Já eram quase 21hrs quando Nanda surgiu no quarto animada. Fico feliz em vê-la assim, visto que mais cedo ambas estavam chorando as mágoas e cheias de problemas.
- Filipe vai fazer um show massa hoje, vamos? - Sinceramente, depois do que ela me falou tudo que eu quero desse Filipe é distância.
Depois que Nanda desabafou, terminamos de ver o filme e vim para o quarto deitar um pouco, foi quando consegui assimilar tudo que ela disse. Filipe Ret é um dos maiores rappers do Brasil, e é uma loucura quando tento associar sua imagem com a de Nanda. Eles tinham vibes completamente opostas. E parecia mais louco ainda entender que o cara que passei minha adolescência ouvindo é irmão da única amiga que posso contar agora e eu não tinha ideia disso.
Me desvencilhei dos pensamentos tentando ao máximo separar o Filipe Ret artista, da sua pessoa de verdade. Principalmente depois de tudo que Nanda me contou. Fora que tudo que está acontecendo na minha vida agora, não tenho tempo para me deslumbrar com fama alheia, ela não vai resolver meus problemas. Quem é famoso é ele, não eu.
- Ah Nanda, não sei... Não sei se estou com cabeça. - Lamento e ela me olha com insistência.
- Eu sei que você tá triste, mas você também merece se divertir. Esquecer de tudo um pouco. - Ela senta na cama em que eu estou deitada. - Vamos, por mim.
- Tudo bem, vamos. - Bufo e levando. - Com essa cara de piedade é difícil dizer não, né. - Ela sorri e se levanta.
- Vem, vamos escolher uma roupa pra você. - Levanto em seguida e sigo ela até seu quarto.
Eu não estava animada, mas a mesma tinha razão. Eu não iria resolver meus problemas deitada me lamentando. Apesar da culpa que estava sobre mim, eu não mereço carregá-la. A minha vida toda ela está sobre as minhas costas, e apenas por uma noite eu queria poder me divertir sem culpa.
Foi difícil encontrar uma roupa que ficasse boa em mim no guarda roupas da Nanda. Apesar de também aparentar ser magrinha, ela tinha muito mais corpo que eu. O que dificultou mais ainda. Por fim, escolhemos uma saia preta, um body de tule e nos pés um salto. Dei uma boa olhada no espelho depois de toda aquela produção o meu coração acelerou, não pude conter o sorriso. Eu estava linda, eu estava me sentindo linda, quando tempo não sentia essa sensação.
Saímos da casa de Nanda já eram quase 23hrs, eu estava desacostumada a ficar acordada até tão tarde. Minha vida sempre foi resumida em acompanhar a rotina da minha mãe desde que me entendo por gente. Eu estava nervosa com toda essa mudança repentina.
Pedimos o uber e em alguns minutos estávamos no local. Quando chegamos, reparei que não entramos pela entrada principal como as outras pessoas, o motorista nos deixou na parte de trás do espaço.
- Fala aí, Lincoln! - Nanda cumprimenta o enorme cara que estava na porta e adentra o local, eu apenas imito seus movimentos.
Seguimos pelo local, pessoas com camisas de produção passavam de um lado para o outro e nem se quer notavam a nossa presença. O som alto e os gritos da plateia anuncia que já estava tendo apresentação no local. Nanda apressa os passos e eu faço o mesmo. Passamos por um corredor estreito e escuro e no final do mesmo, saímos na área do camarote.
O espaço com certeza era reservado apenas para artistas, deduzi pela pouca quantidade de pessoas e diferente dos camarotes tracionais em casas de show, esse não havia divisão. Quando chegamos mais próximo, pude ver que estávamos acima da plateia com uma vista privilegiada do show.
- Ele deve entrar já já. - Nanda comenta ansiosa.
O camarote contava com uma mesa enorme repleta de comida, freezers com bebidas, e destilados separados em uma prateleira. Aquilo definitivamente estava longe da minha realidade, se por um acaso eu estivesse nesse show sem a Nanda, com certeza seria lá em baixo suando no meio do povão.
- Nandinha! - Uma voz nos chama atenção - Pensei que não viria hoje.
- Quis fazer surpresa. - Ambos riem e então Nanda se vira pra mim. - Lennon, essa aqui é a Babi, minha amiga. - Impossível não reconhecer o cara que sempre está no feed das páginas de fofoca, L7.
- Muito prazer! - O cumprimento e após faço o mesmo com a menina que o estava acompanhando. Logo eles seguem para o outro canto do espaço.
