REBECCA
O carro era top, tive que admitir, era grande e os bancos eram de couro branco. Tudo estava cheirando a novo e estava impecavelmente limpo. Letícia estava certa quando disse que Allan dirigia bem, ele era atento e não corria a toda velocidade mesmo que as pistas estivessem totalmente vazias pela hora que era.
E no fundo, bem lá no fundo do meu ser, tive que admitir que era bonitinho a visão dele dirigindo. Não que eu tivesse encarado muito, eu olhei apenas uma vez e fiquei observando o caminho enquanto seguíamos tranquilamente pelas ruas silenciosas. Eu quase nunca andava de carro, então queria aproveitar o momento, coloquei a cara pra fora da janela igual via as meninas fazerem nos filmes, mas fiquei arrepiada quando senti a mão de Allan no meu braço, me puxando de volta.
— Quer causar um acidente? — ele resmungou, autoritário.— Eu não ia me machucar, deixa de ser chato.
— Talvez todos nós sim, é impossível eu me concentrar na estrada se tiver que olhar pra você também — ele dizia e me olhava rapidamente algumas vezes.
— Olhe pra pista então!
— Se você não me preocupar mais colocando a cabeça pra fora igual um cachorrinho — ele riu e eu arfei, não acreditando que ele tinha me comparado a um cachorro.
— Não briguem, por favor, eu os amo — levei um susto com a voz de Leth no banco de trás, ela se virou se costas e voltou a ficar quieta, acho que estava delirando.
— É melhor você não me comparar a um cachorro de novo — eu avisei, sussurrando desta vez.
— Cachorros são fofos e você também — ele sorria, ao contrário de mim, que estava super sem graça. Eu? Fofa? O que estava acontecendo com o planeta?
Chegamos rápido na casa de Leth, ajudei Allan a tirar ela do carro e fomos até a porta da frente, que estava destrancada. Eu achei um absurdo, mas não falei nada, levamos ela até o andar de cima onde ficava seu quarto e ele me ajudou a colocá-la na cama. Letícia nem se mexeu mais, só suspirou e começou a roncar. Fiquei parada sem saber como proceder já que minha anfitriã estava bêbada e dormindo, então Allan me pegou pelo braço e me levou pro andar de baixo novamente, eu me sentia estranha com o contato dele, mas não consegui falar nada dessa vez. Todos deviam estar dormindo e eu era como uma intrusa, então não queria fazer o mínimo barulho.
— Senta — Allan disse quando chegamos na sala, as luzes estavam apagadas, mas as janelas eram de vidro então a luz da rua iluminava um pouco o ambiente. Me sentei ao seu lado sem saber muito o que fazer, talvez ele tivesse onde dormir e eu dormiria no sofá. Por mim estava ótimo.
Ficamos em um silêncio constrangedor por um bom tempo, ele estava simplesmente me encarando e eu fingindo que não via. Tirei o meu tênis e coloquei ao lado do sofá, depois me sentei comportadamente de novo sem quase nem respirar.
— Todos estão dormindo a essa hora — ela sussurrou.
— Percebi — eu sussurrei também. Então fiz a coisa errada, olhei para Allan e não consegui desviar de volta. Mal dava para ver seu rosto, mas parecia que seus olhos cor de mel brilhavam, ele não sorria desta vez, estava sério.
Acho que ele interpretou meu silêncio mal, porque começou a aproximar o rosto do meu, bem devagar, eu simplesmente não me mexi. Por um momento não sabia o que queria e o que não queria, só fiquei parada enquanto Allan se aproximava mais, até estar perto o suficiente para eu sentir sua respiração e sua mão envolveu meu rosto.
— Vou beijar você — ele disse, mas não me deu tempo de responder a pergunta que ele não tinha feito, ele simplesmente começou a me beijar apressadamente. E por algum motivo meus lábios acompanharam os dele nessa loucura, retribuindo totalmente o beijo.
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Amor em Cores Pretas | CONCLUÍDO
RomanceRebecca não estava entre pessoas mais populares da escola e nem entre as mais esquisitas, era como um meio termo. Mas para ela, pouco importava ser alguém conhecida no ensino médio, era melhor que não fosse mesmo. Bastava a amizade com seus melhores...