Capítulo 54

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"Desde o dia em que você foi embora,
Quanto mais eu tenho que beber para a dor passar?
Você me fez coisas que eu não consigo esquecer,
Agora eu só penso
Nas noites em que estávamos emaranhados na sua cama."
— Left & Right, Charlie Puth ft. Jungkook.

Charlie Stewart

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Charlie Stewart.

Eu mexia na pulseira amarela com as miçangas que formavam o nome "Min" enquanto aguardava ser chamado. Meus pés balançavam embaixo da cadeira num sinal de ansiedade, mesmo que meu rosto expressasse um semblante neutro.

— Charlie? — Ergui os olhos para o homem que eu esperava, de terno e gravata vermelha, com a porta da sua sala aberta. — Pode entrar! Desculpa a demora!

– Oi! Tudo bem! — Sorri e me levantei em direção a ele, após ocultar a pulseira por abaixar as mangas do meu casaco preto de algodão. — Eu não estava com pressa.

— Mesmo assim, sei que é ruim ficar esperando. Como vai? — Ele fechou a porta e estendeu a mão para me cumprimentar, retribui ainda sustentando o sorriso.

— Vou muito bem, obrigado. Como está sua filha?

— Muito melhor, sempre pergunta de ti! — O senhor Cláudio abriu um sorriso sincero ao falar sobre a filha e se sentou na cadeira marrom de escritório, e eu fiquei sentado de frente para ele. O local era amplo e com várias estantes repletas de pastas e caixas com arquivos e documentos diversos, mas estava arejado pela sala ficar na ponta do prédio da Assembleia e possuir uma grande janela.

— É uma pena que a pandemia não deixou o ambulatório continuar com as consultas presenciais, mas Blanca ainda faz o acompanhamento online, né?

— Eu faço questão disso. — Cláudio balançou a cabeça e seu sorriso alegre começou a se transformar em algo mais emotivo e contido. — Não quero perder minha filha. E desde que começou a... Como vocês falam?

— Hormonização?

— Isso! Tá cada vez mais parecida com a mãe... Mas acho que tu não veio pra falar disso! — Ele riu olhando para baixo e deu alguns tapinhas na própria mesa. — Me conta o que anda acontecendo!

Dei outro sorriso para Cláudio, certo de que falar sobre Blanca o deixaria emocionado demais e eu não conseguiria prosseguir com meu assunto. A garota havia se assumido para a família na época em que conseguimos inaugurar o ambulatório trans em Porto Alegre e Blanca passou a viajar para lá toda semana a fim de receber uma assistência que não existia em Esplendor, e Cláudio dizia ter uma eterna dívida comigo pela iniciativa de ter criado um espaço daqueles. Por ser um deputado de cidade pequena, ele não se abria sobre isso por medo do preconceito, mas apoiava a filha como podia.

— Eu queria te pedir um favor. — Iniciei o assunto, as mãos postas em cima das minhas pernas cruzadas em uma posição teatralmente tranquila.

— Pode falar! Vou fazer tudo o que puder.

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