Capítulo 52

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P.O.V Bárbara Castro

Assim que chegamos na casa de Filipe, ele entrou no banheiro e eu fui logo atrás. Digamos que transar na escada é bom, mas não é a coisa mais higiênica do mundo e depois disso não tomar um belo banho seria um tanto quanto nojento. Ele se assustou assim que eu entrei no box mas logo me puxou para perto dele e me deu um beijo carinhoso, muito mais do que o normal.

- Posso lavar o seu cabelo? - Ele passa a mão sobre os fios e eu o encaro confusa. - O que foi? Eu gosto de cuidar de tu. - A carícia de suas mãos se torna quase um cafuné e eu fecho os olhos concordando. - Acho que deve ter shampoo e essas parada de mulher ali no armário, pega ali. - Ele aponta com a cabeça e eu o encaro confusa.

- Por que você tem shampoo e condicionador da Aussie no seu banheiro? - A resposta é meio óbvia mas como sempre a boca foi mais rápida do que a mente.

- Quer mesmo saber? - Ele pergunta e eu ameaço jogar os frascos no mesmo que se encolhe ainda gargalhando. É estranho, mas de certa forma eu não me sinto incomodada por saber que Filipe já teve um passado movimentado. A segurança que ele me passa elimina qualquer dúvida que eu tenha na cabeça.

Retorno ao box com os frascos na mão e entrego ao mesmo. Ele me posiciona em baixo do chuveiro de costas para ele, e antes de despejar o líquido no meu cabelo, ele deposita um beijo carinhoso no meu ombro. Eu ainda me sinto um pouco estranha, ou fora do lugar quando ele se mostra ser tão mais carinhoso do que o normal. Todo esse afeto as vezes me faz sentir uma culpa pelo o que eu não tive, e parece que eu simplesmente não mereço tudo isso.

- Eu... Eu preciso te contar uma coisa. - Sinto sua voz apreensiva e tento me virar para encara-lo mas ele não deixa. - Não, fica assim. - Suas mãos continuam massageando o meu cabelo e esfregando o shampoo pela região. - Eu nunca contei isso pra ninguém antes. Só as pessoas que sabem são as que viveram tudo isso comigo. - Meu peito aperta quando sua voz começa a falhar entre as palavras. - Essa merda não foi fácil, e eu não espero que você aceite. Mas eu só quero que você saiba, porque o passado sempre volta pra assombrar.

- Agora você está me deixando nervosa. - Digo e dou uma risada mas quando me viro vejo que sua expressão não é nada boa.

- Você me contou toda a situação da sua mãe, e é mais do que justo você saber do meu passado também. - Ele coloca o shampoo no apoiador e volta as mãos pro meu cabelo. - Eu já fui usuário de droga, Bárbara. - Seu olhar foge do meu e eu tento me manter firme. - Tipo, pra caralho.

Seguro seu rosto com as mãos e o viro pra mim. Lidar com os cigarros de maconha de Filipe me faziam imaginar um pouco mais longe, mas não assim. Seus olhos estavam inquietos e seu nariz vermelho, é como se ele estivesse revivendo toda a dor. Meu coração aperta assim que ele abaixa a cabeça e eu o puxo para um abraço, assim como ele fez comigo.

- Eu juro pra você que eu tô limpo. - Ele me aperta forte. - Nunca mais vai acontecer, nunca. - Um nó se forma na minha garganta e é como se eu sentisse em mim toda a dor que ele sentiu.

- Tudo bem. - Sussurro contra sua pele. - Está tudo bem. - Aperto meus braços ao seu redor.

Filipe conta detalhadamente tudo enquanto nós tomamos banho, e eu consigo entender um pouco do quanto foi difícil. Ele esteve sozinho por muito tempo e acredito que seja por isso que hoje ele faz tanta questão de ter todo mundo próximo. Ele me contou da mulher que apresentou o mundo das drogas pra ele, de como era dependente e de como ela foi embora. Ele contou como afastou todos que o amava e de como foi difícil ver a Fernanda "crescer" sem ele por perto.

Conheço Ret como artista a muito tempo e não é difícil imaginar que artistas fazem essas coisas, mas como pessoa é completamente difícil associar Filipe a um passado tão pesado e conturbado. Pensar que um dia sua família foi desmembrada e sua vida quase acabada por conta da droga me dói. Mas saber que ele passou por cima de tudo isso só mostra o quanto ele também foi forte.

- O que você quis dizer com "o passado sempre volta para assombrar?" - Pergunto enquanto reflito sobre suas palavras.

- Bom... A mulher que eu te falei - Ele pigarreia e coça a nuca. - Ela voltou a me procurar. - Ele espera ansioso a minha expressão mas eu simplesmente não consigo esboça-la. Sinto um frio me percorrer por dentro e isso nunca é uma boa sensação.

- Tá... Tudo bem. - Digo tentando soar o mais clara e racional possível. Ele passou por um momento delicado e se está me contando isso é porque confia em mim, ele não merece minha confusão agora.

- Tudo bem? - Ele me encara confuso e quando eu concordo com a cabeça ele parece suspirar aliviado.

- Vamos passar por isso juntos, ok? - Um enorme sorriso esboça no seu rosto e eu selo os nossos lábios.

- Ok, boneca. - Ele sussurra contra meus lábios e permanecemos alguns segundos naquela posição gostosa. - Agora vamo' termina' esse banho antes que essa porra endureça no seu cabelo. - Ele se refere ao shampoo e me empurra para a água novamente.

Vai ficar tudo bem.

WAR com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora