Capítulo 72

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O meu coração se acalmou com o passar do tempo. Foi difícil colocar tudo aquilo para fora, ainda mais quando as falas são dirigidas a pessoa que mais temia contar todo o meu sofrimento. A brisa abraçou meu rosto e ergueu os meus cabelos quando de repente uma figura graciosa surgiu em minha frente. Nessa situação, respirei fundo, para que o oxigênio fluísse em cada célula do corpo. Não queria que Liam me visse daquele modo, chorando por um rapaz que com certeza não deixei de amar. Passei as mãos nos cabelos, em busca de disfarçar o meu total desconcerto.

— Estava lhe procurando – comentou quando os seus dedos tocaram delicadamente em meu braço.
Eu me sentia surja. Um ser incapaz de provar o amor por completo, de se entregar e receber a outra pessoa na mesma intensidade. Dylan havia instalado essa angustia em mim. E eu não queria instalar isso em outra pessoa. Não fornecer esperanças em problemas que não tem solução, assim como o meu amor pelo garoto das covinhas. Acho que nasci castigada a amá-lo.

— Eu estava por ai – respondi, lhe atribuindo um sorriso de canto. Nesse instante eu estava rezando para que não notasse o quanto os meus olhos se encontram vermelhos. Pois eles estavam, mesmo com as diversas idas ao banheiro para lavar o rosto, aquela tonalidade não saia.

— Bem, você quer ir embora? — perguntou ao mesmo tempo que puxa a chave do carro do seu bolso.

— Sim – confirmo com a cabeça.

— Então vamos – ele oferece o braço e eu imediatamente agarro. Só queria que aquela noite acabasse logo.

Caminhávamos em silêncio. Eu esperava que ele falasse sobre o beijo mais cedo, mas Liam se calou. Havia algo diferente nele, como se estivesse mais pensativo, mais distante. Ele parecia estar lidando com algo que eu não conseguia entender. Eu não sabia o que havia mudado, mas sentia claramente a diferença entre nós, mesmo sem palavras.

Talvez seja a minha mudança, a minha decisão final. Eu não queria lhe magoar, então eu não vou vestir esse papel, direi o que deverá ser dito, pois a verdade sempre será a melhor em todas as situações.

Enquanto caminhávamos, passamos por Dylan, que estava entrando no carro de um amigo. Ele nos lançou um olhar enigmático, mas não nos detivemos. Estava claro que ele estava ocupado com o que quer que fosse, e nós preferimos seguir em frente sem comentar nada sobre o encontro. Liam, em silêncio, abriu a porta do carro para mim. Entrei rapidamente, e, em poucos minutos, já estávamos a caminho, o som do motor preenchendo o espaço entre nós. O silêncio ainda reinava, e eu não conseguia deixar de sentir que algo estava fora do lugar, embora nenhum de nós falasse sobre isso.

Foi somente quando Liam estacionou o carro que, finalmente, eu senti que era hora de falar. O silêncio entre nós tinha se arrastado por tempo suficiente, e eu sabia que as palavras precisavam sair de algum jeito. Respirei fundo, preenchendo os pulmões com a coragem que tanto me faltava, e preparei minha mente para o que eu sabia que tinha que dizer.

— Liam, eu quero conversar com você sobre uma coisa — comecei, passando as mãos no cabelo, tentando organizar as palavras que estavam prestes a sair. Ele me olhou rapidamente antes de relaxar os ombros e se acomodar no banco, como se soubesse que o que vinha a seguir não seria fácil.

— Estou pronto para o que vier, Emma — respondeu, a voz tranquila, mas havia uma tensão no ar, como se ele já soubesse onde isso tudo poderia chegar.
Eu me forcei a olhar para ele, sentindo o peso das palavras que eu estava prestes a soltar. Tentei manter a calma, mas uma parte de mim sabia que essa conversa poderia mudar tudo entre nós.

— Eu percebi hoje que ainda amo o Dylan — comecei, e uma dor sutil atravessou meu peito, mas eu precisava ser honesta. — E não quero ficar dando esperanças a você. Eu gostaria muito de te amar, mas, infelizmente, não é amor que eu sinto por você. Espero que entenda, e assim possamos seguir como bons amigos.

Eu sabia que aquilo era o mais certo a fazer, embora a tristeza tomasse conta de mim. Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas, no fundo, sabia que não podia continuar levando alguém a acreditar em algo que não era real.

—Emma, eu entendo você — disse Liam, o tom de sua voz surpreendentemente calmo, enquanto um pequeno sorriso aparecia em seu rosto. — E não se preocupe, eu não vou te odiar por isso. Eu queria muito te chamar de namorada e ser o cara que você olhava da mesma maneira que vi você observar o Dylan. E hoje, eu também percebi muita coisa… — ele fez uma pausa, como se pensasse cuidadosamente nas próximas palavras. — Eu nunca vou conseguir ser ele. E percebi que, quando você está entre duas pessoas que se amam, nunca vai dar certo.

Eu neguei com a cabeça, tentando afastar a ideia que ele tinha sobre Dylan.

— Ele não me ama — eu disse, mas havia uma dúvida silenciosa que me atormentava.

Liam olhou para frente por um momento, como se estivesse refletindo.

— Hoje, eu tive uma conversa com Dylan mais cedo. Ele disse que era para eu te fazer feliz. — Suas palavras me pegaram de surpresa — Eu nunca tinha visto o Dylan desistir de algo para beneficiar o próximo. Então, eu acho que ele deve sentir algo por você, e não apenas uma obsessão como eu tinha imaginado.

***

As palavras de Liam ficaram ecoando na minha mente, um turbilhão de sentimentos contraditórios que não consegui processar imediatamente. O que ele disse me fez pensar em Dylan de uma forma diferente, uma forma que eu ainda não estava pronta para compreender completamente. Precisei me afastar por um momento, sair do quarto, tomar um pouco de água para tentar acalmar o coração que estava batendo forte.

Quando desci as escadas, minha mãe estava chegando em casa, vindo do plantão. Ela tirou o casaco e o colocou no gancho perto da entrada, e me olhou com aqueles olhos cheios de carinho, mas também de curiosidade. Algo nela parecia perceber que eu não estava bem.

— Mãe — disse, correndo para abraçá-la.
Ela me apertou contra si, sentindo que algo estava diferente.

— O que aconteceu com minha pequena? — Ela perguntou, a preocupação no tom de sua voz.

Eu respirei fundo antes de responder, a dor ainda presente em minhas palavras.

— Eu despachei um cara que iria me fazer bem — falei, tentando esconder a fragilidade por trás do que dizia.
Ela me olhou com carinho, mas seus olhos estavam atentos, como se soubesse que havia mais do que eu estava revelando.

— Mas você iria fazer bem a ele? — ela perguntou, passando as mãos pelos meus cabelos, de um jeito que só ela sabia fazer, como se tentasse me acalmar. — Emma, minha querida, não podemos estar com alguém apenas porque ela nos faz bem. Temos que nos sentir completas, e, acima de tudo, temos que amar a pessoa de verdade.

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