderando acerca. Ele parece medir o valor de minha palavra e ações. E algo em mim muda, algo em mim começa a me dizer que meu tempo com Ash pode nunca acabar que Ash pode ser arrastado para tudo isso comigo se eu não resistir, se eu não fizer a escolha correta, se eu não reunir minhas forças, se minha vontade falhar, Ash será arrastado para o mesmo Inferno que nossas almas ficarão seladas até o Apocalipse. Até o fim de tudo. E eu não posso trair meu irmão.
- E esse seu sexto sentido te diz que isso será ruim para você?
- Não exatamente - Ash levanta uma sombrancelha - só sinto que é ruim, muito ruim para minha alma, na verdade sinto que se eu perder e deixar que ela me leve nisto que ela voltará e te levará também.
- Ela quem? A Loira ou a Morena?
Penso um pouco, tentando distinguir uma da outra, tento me consertar naquela sensação, naquele sentimentos, sentido que me diz as coisas, penso em Mele e depois Lillythe, me concentro em Mele. Meu sentido esquisito me diz que Lillythe nunca deixará Mele. E Mele nunca irá contra Lillythe, sinto que Mele me quer tanto quanto a quero, que ela vem me esperando a muito, muito tempo e Lillythe é ruim em sua essência é um predador e eu sou sua nova presa. Meu sentido me diz que Ash entrou em seu radar por minha causa, que ela o quer por ver algo nele útil para ela. Mas o que meu sentido não é capaz de me dizer é se eu ficarei ferido com isso.
- Na verdade não, ele me diz que Mele me espera a muito tempo e que Lillythe nunca a deixará e que ela agora te quer também.
E Ash volta a entrar em seus pensamentos. Sei o que está pensando. Não precisa de um dom sobrenatural inexplicável para saber. Ele está ponderando o quê isso signica para ele.
- Entendo. Então está sendo um irmão fiel? Mano antes das minas, certo?
- Eu sinto que ela levará nossas almas e nos dará forças para sermos divinos.
- Sabe maninho se está tão preocupado com a minha alma e a sua não devia nos levar a Igreja? Por falar nisso, faça os arranjos nosso irmão desaparecido precisa de uma missa apropriada, cuide disso. E aproveite e converse com um sacerdote.
Ele me diz aquilo e sai para o estacionamento ligando seu Volvo 2015. Eu fico pensando em sua resposta. Talvez um padre ou rabino saibam melhor o quê fazer, ou mesmo um conselho. Quanta vontade ainda me resta?

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