𝐊𝐀𝐙 𝐁𝐑𝐄𝐊𝐊𝐄𝐑, grishaverso

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @Isahfdpn

Kaz passa pela entrada do meu quarto e bate a porta com força, o ódio claramente perceptível no rosto dele. A negociação que ele havia planejado tão cuidadosamente ruiu por minha culpa e isso era imperdoável. Os corvos estavam receosos por mim, principalmente Inej. Ninguém nunca o tinha visto tão irritado.

— Ficou maluca? Você estragou tudo. — Ele grita.

— Eu tentei te ajudar, estavam apontando armas para você.

— Era tudo parte do meu plano, você deveria seguir minhas ordens, ou acha que tem permissão para fazer o que quiser?

— O tiro que Jesper levou também fazia parte dos seus planos? — Rebato. — Atiraram nele, acha mesmo que não atirariam em você também?

Após ouvir minhas palavras, Kaz apenas me encara sem reação, aquilo o abalou, Jesper sempre foi como um irmão para ele. Se eu não tivesse interrompido a negociação, Brekker também teria levado um tiro, seria horrível vê-lo baleado, por isso decidi intervir.

— Aquilo foi um erro, não era para ter acontecido. — A voz dele sai baixa. — Mas o nosso problema é outro, era para você ter seguido o plano.

— Eu salvei a sua vida, quase levei um tiro por você e a única coisa que eu recebo são sermões intermináveis.

— Não fale comigo desse jeito. — Kaz berra. — Está proibida de ir em missões. A partir de agora você só trabalha no cassino e não quero ouvir reclamações. — Ele sai do quarto batendo a porta, me deixando sozinha.

As horas passam rapidamente e o dia se torna noite, durante esse tempo, saí do quarto apenas uma vez para verificar como Jesper estava. Alguns crows me confortaram depois do longo sermão, dizendo que minha atitude foi correta, pois se eu não tivesse me metido as coisas poderiam ter tomado rumos ainda piores.

Depois de voltar para o quarto, ouço leves batidas na porta e então Inej entra, lançando um sorriso carinhoso em minha direção. Ela se senta ao meu lado e passa a mão no meu cabelo, me confortando como uma irmã mais velha, sempre cuidando de mim e me ajudando quando precisava. Aprendi muitas coisas com ela desde que cheguei aqui.

— Como você está? Sinto muito pelas coisas que Kaz te disse.

— Estou com tanta raiva.

— No seu lugar eu também teria raiva, mas Kaz não é o tipo de pessoa que admite estar errado. — Inej suspira. — Você agiu corretamente, sabe disso, não sabe?

— Será mesmo?

— Sim, acredite em mim. — Sorrio para ela. — Aliás, Jesper está melhor, bem melhor. Ele queria te ver de novo, mas agora está tarde, então é melhor deixar para amanhã. — Ela levanta, indo em direção a porta. — Vou deixar você descansar, seu dia não foi fácil.

Algumas horas passaram e ainda não tinha conseguido dormir, estressada demais para sequer fechar os olhos. Pela janela, observei as nuvens de chuva se formando no céu e uma inquietação dominou o meu corpo, deixando o sono ainda mais escasso. Tento relaxar na cama, é só uma chuva. Os pingos de água não demoram para bater contra o vidro da grande janela do quarto, elevando o nível do meu pavor ao máximo. É só uma chuva, eu digo para mim mesma, tentando me convencer de que está tudo bem.

Sempre odiei tempestades, o tempo não podia ter escolhido um dia pior para se revoltar, não chovia há quase um mês. Noites chuvosas resultavam em péssimas noites de sono, mas sempre tive Kaz para me ajudar nesses dias, mas, para o meu azar, hoje eu teria que lidar com meus traumas sozinha, já que o moreno estava me ignorando completamente. Puxo o cobertor até a altura dos seios e tento relaxar, podia sentir a exaustão do meu corpo por conta do dia horrível que tive, mas mesmo assim não conseguia dormir. Olho para o teto por longos minutos e decido levantar para fumar um pouco, percebendo que é a única coisa que vai me ajudar a relaxar.

