REBECCA
Puxei o capus do casaco o máximo que pude para esconder o meu rosto dos olhares no refeitoria. Os cochichos eram que eu estava em um triângulo amoroso, mas as alguns diziam que era improvável ser por causa de mim. Ouvimos até a possibilidade do Allan ser gay, o que eu achei graça, do jeito que aquele cara devia se importar com a masculina frágil dele, essa especulação deve o deixar irritado o suficiente para me deixar em paz.
Recebi olhares estranho até dos meninos do futebol, olhares até de desprezo de quem nunca nem tinha me notado antes. Que saco, talvez eu pudesse pensar na opção da banana podre na casa de Allan ainda, ele merecia depois de hoje.
Passei o restante das duas últimas aulas evitando até erguer o rosto, mas podia ouvir Cris e Ana Paula cochichando sobre o ocorrido e os cochichos que estavam tendo. Resolvi não opinar, sabia que se houvesse uma possibilidade de ter fama por causa de Allan, ela seria negativa.
Hoje era sexta-feira, então Ana pediu aos pais para dormir na minha casa e eles deixaram, quase sempre deixavam quando ela pedia. Ana Paula era uma boa e obediente filha, nunca reclamava, tirava notas boas e não era de ir em festas. Ana passaria a noite lá em casa e iria embora amanhã depois do almoço, vovó nunca a deixava ir embora sem almoçar, ela dizia que Paulinha (como a chamava carinhosamente) podia cair dura de fome pela rua.
— Vovó, os pais dela vem buscar ela de carro — eu dizia. Mas ela sempre esquecia.
Assim que entramos no quarto, quando chegamos em casa, Ana foi até janela e abriu, deixando entrar a luz do dia.
— Você nunca abre essa janela? Está até emperrando.
— Pra que? Além da luz do dia ser forte, tenho medo de entrar algum bicho e picar a vovó — eu guardei minha mochila e a dela e comecei a tirar os sapatos.
— Faz sentido, mas tem que deixar um ar entrar um pouco, faz bem também — ele ficou muda por um tempo, olhando pela janela. — Ai meu Deus, você precisa correr aqui!!
Eu levantei achando que veria um panda andando do lado da minha casa, provavelmente teria muita gente tirando foto já. Pelo jeito que minha amiga falou, só podia ser algo raro, mas não era. Quando olhei, vi que a janela do quarto do vizinho estava aberta, eu sabia que era o quarto de Allan, mas nunca tive o interesse de bisbilhotar. Agora, Allan tinha acabado de tirar a blusa da escola, com ela mesma, secou o abdômen suado. Ele tinha a barriga seca e com vários gominhos, ao julgar pelo bíceps, passava boas horas na academia.
— E esse peitoral... — Ana Paula sussurou ao meu lado, eu não respondi. Até que ele tinha um corpo bonito, eu nunca tinha visto ele sem camisa, porque nunca o reparava, pois ele já deve ter tirado diversas vezes após os jogos. — Você está babando!
— Diga isso de você mesma — eu me afastei da janela na hora, claro que não estava babando. Mas quando virei de costas, passei os dedos na boca para conferir. Não estava babando coisa nenhuma.
— Eu nunca escondi que ele é um gostoso pra caramba, ele e seu colega, Dylan. Os dois podiam sair na capa da Capricho.
— Sério que você compra essa revista?
— Todo mês, desde os 13 anos.
— Achei que tinha parado com isso. — eu fiquei encarando-a e ela deu de ombros, tirando uma muda de roupa da mochila e colocando sobre a cama.
— Me deixa, valeu? — ela pegou a roupa e foi para a porta. — Consegui driblar você, eu vou tomar banho primeiro!
E depois de gritar isso ela correu para o banheiro e ouvi o trinco da porta, o banheiro ficava no corredor próximo ao quarto, para facilitar a ida a noite da vovó. Que por acaso neste momento estava na sala costurando e esperando sua novela da tarde começar. Enquanto eu tinha que esperar a bonita sair do banheiro, uma parte de mim me fez querer espiar a janela mais uma vez, então levantei rápido antes de Ana voltar e fui até a janela.
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Amor em Cores Pretas | CONCLUÍDO
RomanceRebecca não estava entre pessoas mais populares da escola e nem entre as mais esquisitas, era como um meio termo. Mas para ela, pouco importava ser alguém conhecida no ensino médio, era melhor que não fosse mesmo. Bastava a amizade com seus melhores...