Capitulo 64 (Último)

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P.O.V Bárbara Castro

5 anos depois...

Filipe insistiu em vir comigo, mas eu não quis. Eu sabia que esse momento uma hora chegaria, e eu preciso fazer isso sozinha. Preciso finalmente abrir mão desse problema sozinha. Algo que esteve comigo durante toda a minha vida, mas agora finalmente me sinto pronta pra deixar no passado. De coração leve e pronta para dar o melhor para a minha família.

Respiro fundo antes de sair do carro, bato a porta e olhei ao meu redor. Meu corpo esta relutante mas eu sei que é a coisa certa a se fazer. Adentro o cemitério e um arrepio percorre o meu corpo, mas não de uma forma ruim. Caminhei pelas lápides e fui até onde me disseram que o corpo dele estaria enterrado. Forcei minhas pernas a caminharem e em poucos passos, estávamos no mesmo local, depois de anos.

Apesar dos pensamentos barulhentos, o silêncio tomou a minha boca. Eu não sei o que dizer ou como dizer, mas eu sei o porquê dizer. Eu sei que esse perdão é o que eu preciso para conseguir finalmente dormir uma noite de sono completa, para finalmente poder viver em paz.

- Oi. - Me sinto uma idiota por um momento. E então olho novamente ao redor, mas os mortos não estão nas melhores condições de me julgar. - Eu não sei porquê eu tô aqui - Bufo. - Na verdade eu sei. Eu... Eu queria muito que as coisas fossem diferentes. - Sorri sem graça - Eu queria muito apagar da minha memória todas as lembranças ruins que eu tenho de você. Queria poder contar as histórias de quando você me levava para passear na rua, andar de bicicleta e de como você se divertia ao me ver suja de picolé. Eu ainda lembro disso e eu queria poder contar somente isso as pessoas. Eu queria poder te chamar de pai sem culpa. Mas aí, aí tudo aconteceu. Eu era muito nova pra lidar com tudo, então eu simplesmente me fechei. E porra, como isso bloqueou meus sentimentos depois. - Rio novamente.

Minha voz embarga e o choro trava minha garganta. Mesmo sem vento, a árvore a minha frente balança derrubando algumas folhas no chão. Isso me trás a realidade e me dá forças para continuar a falar.

- Eu queria muito que você fosse um pai como o das minhas colegas, que ia as minhas festinhas na escola e que me dissesse o quão orgulhoso estava de mim quando passei no vestibular. Mas... Mas você estava ocupado demais. - Busco o ar - Por muito tempo todo o amor que eu sentia por você virou ódio, eu te desejei tudo de ruim e desejei me afastar de você pra sempre. E olha onde estamos. Mas hoje eu entendo, eu entendo que se tudo fosse diferente como eu queria que fosse, talvez eu não teria conquistado tanta coisa. Talvez eu não teria descoberto a minha força, e eu sou forte pra caralho. Talvez eu não teria me reaproximado de Nanda, ou não teria conhecido o Filipe e formado a família mais linda que eu poderia ter. As coisas aconteceram exatamente quando deveria acontecer, e eu precisava vir te falar isso.

Me levanto devagar sentindo meu corpo doer em nervoso, agacho na árvore a me frente e pego uma flor que havia caído e me volto até o túmulo.

- Mas eu também estou aqui para te perdoar, para que nós dois possamos seguir em paz. - Coloco a flor sobre seu túmulo.

Inalo o ar com mais força que posso e então a primeira lágrima cai, seguida de outra e outra e outra. Então as lágrimas começam a falar por mim, muito mais do que eu já tenha falado. E uma mistura de sentimos toma conta de mim, saudade, raiva, luto, alívio, arrependimento. Então eu só me entreguei, a tudo que eu estava sentindo naquele momento até que eu finalmente pudesse sentir o ar entrando nos meus pulmões novamente e me trazendo do transe aos poucos.

Limpei o rosto e me levantei, olhei para o túmulo uma última vez e sai. Deixando a mágoa para trás, e sentindo a paz de saber que eu posso fazer para as pessoas que eu amo tudo aquilo que eu não tive. Sentei no carro e liguei o mesmo, dirigindo em silêncio até em casa. Sem pensar, sem sentir, finalmente vivendo de fato aquele momento.

Abri a porta devagar e estranhei ao não ouvir as vozes tão corriqueiras pela sala, coloquei a bolsa e as chaves em cima do móvel e então fui me certificar de que não estava sozinha. E assim que eu cheguei no quarto, a risada mais gostosa no mundo invade o local. Meu coração transborda e um sorriso enorme brota nos meus lábios.

Filipe e Theo estão deitados na cama jogando vídeo game. Theo aperta um botão e o barulho da tv estronda, Filipe resmunga derrotado e Theo cai na gargalhada. Fico ali durante alguns minutos apreciando a cena, do momento em que, mais uma vez, eu tive a certeza que eu sou a mulher mais feliz do mundo.

- Mamãe! Você "demolou"! - Theo me vê através da frecha da porta e corre em minha direção, e logo Filipe vem também.

- Oi boneca! - Ele me dá um beijo estalado assim que eu levanto com Theo no colo.

- Eca! - Theo faz cara de nojo e nos arranca uma gargalha se contorcendo no meu colo.

E de repente o Theo nos une com um abraço. Como se ele soubesse o quanto eu precisava disso. Filipe passa os braços ao redor da minha cintura e assim ficamos. E nesse momento eu me sinto reconstruída, ainda mais forte do que antes e pronta para enfrentar qualquer coisa que atravessasse a minha frente. Eu estou feliz, eu estou com a minha família.

Eu, finamente, estou bem.

WAR com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora