Capítulo 37

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P.O.V Bárbara Castro

Estávamos a caminho do segundo show da noite, o silêncio da madrugada pairava sobre o automóvel enquanto todos os meninos estavam em um sono profundo, recarregando a bateria para enfrentarmos o próximo show. Os únicos barulhos do local eram os meus pensamentos e a seta toda vez que o motorista fazia uma curva. Me encosto na lateral da van enquanto tento me aconchegar para encontrar uma posição confortável e me deparo com a imagem tão serena de Filipe dormindo, como no dia em que vi isso pela primeira vez.

Ainda com a paz que toda essa visão trás pra mim, os meus pensamentos não me deram descanso. Um looping sem fim fez com que eu analisasse diversas vezes tudo o que aconteceu desde que cheguei aqui. Todo sentimento que foi aflorado dentro de mim em um piscar de olhos e como covardemente lidei com tudo, e ainda sim não desistiram de mim. Não sei se toda essa reflexão é TPM ou é apenas porque meu aniversário está chegando. Eu sempre fico reflexiva em datas comemorativas. Mas essa é uma reflexão diferente, esse ano eu estou refletindo sobre como uma atitude impensada de sair de casa mudou tanto minha vida e de como eu estou me sentindo grata por tudo isso.

Quando sinto a necessidade de externar tudo isso que estou sentindo, abro minha bolsa e pego meu velho caderno de desenhos que embora não tenha usado, anda sempre comigo. Passo o lápis por toda extensão da folha sem pensar, sem analisar o que eu estou fazendo, apenas desenho até que eu consiga externar tudo e me sentir leve novamente.

- Você sempre pressiona os lábios quando está muito concentrada. - Minha mente rapidamente muda de foco quando um sussurro rouco toma minha atenção. - 'Tá fazendo o que, boneca? - Filipe se levanta ficando de frente pra mim.

- Não é nada, eu... Eu só gosto de desenhar quando me sinto no limite. - Solto o lápis e levanto o olhar para encara-lo. Seu polegar corre até minha bochecha e seu toque macio faz minha pele esquentar.

- Hm, limite? Como isso funciona? - Seus olhos ainda atentos, vagam pelo rosto enquanto seu dedo faz movimentos circulares sobre minha pele.

- Eu só penso demais, e as vezes sinto necessidade de externar isso. - Fecho os olhos por alguns instantes sentindo seu toque. - E a maioria das vezes é assim. - Estico meu desenho para que fique em seu campo de visão.

- Uau! - Ele observa o desenho com atenção e eu analiso suas expressões por um tempo, vendo se ele realmente gosta do que vê.

Normalmente a única pessoa que via com frequência os meus desenhos era minha mãe, já que passávamos a maior parte do tempo juntas. Mas ter uma opinião diferente fez com que meu coração acelerasse ansiosa por sua aprovação.

- Isso pode virar uma tatuagem. - Filipe diz me arrancando um sorriso. - Se liga, acho que ainda tem um espacinho aqui. - Ele coloca a folha sobre o pulso calculando o tamanho do desenho.

- Não fala bobagem, nem está tão bom assim! - Digo pegando o caderno de sua mão e o guardando novamente na bolsa.

- Nanda tinha me dito que vocês estudaram juntas, pensei que não curtisse essa parada de arte. - Ele sorrateiramente se aninha no meu colo enquanto diz e quando noto, estou fazendo carinho em seu cabelo.

- Eu gosto da área de saúde, medicina foi meu foco durante muito tempo mas tive que abandonar a faculdade, e foi aí que encontrei paz nos desenhos. - Falar isso em voz alta é muito mais difícil do que eu imaginei. Pigarreio e molho os lábios antes de concluir. - Mas viver da arte nunca foi uma opção pra mim, não aonde eu cresci.

- Eu tô ligado como é... - Seus olhos pairam em algum lugar por alguns segundos parecendo estar em reflexão, então ele se volta pra mim novamente. - Mas se é isso que você quer, você tem que ir atrás.

Brinco com a gola de sua camisa enquanto reflito um pouco sobre suas palavras. Seu olhar, dessa vez acolhedor, faz com que eu queira falar. Falar da minha vida nada interessante, e de como eu recorri a arte diversas vezes para me expressar sem ter que contar com outra pessoa. De como eu sempre quis ter alguém que me olhasse exatamente dessa forma, que conseguisse me confortar apenas com polegares massageando o meu rosto.

- Você me chamou de "amor". - Falo me recordando do que rolou um pouco mais cedo. - Você me chamou de "amor" mais cedo, por quê? - Nossos olhos se encontram e rapidamente Filipe levanta do meu colo.

- Porra! - Ele esfrega a palma das mãos no rosto. - Desculpa, se você não gostou eu... - Seguro seu rosto com as duas mãos e selo nossos lábios devagar o que faz com que o mesmo pare de falar.

- Eu vou gostar de fizer isso mais vezes. - Ele sorri e eu deduzo que baseado nas minhas últimas reações, ele não espera algo tão pleno.

- E eu vou gostar quando me pegar de surpresa assim mais vezes. - Ele inverte os braços dessa vez me segurando pelo rosto e depositando uma série de beijos em todo meu rosto. - Então o segredo? É só te chamar de "amor"? - Dou uma risada e logo depois me contenho quando ouço um ronco alto vindo de algum dos meninos.

- Você é muito idiota! - Ele continua uma série de beijos até que sua boca pousa sobre a minha novamente.

Sua mão delicadamente passa sobre o fio de cabelo caído do meu rosto e o coloca atrás da minha orelha, iniciando uma tensão entre nós. Ele analisa o meu rosto com delicadeza, como sempre faz, antes de tomar minha boca novamente, mas dessa vez com luxúria e vontade. O que me faz recuar um pouco ao perceber que ainda estávamos em uma van lotada de gente.

- O que foi? - Ele sussurra contra os meus lábios.

- Não estamos sozinhos. - Sussurro em resposta olhando as pessoas cochilando ao nosso redor.

- Está com vergonha de mim? Foi só um beijo. - Ele sorri ainda próximo o suficiente para que eu sinta sua respiração, o que me dá inveja visto que ele parece normal enquanto minha respiração está ofegante.

- Foi só um beijo? - O questiono sentindo o fogo subir sobre meu corpo.

- Por que? Eu te deixei excitada, Bárbara? - Ele se aproxima de mim e sussurra no meu ouvido, meu corpo inteiro se arrepia e eu luto para manter a minha sanidade em seu devido lugar. - Cara, você me deixa maluco! - Suas mãos apertam minha cintura com força e eu passo a língua nos lábios tentando buscar palavras para o interromper.

- É melhor você parar antes que eu te impeça de fazer esse show.

WAR com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora