Rebecca não estava entre pessoas mais populares da escola e nem entre as mais esquisitas, era como um meio termo. Mas para ela, pouco importava ser alguém conhecida no ensino médio, era melhor que não fosse mesmo. Bastava a amizade com seus melhores...
Passei as férias quase toda assistindo a vários filmes clichês e me entupindo de doces, não tinha nada pra fazer. O único dia mais agitado das férias, foi quando uma penca de parente veio visitar vovó e minha mãe veio junto. Eram tios, tias e primos para todo o canto da casa pequena, a minha única salvação era Apolo que ainda não tinha ido embora. E uma prima nossa que tinha quase a minha idade, então nos dávamos bem, mas eu desconfiava que Apolo e ela já tinham saído e isso me deixava desconfortável.
Foi um dia animado, que seguiu para o que considerei prematuramente ser o pior dia do ano, quando Apolo teve que voltar pra sua faculdade. Chorei muito nesse dia e devo ter engordado 5kg de tanto que comi. Agora minha vida se resumia em comer e estudar, esse era um ano decisivo, ano de escolher o curso que eu escolheria e que ia mudar minha vida para sempre. Se eu estava preparada? Obviamente não, mas os professores estavam se esforçando para que a gente estivesse perto disso, então foi um ano de muitas trabalhos, provas e conversas sérias sobre o nosso futuro.
E tinha ainda a minha carta do ano passado, esse ano voltou a ter correio elegante e foi horrível, pois as palavras da cartinha que recebi ano passado estavam gravadas na minha cabeça, eu sabia letra por letra de tanto que tinha lido inúmeras vezes ao longo dos meses. Era louco pensar que comecei a sentir falta de alguém que eu corria e desejava distancia, mas tivemos o lance de um, ou quase dois beijos, que me deixaram pensando por um bom tempo na época, e agora ele estava a milhas de distância. Talvez não lembrasse de mim, talvez estivesse feliz por estar longe de mim e viu a loucura que estava cometendo ao dizer aquelas coisas pra mim. Enfim, eu não tinha ideia de nada, só podia deduzir certas coisas pelas fotos que eu conseguia ver pelo Facebook, era aberto, então as raras vezes que ele postava algo, eu via. Eu sabia que um dia ia esquecê-lo e ele seria só uma lembrança do passado, uma história para os meus netos, se eu tivesse filhos algum dia, mas por enquanto eu só me esforçava em tentar pensar em um garoto que estava mais perto e mais sólido.
Talvez fosse a hora de encarar Victor de uma vez e ver no que daria, mas pra isso eu teria que passar algum tempo com minha mãe e eu realmente não queria isso. Estávamos ótimas longe uma da outra, eu a amava, claro ela era a minha mãe, mas a minha avó era alguém que talvez eu fosse sentir mais falta se perdesse. Eu nunca diria isso pra ninguém em volta, principalmente pra minha mãe, mas era uma verdade que lá no meu interior eu sabia.
Esse ano eu ainda não tinha ido ver os shows dos meus amigos nenhuma vez, sempre inventava alguma desculpa, pois ver Leth me fazia lembrar do primo dela e provavelmente ela sabia o que tinha acontecido, poderia ser algo mais complexo ou nada de mais. De toda forma, era melhor eu tentar esquecê-lo, sei que isso não ia ser possível se eu continuasse olhando o Facebook dele, mas era mais forte que eu. Então eu só estava sempre ao telefonema com Leth e Gabi enquanto colocávamos a conversa em dia sobre shows, família e coisas de meninas da nossa idade.
— O que está fazendo agora? — perguntou Gabi, estava em uma chamada juntas com Leth e o telefone estava no viva-voz na pia do banheiro.
— Pintando a metade do cabelo de azul, cansei de verde. Ana Paula está me ajudando com isso — acrescentei, sentindo o pente passar em meus cabelos enquanto Ana o pintava.
— Eu estava dizendo a ela para cortar essas madeixas, da muito trabalho pra pintar e ela me faz de sua cabeleireira — disse Ana se inclinando para o telefone.
— Ah, não! O cabelo dela é tão lindo — respondeu Leth, com uma voz fofinha.
— Já pensou em alisar pra ver como fica liso e pintado, amiga? — a voz de Gabi saiu pelos autofalante do celular.
— Já o fiz, a cabeleireira na época saiu com o braço doendo, quase chorando. Gosto dele assim.
— Não, eu também! Só não lembro de ter visto como fica liso, mas deixe seus cachos sempre naturais.
— E você acha mesmo que um corte ficaria legal? — eu quis saber, curiosa.
— Quer saber? Eu acabei de ter uma ideia, nós todas vamos para a mesma faculdade ano que vem, que tal irmos com o mesmo corte? Curto.
— O meu cabelo já é curto, Gabi — lembrou Ana, terminando de pintar da metade pro fim do meu cabelo.
— Melhor ainda!
— Mas o meu é muito cacheado, vai ficar estranho — falei, pensativa.
— Vai nada, amiga, está na moda! — se animou Leth e Ana e eu nos entreolhamos pelo espelho a minha frente.
— Então é isso, ano que vem estaremos todas em um salão fazendo o mesmo corte...
— Assim que se fala! Meninas, tenho que dizer, a faculdade me assusta...
— A mim também — concordou Ana.
— Eu estou apavorada, não sei o que esperar — confessei.
— Então somos quatro! — Gabi completou, o timbre da voz mostrando o quanto também estava amedrontada.
— Tudo vai dar certo.
— Com certeza, só espero que uma de vezes escolha o mesmo curso que eu para não me sentir sozinha — disse Ana e nós gargalhamos.
Então era isso, corte novo ano que vem, faculdade, novas amizades, novos desafios e nova vida. Antes, precisávamos passar na prova do Exame Nacional para entrarmos em uma boa faculdade sem pagar, por isso caímos matando nos estudos, sem descansar.
No fim do ano, estávamos todos em um sábado ensolarado tremendo e suando ao fazer a prova que mudaria nossas vidas. As coisas estavam incertas, eu não tinha uma vida amorosa, pois tinha demorado tanto a falar com Victor que quando consegui aparecer em sua localidade, ele já estava de mãos dadas com outra garota. Me senti não merecedora de um garoto tão bonito. As coisas também não estavam boas para Ana, ela e Henri decidiram terminar o suposto relacionamento que tiveram, ele tentou dormir com ela novamente e ela não quis, então pararam pacificamente o que tinham e Henri partiu para outro país, para jogar profissionalmente, alguns outros garotos se foram também, tendo sorte com olheiros. Gostaria de saber se Allan sabia que seus amigos também estavam se mudando. E eu, voltou a fazer luzes verdes nas madeixas, tirando o azul.
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