ALLAN
Eu queria muito impressionar ela, era a primeira vez que a vi olhar com interesse para o campo, ela iria mesmo fazer aquilo, iria mesmo me assistir jogar. Muitas outras garotas já tinham me assistido jogar sem que eu precisasse pedir, e eu já tinha feito gols para elas, mandando beijos, feito danças. Mas a diferença era que todos sabiam para quem eu estava me mostrando.
Hoje não, se fizesse um gol, olharia para ela, e ninguém saberia para quem era, talvez ela soubesse e ficasse envergonhada. Tinha certa beleza nisso, tinha um ar mais empolgante em fazer um gol para ela, eu não saberia explicar melhor o por quê dessa vez era diferente.
Mas eu sabia que era.
Então quando tive oportunidade de fazer o gol, olhei pelo canto do olho para ter certeza de que ela ainda estava assistindo, e foi nessa que um jogador do outro time se chocou com toda força em mim, propositadamente. A dor foi intensa, então eu soube que tinha sido sério, eu rugia de dor, meu treinador estava com uma raiva e também estava nervoso. Me levaram para fora de campo.
Fora a dor que consumia meu corpo, meu pensamento estava nela, queria que Becca viesse atrás de mim, preocupada. Fui levado para a enfermaria para os primeiros cuidados e ver a gravidade da situação. Meus pais vieram logo atrás, bastante preocupados, e o pior foi dito bem na minha frente e sem rodeios. Eu tinha deslocado o ombro, poderia ficar meses sem jogar. Meus pais me acompanharam na ambulância e fizemos todos os procedimentos, alguns mais dolorosos do que outros.
Homem chorava sim e eu era a prova viva deste fato.
Fui liberado rapidamente com vários papéis de medicamentos para comprar e a chapa do meu ombro deslocado. Colocaram uma tipoia em mim e o médico disse que eu melhoraria rápido, eu tinha uma boa recuperação, já tinha quebrado outras partes do corpo jogando bola e o médico me conhecia bem.
Quando cheguei em casa, parecia que tinha um velório acontecendo ou um aniversário, pois haviam muitas flores ao redor e muitos presentes. Ursos, cartas de meninas do colégio e guloseimas. Haviam lá suas vantagens, a primeira coisa que fiz foi pegar as guloseimas e dizer a todos da casa para não tocar em nenhuma delas. Pelo visto o pessoal era bom em achar endereço das pessoas, eu precisava aprender essa proeza também, além das ligações; o telefone da casa não parava de tocar com pessoas querendo saber como eu estava. Anunciei que só queria atender a uma ligação caso houvesse, o nome da garota era Rebecca, deixei bem explícito para os moradores daquela residência.
***
REBECCA
Ele estava bem. Sabia disso porque tinha ficado na janela da sala desde que cheguei da escola para ver quando ele chegasse em casa. Tinha quase certeza que ele tinha sido levado ao hospital, então fiquei horas esperando, quase dormindo, na janela da sala. Sendo questionada por vovó o motivo da vigia, inventei qualquer desculpa e não desgrudei os olhos da rua até ver um carro estacionar em frente a casa ao lado. A família saiu com caras tranquilas, Allan estava até sorrindo, mas estava com uma tipoia que segurava seu braço, um pano cobria seu ombro também, mas ele andava tranquilamente, ainda com as roupas de jogador.Não sei porque, mas me sentia aliviada agora, pude tomar banho e fazer as lições de casa, ele era um ser humano, valia a preocupação. Foi isso que mantive em pensamento enquanto varria a casa e colocava a roupa pra lavar, o pior já tinha passado e eu mantive a promessa de assistir ao jogo todo. Estávamos quites. Ou pelo menos eu achava que estava, até a desconfiança vir com uma ligação muito suspeita de uma voz muito conhecida.
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Amor em Cores Pretas | CONCLUÍDO
RomanceRebecca não estava entre pessoas mais populares da escola e nem entre as mais esquisitas, era como um meio termo. Mas para ela, pouco importava ser alguém conhecida no ensino médio, era melhor que não fosse mesmo. Bastava a amizade com seus melhores...