"Nós não dizemos muito
E isso diz muito."O som de chamada de vídeo ecoou pela sala, então Charlie abriu um enorme sorriso na câmera ao ser atendido.
— João!!! — ele falou emocionado o nome do amigo, que gritou um "oi" escandaloso. Eu estava na mesa de jantar respondendo um questionário online pelo notebook de Charlie enquanto ele fazia uma videochamada com o amigo recém saído do hospital.
— Me conta como tu tá se sentindo! Foi muito ruim ficar lá?
— Que que tu acha, guri? Foi péssimo! — João soltou uma exclamação exagerada na ligação. — Mas falando sério, Lee, eu acho que minha família só aguentou bem isso tudo porque a gente tem plano de saúde. O SUS já tá quase todo ocupado, daqui a pouco os hospitais particulares também vão parar.
— Eu ainda acho isso de SUS meio confuso, é tipo um hospital gratuito, né?
— Por aí, ele se sustenta com dinheiro público, mas esses infelizes desviam o dinheiro e aí o daqui de Esplendor tá um caco! Vi uma notícia de gente que tá sendo atendida no meio do corredor!
Fiquei notando escondido como Charlie reagia às informações do amigo. O ex-morador da Carolina do Norte continuava impressionado com o sistema de saúde pública brasileiro, mesmo já morando há alguns anos aqui.
Os dois conversaram por mais uns minutos, mas João avisou que iria desligar para cuidar do pai, que ainda não estava totalmente com energia depois de passar tantos dias internado. Eles encerraram a ligação e Charlie parecia pensativo, olhando para o celular desligado.
— Charlie? — Chamei sua atenção e ele ergueu a cabeça para me ver. — Tu tá há quanto tempo no Brasil?
— Hum... — Ele franziu as sobrancelhas e fez a conta mental. — Três anos.
— Mentira! Só isso?
— Tu achava que fosse mais?
— É que tu já fala igual eu tão bem que parece que sempre viveu aqui!
— Pois é, acho que sempre gostei de te copiar. — Ele sorriu timidamente e voltou a olhar para o celular, desbloqueou sua tela. — Eu gosto de morar aqui. Tenho até CPF e RG.
— Se depois de três anos aqui não tivesse, seria estranho também. — Fechei a aba do questionário por ter concluído sem me preocupar muito com o gabarito. — E CNH?
— O que é isso?
— Carteira de motorista.
— Ah, sim, não tenho. Tu tem, né?
— Tu acha que ando de moto como?
— Humf, grosso. — Charlie bufou irritado e ficou deslizando o dedo pelo celular. — E por que tu não tá usando ela? A gente sempre sai a pé.
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⚧ | Feitos de Cinzas e Estrelas
Teen Fiction"O que é ser um homem de verdade?" Essa foi a pergunta mais presente na vida de Jason. Com um passado conturbado, o jeito rebelde e o histórico de relações tóxicas, foi fácil se tornar o badboy insensível e arrogante que passou por cima de todos - e...