Não que eu estivesse habituada com tudo isso, mas nesse momento da minha vida nada disso estava enchendo meus olhos. Óbvio que era uma honra estar assistindo um show de um camarote cheio de famosos enquanto metade do Rio de Janeiro estava se espremendo lá em baixo na pista. Mas, a minha cabeça estava longe, tudo o que eu conseguia pensar era minha mãe.
- Com vocês, Filipe Ret! - O cara no microfone anuncia e a plateia vai a loucura. Eu e Nanda seguimos para ponta do camarote para que pudéssemos assistir ao show.
Quando soa a batida da primeira música, eu sinto o peso que tem sob as pessoas que estão presente. Gritos novamente invadem o local, e ficam ainda mais alto quando o mesmo pisa no palco. Era difícil diferenciar a imagem do Filipe artista com o Filipe babaca que Nanda falou mais cedo. Mas não podia negar, tudo estava impecável para ser um show histórico para aqueles que estavam presente.
- Pra você, amiga. - Só percebo a ausência da Nanda quando a mesma me estende uma taça de drink. - Ele é foda, não é? - Ela olha para o palco com brilho nos olhos, o orgulho estava nítido. Concordo com a cabeça evitando expor muito a minha opinião.
O show já havia acabado e o camarote que antes estavam apenas algumas pessoas, agora estava cheio. Muitos rostos conhecidos circulavam o local. Estava saindo do banheiro quando vi de longe Nanda conversando com uma menina, mas sua expressão não estava das melhores.
- Quer saber? Eu não preciso mais de você, o que eu queria eu já consegui. - Consigo escutar a menina falando quando me aproximo delas. Quando nota a minha presença, a menina me olha de cima a baixo e se afasta. Retribuo o olhar de deboche e vejo a mesma a caminhando tranquilamente em direção a Filipe.
- Amiga, está tudo bem? - Ao contrário da garota, Nanda estava vermelha e com a respiração ofegante. Me viro para buscar água mas quando olho para onde estávamos, Nanda já não estava mais lá.
Deixo a garrafa de água em cima da mesa e o medo toma conta de mim, não apenas por estar sozinha em um lugar que eu não conheço ninguém, mas também por Fernanda, ela não estava bem. Procuro entre a multidão de pessoas e não consigo encontrá-la em lugar nenhum. Caminho apressada até o banheiro e olho todas as cabines, ela também não estava lá.
Empurro as pessoas que não faziam esforço para sair do meu caminho e sigo a procurando. Entro na saída para fumante e meu coração acelera quando vê o estado da mesma. Me aproximo com cuidado e tento tirar todos os gatilhos possíveis da minha cabeça. Eu já estive naquela situação antes, eu já cuidei da minha mãe naquela situação antes.
O peito de Nanda subia e descia profundamente, seus braços balançavam em busca de ar e as lágrimas não paravam de cair. Ela estava tendo uma crise de ansiedade. Respiro fundo e junto forças para ajudá-la. Seguro em seu rosto na tentativa de fazê-la olhar pra mim, coloco sua mão sobre meu peito e peço para que ela acompanhe minha respiração tranquila. O barulho de vozes, a música alta, o cheiro do tabaco, nada disso estava ajudando. Eu preciso tirá-la daqui.
Pego meu celular dentro da bolsa que carregava mas essa porcaria havia descarregado, maldito celular que não dura uma hora longe do carregador. A respiração de Nanda ficou ainda mais forte e a sensação de estar sem ar tomava conta dela aos poucos, senti seu coração acelerar e o nervosismo tomou conta de mim e respirei fundo novamente para pensar com clareza. Corri em direção ao camarote novamente em busca da única pessoa que poderia ajudar naquele momento, Filipe.
- Filipe? - Disse quando cheguei a rodinha onde haviam algumas pessoas conversando com o mesmo. - Filipe? - Elevei meu tom de voz e recebi olhares estranhos. - Caralho, você está surdo? - Gritei e então todos que estavam presentes na roda olhavam pra mim. - A Fernanda, ela está tendo uma crise de ansiedade.
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WAR com Filipe Ret • By Tory
Fanfic"Somos reféns da nossa chama, réus do desejo que arde. A ilusão nos acompanha e o fim segue desconhecido. Luxúria ou Trauma? Não se preocupe, sou obstinado e, só pra você lembrar, estou louco para voltar." - Obra ficcional. Nada escrito condiz com a...