Flashback
A aula de artes é a única que a sala se silencia por completa. Agora não sei se é pelo fato de todos os alunos gostarem de desenhar ou se era medo da professora. A face da mulher é assutadora e os seus óculos redondos sustentando o meu argumento.
Olho para Dylan por cima do ombro, mas me arrependo imediatamente, pois o mesmo também me encarava. Ele não manteve a sua atenção em mim, e desviou os olhos.
Suspiro fundo e devolvo a atenção a minha obra. A mestre da aula disse que queria um desenho de cada aluno com o seu pai. Engoli o seco na hora, e a tristeza se espenhou rapidamente sobre mim, fazendo os meus olhos ficarem marejados.
Então resolvi desenhar uma pessoa melhor, a mamãe. Ela tem uma beleza extrema, e assim, a professora nem irá ligar para a imagem do meu pai.
- Você é surda? Deve desenhar o seu pai - Ouço a voz irritante do Luiz ao meu lado. Sabia que não era uma boa ideia me sentar perto dele, porém, Dylan é o meu único amigo, e por isso sou obrigada a me ajuntar também a esse ai.
- Mas lá em casa só é eu e minha mãe - alego, tentando dar o mínimo de atenção a ele.
- Não importa se seus pais não moram juntos - ele nega a cabeça. Se mamãe não tivesse me chamado atenção sobre violência, ja teria socado a cara dele.
- É melhor calar a boca, Luiz, não ver que está incomodando? Seu idiota... - a voz de Dylan surge, e o encaro por puro reflexo. Ele se encontra em pé, dando um pequeno tapinha na cabeça de Luiz.
- Precisa defender ela em tudo? Só estou evitando uma advertência - ele responde, franzindo o senho, como se estivesse falando o óbvio.
- Posso me sentar com você, Emma? - o garoto questiona, não ligando para o seu amigo enquanto eu tento não sorrir tão boba. Afasto para o lado e ele logo se acomoda.
- Você acha que a professora vai me adverter? - questiono a ele, um pouco pensativa.
Dylan levanta os seus olhos e mostra as suas covinhas num sorriso enquanto negava a cabeça e abria o seu caderno.
- Se ela lhe adverter, eu vou junto - passa o material para as minhas mãos. Luto contra o ataque cardíaco quando vejo o seu desenho. Era eu, os cabelos ruivos voavam pela brisa de notas musicais.
- Posso ficar com ele? - ponho a minha expressão de cachorrinho abandonado.
- Não, eu preciso dele - me torno um pouco triste pela resposta, porém a curiosidade do motivo dela chama mais alto.
- Por quê? - franzo o cenho, e tento não olhar para o vidro da janela, é muito vergonhoso se ver toda vermelha.
- Por que... - Ele estava quase lá. Quase formava a resposta, até que...
- Dylan! Para a sua cadeira, agora! - a professora disse rígida, e o garoto obedeceu.
[...]
O recreio sempre foi meio termo, não gostava muito, a não ser pelas conversas que tinha com o Dylan. Havia de fato um motivo para não gostar de ficar na rodinha de garotas, por que so tinha uma razão para elas me quererem: meu "irmão".
- Dylan! - anuncio feliz enquanto ele se senta a minha frente na mesa redonda. - Luiz... - a voz sai rancorosa quando os olhos batem no garoto ao lado.
- Emma... - ele devolve o tom enquanto se acomoda perto do meu amigo. - Dylan, você está vendo outros garotos sentados com meninas por aqui?
- Você esta vendo outro catarrento por aqui? Ou o idiota do Luiz esta sozinho nessa? - Dylan não se posicionava, mas gargalhou alto por causa da minha fala.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Somos Irmãos
Roman pour AdolescentsEmma, aos 10 anos de idade, nutre sentimentos pelo filho da melhor amiga de sua mãe. Porém, o mesmo a rejeita na época, por considera-la uma irmã. Eles crescem no meio de muitas brigas e confusões, até que Emma começa a sair e conhecer outros garot...