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Hailey Rhode - Florença, Itália

Andar de trem não é tão interessante quanto minha cabeça fazia parecer. Estamos a vinte minutos sentados nessa locomotiva e agora já não sinto nada além de um forte tédio me consumindo. No começo foi empolgante, tirei fotos da janela e fiz vídeos da paisagem, mas um tempo depois ficou... Chato.

Justin já parece acostumado com isso, deve ser porquê ele é um chato. Ele está com a cabeça recostada no assento, o corpo relaxado e os olhos levemente fechados, sua mão está relaxada no meu joelho e a outra, está cercando minha bolsa e sua mochila.

Olho para fora e vejo apenas muito mato. Como se estivessemos passando por um grande campo sem fim. Olho ao redor e as pessoas parecem entretidas com livros, conversando com a pessoa ao seu lado ou ouvindo uma música.

Isso é puro tédio!

- Sabe, não tinha uma boa relação com meu pai. - Justin toca no assunto de repente e me viro para ele surpresa.

Ainda não estou acostumada em vê-lo se abrir. Na verdade, nem deveria. O conheço a quase uma semana, ou seja, eu mal o conheço. Não tenho que estar acostumada, porquê não sei quem ele é, mas parece que estou começando a descobrir.

- O que?! - Pergunto espantada e ele se vira para mim.

- Nunca tive uma boa relação com o meu pai. Quer dizer, acho que tive antes dos meus cinco anos, mas isso é passado. - Ele diz friamente e eu tenho receio de perguntar mais.

- Por que? O que aconteceu entre vocês? - Minha curiosidade fala mais alto que meu receio.

- Acho que foi com uns cinco anos que vi meu pai bater na minha mãe. - Engulo a seco, tive que engolir. - Eu cheguei da escola mais cedo, eles estavam na sala e ele estava em cima da minha mãe, fazendo uma coisa que eu sabia que não era legal. Eu corri pra cima dele e tentei parar o que ele estava fazendo e adiantou. Até hoje eu me pergunto se ele parou porquê me viu e se arrependeu ou porquê minha mãe chorou e ele sentiu o peso.

- Sua mãe não estava chorando? - Pergunto por curiosidade e ele nega.

- Minha mãe é uma mulher forte, muito, muito forte. - Ele enfatiza e eu não ouso perguntar.

- Então você não gosta do seu pai? Como é isso? - Apoio meu cotovelo na divisória que separa seu assento do meu.

- Não gosto, melhor dizendo, eu odeio ele. Desde aquele dia, passei a odiar ele com toda minha força, mesmo que minha mãe sempre me dissesse que eu não deveria fazer isso. - Ele fecha a mão sobre meu joelho.

- Ele era um bom pai? - Justin me olha como se essa fosse uma pergunta idiota, mas suspira.

- Sim. Ele era um ótimo pai. Ele nunca brigou comigo, mesmo sabendo que sempre odiei ele. Ele me deu várias coisas, pagou meus estudos e fez tudo como um pai exemplar faria.

- O que acontece hoje em dia? Você não fala com ele? Sua mãe continua com ele? - Justin me olha como se eu tivesse fazendo perguntas demais. - Você começou uma história Biebs, por favor, termine.

- Tudo bem. - Ele se ajeita na cadeira, confortável para contar uma história difícil. - Fui um adolescente rebelde, justamente por odiar ele. Quando fui morar na faculdade, eu ficava preocupado porquê eu sabia exatamente o que acontecia em casa, mas infelizmente eu não podia fazer muito. Não tinha como eu pedir para minha mãe e meus irmãos virem morar comigo em um dormitório que eu já dividia com um cara.

- Eu imaginei que você tivesse sido um adolescente rebelde, precisava dizer isso. - Esse é o único momento em que ele ri.

- Bom, quando eu voltei da faculdade, onde eu fiz muita questão de fazer muitos contatos. Quando sai, fiz uns trabalhos para alguns artistas famosos e não demorei muito para conseguir um apartamento grande. Levei meus irmãos e minha mãe para lá, acho que morei com eles por um ano antes de ir morar com a Madeline, mas deixei eles no apartamento. - Um brilho tomou conta do olhar dele na parte final dessa história.

- E seu pai? Disse algo?

- Eu disse que se ele dissesse ou fizesse algo, eu iria na polícia e denunciaria ele, mesmo que essa não fosse a vontade da minha mãe. - Ele esclareceu. - A única opção dele foi seguir a vida sozinho.

- Como assim sua mãe não queria denunciar? - Deixo meu choque bem claro no meu tom.

- Ela pensou nos meus irmãos mais novos. Eu tinha visto o que ele fazia, mas eles não. Tanto que meus irmão até hoje não sabem de nada, continuam visitando ele normalmente. Eu respeitei a decisão dela, afinal, ela ainda é a mãe.

- E como ele está hoje em dia? Você sabe? Saiba que espero que ele esteja bem mal! - Ele sorri para mim.

- Casou outra vez, tem duas filhas. Uma deles e outra apenas da mulher que ele casou, que ele adotou como se fosse dele.

- Conheceu elas? Elas são...

- Não conheci e nem quero. Eu tenho pena delas, porquê provavelmente elas sofrem exatamente como eu sofri e só não sabe, como meus irmãos não sabem. Mas a vida delas ou dele, não me interessa mais.

- Tudo bem. Você tem seus motivos. - Aperto sua mão que estava em meu joelho e ele sorri.

- É, eu tenho.

- Não estou querendo desmerecer sua história e nem te ofender, mas por quê me contou isso? Você não precisava ter se exposto tanto assim para mim. - Ele ergue os ombros indiferente.

- Acho interessante a ideia de desabafar com uma completa estranha, que não sabe quase nada sobre mim e não conhece as pessoas ao meu redor. - Ele ironiza.

- Ha. Ha. Ha. Fala sério, por que me falar tudo isso?

- Me contou sobre seu pai, também não precisava ter falado. E sinto que fui um pouco grosso quando você falou do meu pai hoje mais cedo. Só quis ser gentil e também corrigir isso, nada demais. - Ele explica como se realmente não fosse nada.

- Obrigada Justin, isso foi tudo. - Me aproximo e dou um selinho rápido em seus lábios, que faz um sorriso crescer em seu rosto.

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