Capítulo 34

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"Tudo o que ele sempre quis foi atenção
E um monte de outras merdas que eu não devo mencionar." — Everyday, Marshmello ft. Logic

 Logic

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2020.

O silêncio de Charlie estava começando a me deixar desconfiado.

Percebi que gritar com ele o deixou abalado de verdade e o guri passou a me evitar, o que era uma atitude péssima considerando que estávamos morando juntos, praticamente.

Já fazia uma semana desde o ocorrido e a situação continuava a mesma. Gael não me respondeu, Charlie não tentou conversar comigo e se limitava a falar sobre comida — e o progresso que pareceu ter existido foi como uma ilusão de ótica que nunca foi real.

Charlie digitava sem parar no notebook, passava o dia inteiro no sofá fazendo isso. Pelo pouco que o olhava de canto, eu sabia que ele escrevia um livro. Senti falta de quando eu me sentava ao seu lado e ele começava a me contar sobre o que estava estudando e escrevendo.

O guri estava com simplesmente três projetos de livro: um romance soft, como ele dizia, entre um homem trans que era pai solteiro e outro homem, cis e gay; um mistério entre um traficante internacional e um policial federal, além de um terceiro que ele não me contava por ser uma fanfic e ter vergonha disso, nem planejava postar em algum lugar.

E falando em fanfic, até falta do Charlie papeando à toa sobre Jimin e João eu estava sentindo.

Eu queria chamar sua atenção, mostrar que eu queria tentar mais uma vez, mas não estava pronto para falar de certos assuntos ainda. Quando fui em silêncio até a cozinha, notei Charlie coçando o nariz e fungando como se um resfriado estivesse a caminho, mas eu não queria invadir seu espaço pessoal então não disse nada.

Comecei a preparar um bolo de chocolate simples, tentei fazer tudo certo como dizia na embalagem e segui as instruções à risca, pois eu queria um bolo perfeito. No fundo, eu só queria uma desculpa para chegar perto do guri e falar "ei, sei que tu prefere bolo, quer um?".

Parabéns pela piada assexual, Jason.

Quando senti o aroma do chocolate invadir a cozinha, concluí que estava dando certo. Peguei uma Polar que estava há uns minutos no congelador e abri a long neck, pensei em como estava bebendo tanto naquela quarentena. Já estávamos à beira dos três meses e eu torcia para que acabasse logo, mas já não estava mais com expectativas. O cenário no Brasil era cada vez pior, com mais mortes e infectados, um presidente que mais atrapalhava do que ajudava e nenhum sinal de vacina.

Ouvi o toque de Charlie — BTS, com certeza — e ele atendeu em inglês. Me esforcei para ouvir o que ele dizia, pois norte-americano falando a língua nativa era a coisa mais difícil do mundo de assimilar. Fiquei perto da bancada da cozinha e fingi que estava secando os pratos já secos no escorredor apenas para ouvi-lo.

— Eu não me importo. — Foi uma das poucas frases que entendi perfeitamente. Quando ele desligou, estiquei a cabeça para fora a fim de vê-lo e seu olhar se cruzou com o meu, ele estava irritado.

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