Capitulo 63

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P.O.V Bárbara Castro

Fizemos 4 longas horas de Búzios pra casa. Eu já estava exausta dentro do carro e Filipe também, mesmo ele tentando não demonstrar isso. Deixamos minha mãe em casa depois de ele ter insistido para passarmos a noite juntos, já que no dia seguinte ele teria dois shows fora do Rio e nos veríamos só na segunda-feira. Não relutei porque eu saberia que ficaria com saudade, e queria aproveitar o máximo que eu pudesse da gente junto.

Saímos de lá depois do almoço e agora já são quase 20h da noite, não tínhamos outra opção a não ser deitar. E assim fazemos. A série rola na televisão enquanto sou aninhada no peito do Filipe, sentindo sua mão desenhar círculos contra a minha pele. Mas minha mente automaticamente volta no dia anterior, na situação do quiosque. Em como eu achei que estivesse superado tudo e quando vi, lá estava eu paralisada.

Mas o que mais me surpreendeu foi a reação de Filipe, de como ele não se importou em defender aquela mulher mesmo sabendo que poderia ser reconhecido. E ver que o cara que está do meu lado tem valores e princípios, de certa forma me alivia.

- Tá nem vendo o bagulho, né? - Ele afasta a cabeça pra conseguir olhar minha expressão. Rapidamente pisco algumas vezes e encaro a televisão.

- Tô sim! - Digo e ele estala a língua no céu da boca.

- Tu tava fazendo aquela parada com a boca, para de ko. Tava pensando em que? - O seu braço que está por baixo de mim me aperta ainda mais, como se fosse possível ficarmos ainda mais perto.

- Nada. Só tô grata por ter você aqui comigo. - Um sorriso enorme brota em seu rosto, seguido de um beijo na minha testa. Me volto para a televisão mas me sinto sendo observada. - O que foi? - É inevitável não sentir o nervosismo como se fosse a primeira vez.

- Quero que nosso filho tenha seus olhos. - Sua mão alisa minha bochecha. - Eu amo eles. - Um frio na barriga me atinge em cheio.

- Filho? Hm. - Balbucio e ele concorda com a cabeça. - Como tem tanta certeza que vai ser um menino? - Ele gargalha e intensifica o carinho.

- Eu só tenho. Vai ser o Theo, o nosso menino. - Abro um sorriso largo ao perceber que essa é a primeira vez que nós falamos do futuro com tanta certeza de que vamos estar juntos.

- Theo. Eu gosto de Theo. - Envolvo minhas mãos na sua cintura e ficamos assim, apreciando o abraço um do outro em silêncio. - Se eu pudesse ficava assim pra sempre.

- Quem mandou tu se amarrar num artista, boneca? Tico já deve tá me enchendo de mensagem, vamos sair amanhã cedo. - Ele bufa e eu imagino quão cansado ele esteja.

- É, na próxima vez vou pensar melhor antes de namorar artista. - Brinco e ele se separa de mim para me encarar.

- Próxima vez? Tá mandada, tu? - Começo a rir e vejo o bico se formando. - Tá botando fé, não doidona? Não fui o primeiro mas vou ser o último. - Ele se desfaz da coberta e levanta em um pulo, me fazendo gargalhar ainda mais. Me estico para agarrar ele mas ele foge de mim feito criança. - Bora, bora comer logo que tu já conseguiu me estressar!

Não demorou para que pegássemos no sono logo depois. E assim que acordei, percebi que mal notei quando Filipe saiu mais cedo. Resmungo antes de levantar mas tomo coragem, sem ele aqui não é a mesma coisa. Faço minha higiene e troco de roupa, arrumo a cama e saio de lá com a chave reserva que Filipe deixou pra mim. Uma ótima desculpa para eu escapar pra cá quando ele não estiver, só pra tentar matar a saudade e me sentir mais perto.

O uber me deixou na porta de casa e assim que eu coloco os pés do hall do prédio, meu celular vibra notificando a chamada de vídeo com a foto do Filipe no visor.

- Oi boneca, já tô com saudade! - Filipe diz e posso ouvir os meninos zoarem ele. Rio da cena.

- Eu também, amor! Chegaram bem? - Ele concorda com a cabeça e mostra os meninos na van. Aceno em cumprimento enquanto entro no elevador.

- Te ligo antes de subir no palco, te amo! - Ele solta uma piscadela e com um beijo no ar me despeço e desligo. Já sentindo a saudade de ficar longe um final de semana inteiro.

Destranco a porta e procuro minha mãe pela casa, mas deduzo que ela foi na rua pelo silêncio. Coloco minha bolsa em cima da mesa, e quando estou a caminho do meu quarto ouço o choro abafado vindo da porta ao lado. Meu coração acelera e sem nem mesmo bater, abro a porta do seu quadro e me deparo com o que fez meu coração doer: Minha mãe sentada na ponta da cama, com os cotovelos apoiados no joelho e o resto enterrado nas mãos. Chorando sem parar e buscando ar entre as lágrimas.

Me abaixo rapidamente em sua direção e apoio minhas mãos nas dela, buscando contato visual para saber o que aconteceu.

- Mãe? - Ela me encara e posso ver seus olhos marejados e vermelhos. - Mãe, o que aconteceu?

- O teu pai, Bárbara. - Ela fecha os olhos e as lágrimas tomam ela novamente. - Ele morreu.

Meu corpo gela, me sinto sento levada ao céu e arremessada ao chão em questão de segundos. Tudo ao meu redor para e eu simplesmente não tenho reação, eu não sei o que dizer nem o que sentir.

Minha mãe disse que foi através de uma briga de bar, encontraram ele pela manhã caído do mesmo jeito que deixaram. Ninguém sabe quem fez. Disseram que depois que ela saiu de casa ele se entregou de vez, e mal parava na mesma. Ele dormia e acordava na porta do bar e nem mesmo o dono estava querendo ele mais lá, pois não tinha dinheiro pra pagar. E alguns dias depois, aconteceu.

Eu não disse nada. Não consegui. Então apenas abracei minha mãe e assim ficamos, não sei se por minutos ou horas. Mas eu sei que juntas, enfrentaríamos qualquer situação.

WAR com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora