Capítulo 23

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Allan

Reparei algo que provavelmente ninguém mais na mesa tinha reparado, Becca de repente tinha ficado meio sem cor e sua amiga a acompanhou para longe, foram para algum lugar, provavelmente pro banheiro. Não queria, mas fiquei preocupado, se ela estivesse passando mal, tinham que procurar a enfermaria, se a coisa ficasse feia, com certeza a menina pequena ao lado de Rebecca não ia conseguir carregá-la para fora do banheiro, se estivessem ido pra lá, afinal.

A próxima aula já ia começar e lembrei na hora que precisava do meu notebook que estava no carro de Dylan, então me despedi do pessoal que já se levantava dizendo que os via na aula e fui para o estacionamento. Estava passando pelas filas de carros estacionados quando dois corpos pequenos abaixados entre um carro e outro me chamaram a atenção, eu já estava passando direto e tive que voltar pra ver o que era, pois uma cor verde tinha me despertado a curiosidade.

E eu estava certo, o verde do cabelo de Rebecca, apesar de em poucos mexas agora, me era inconfundível, fiquei preocupado quando ouvi um choro e um fungar de nariz e me aproximei delas rapidamente.

— Ei, o que aconteceu? Está tudo bem? — eu me agachei perto delas e vi Rebecca se afastar da amiga e virar o rosto para o outro lado enquanto limpava as lágrimas dos olhos. — O que houve, Ana? Por que ela está chorando?

Eu não queria ser indelicado, mas esperava que elas entendessem que só estava preocupado.

— Ela só... está com... — Ana claramente estava querendo mentir para acobertar a amiga. O que só me deixou frustrado.

— Dor de cabeça, só estou com dor de cabeça — Rebecca disse, voltando o rosto pra frente, mas nunca para minha direção.

— Entendi... Dylan deve ter algum comprimido no carro, vocês tem alguma garrafinha de água aí? — eu disse. Me sentia no dever de ajudá-las, como homem, na Coreia os garotos e homens de lá praticamos carregavam as moças nas costas para elas não pisarem em poças de água na chuva, eu meio que tinha começado a pegar esse costume de lá, seria difícil mudar. E não era como se isso fosse algo ruim.

— Ela tem uma na bolsa, vou lá buscar — Ana se pôs de pé tão rapidamente quanto saiu, me passou pela cabeça que ela queria nos deixar sozinhos. Ou só queria ajudar a amiga o quanto antes. Voltei minha atenção para a menina sentada no chão a minha frente e estendi as mãos.

— Venha, vou te ajudar a levantar. — ela hesitou, mas deixou que eu a ajudasse. Suas mãos que eu sabia serem quentes, estavam frias e eu me assustei, o tempo estava fresco, não estava frio para ela estar com a temperatura tão baixa. — Você está muito gelada.

— Estou bem — ela abraçou o próprio corpo evitando me olhar. Subitamente levei a mão até sua testa, como minha mãe fazia e notei que também estava gelada, mas ela estava suando.

— Acho que tem algo errado com você.

— Provavelmente — ela resmungou bem baixinho, me levando a crer que não estavamos falando sobre a mesma coisa.

— Não quer ir pra enfermaria? — eu comecei a me afastar na direção do carro, esperando ela me seguir. Tive que chamar com as mãos, quando vi que ela continuou em pé no mesmo lugar.

Não olhei mais pra trás, apenas segui até o carro de Dylan e abri pra procurar algum remédio. Achei uma cartela e saí do carro para dar um à ela. Sua amiga já devia estar voltando, então apenas a fitei, enquanto ela olhava em outra direção. Não imaginava que um dia iria tocá-la de novo, na verdade achei até que não a veria mais, já que estava morando em outro lugar e bem longe dela. E olha só onde estamos agora, sozinhos em um estacionamento e comigo gravando cada detalhe dela, me levando a perceber que não tinha esquecido ela completamente, algo nela ainda despertava uma sensação em mim. Comecei a lembrar da época em que eu praticamente corria atrás dela, mas meus pensamentos foram interrompidos quando ouvimos passos vindo correndo e vimos Ana ofegante e com uma garrafinha de água verde.

Amor em Cores Pretas | CONCLUÍDO Onde histórias criam vida. Descubra agora