"O que é ser um homem de verdade?"
Essa foi a pergunta mais presente na vida de Jason. Com um passado conturbado, o jeito rebelde e o histórico de relações tóxicas, foi fácil se tornar o badboy insensível e arrogante que passou por cima de todos - e...
"Sempre pensei que poderia ter uma vida com a qual crescer com você, mas com o passar do tempo, é louco como nossas vidas mudaram." — Shockwave, Marshmello
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2020.
A situação em casa estava um pouco estranha, uma semana após a quarentena.
Paloma não podia voltar, Charlie também não, e tínhamos que ficar em casa naquele tempo todo. Por causa da nossa briga recente, Charlie evitava falar comigo e conversava apenas o básico — o que também não mudou muito de como era antes, pois ele passava o tempo todo na internet.
O blogueiro gravou alguns vídeos falando sobre a quarentena, e o Charlie que eu havia reencontrado em Porto Alegre aparecia nessas ocasiões. Comecei a me questionar se aquela maturidade que eu vi era uma maquiagem, uma máscara. Por trás das câmeras, ele era diferente do que eu via em vídeos.
Ele continuou algum quadro do YouTube que sempre fazia, além dos stories que postava o tempo todo. Num momento, enquanto eu esquentava a água para o café, acabei soltando um comentário.
— Não sei pra quê ficar postando story o tempo todo.
— Não é o tempo todo. — ele falou concentrado no celular. — É em intervalo específico de hora e faz parte do engajamento.
Sorte a minha que estava de costas para Charlie na cozinha, porque imitei em silêncio sua fala fazendo uma careta e rolei os olhos.
— Se tu diz...
— Não sei por que tu te incomoda tanto com meu trabalho, tu tá numa empresa de publicidade da faculdade.
Ele tinha um ponto muito bom. Eu gostava de Publicidade, mas da parte criativa, não daquilo que ele fazia.
— Prefiro criar coisas do que ficar analisando igual você fica.
— Tu não é uma pessoa analítica e quer ser engenheiro?
— Qual é, tchê, tá de marcação comigo agora? — Me afastei da cozinha e passei pela bancada que separava da sala, de braços cruzados.
Charlie soltou uma risadinha miserável e olhou para mim por um breve momento.
— Tu te irrita muito fácil.
— Porque é fácil pra ti ser irritante.
— Não tivesse me chamado pra vir aqui então. — Sua voz começou a ficar séria enquanto ele ainda digitava algo no notebook em seu colo.