Depois de algumas horas, a chuva para. As nuvens ainda estavam lá, mas pelo menos eu conseguiria dormir tranquila sem ouvir os pingos ferozes batendo contra a janela. Penteio o cabelo, deixando os fios soltos e me deito novamente depois de fumar uma segunda vez. Conseguia ouvir o vento raivoso do lado de fora, a madeira rangia um pouco, mas, diferente da chuva, esses barulhos não me incomodavam tanto.

O sono chegou rápido, me levando a um sonho inicialmente feliz.

Minha mãe corria em um campo de flores brancas, eu estava ao lado dela, sorrindo como nunca, a felicidade irradiava do meu corpo. Ela pegou uma das flores e a colocou sobre minha orelha, o sorriso que ela me lançou conquistaria qualquer um. Ela sempre foi linda, os olhos castanhos esverdeados eram encantadores, herdei muitas características dela, exceto os olhos. Até tínhamos uma marca de nascença no mesmo lugar, uma pequena meia lua na clavícula.

— Queria você estivesse aqui de verdade. — Minha voz saiu triste.

— Mas eu estou aqui, minha querida. — Ela disse, a voz suave e encantadora como a de uma sereia.

— Não, infelizmente não está. — Senti uma lágrima escapar, fazendo um caminho até o meu queixo.

O clima começou a mudar e de repente me vi em um navio, mas agora eu tinha 10 anos novamente. Mamãe ainda estava ao meu lado e as ondas do mar dançavam violentamente ao redor do nosso meio de transporte. Uma chuva forte encharcou toda a tripulação, algumas pessoas corriam às cegas tentando fugir das inúmeras gotas, nunca tinha visto um temporal como aquele, tão agressivo e cortante.

Minha mãe gritava ordens para alguns e pedia calma a outros. Ela foi até o centro do navio e foi nesse momento que um raio cortou o céu e caiu sobre ela, que cambaleou até a borda do navio e deu uma última olhada em minha direção antes de cair no mar.

Acordo assustada e me sento na cama com pressa, o suor estava impregnado no meu corpo, minha respiração estava descontrolada e meu corpo tremia. A chuva tinha voltado e os raios também, assim que vejo um deles rasgar o céu, me desespero. A porta é aberta e logo Kaz passa por ela, percebo o olhar de preocupação em seu rosto assim que ele se senta à minha frente.

— Você está bem?

Queria responder, mas minha voz estava presa em minha garganta. Kaz leva a mão enluvada ao meu rosto, secando algumas lágrimas que eu nem ao menos tinha notado. Encaro seus olhos castanhos e me afasto um pouco, apesar de tudo ainda estamos brigados.

— Não me afaste — pede, tenso. — Fale alguma coisa, por favor. — A voz estava contida, mas eu conseguia sentir uma leve pontada de desespero.

Tentei dizer algo, mas foi nesse momento que minha visão ficou turva. Os braços de Kaz contornaram minhas costas, meus olhos estavam entreabertos e lutei muito para eles não se fecharem definitivamente, tentei ouvir o que Kaz dizia, mas foi impossível. A escuridão apenas me dominou.

Consigo sentir um corpo ao lado do meu e tenho certeza que é Kaz antes mesmo de abrir os olhos, assim que os abro encontro ele dormindo serenamente e um de seus braços estava sobre a minha cintura. Olho pela janela, admirando a luz da lua que se espalhava pelo quarto. Me viro para Kaz novamente, vendo que ele mantinha os olhos atentos sobre mim.

— Como você está?

— Estou bem, eu acho — faço uma pausa longa antes de voltar a falar. — O que aconteceu?

— Você teve um pesadelo, depois desmaiou.

Kaz estava muito próximo, me encarando tão profundamente que parecia ter a capacidade de ler meus pensamentos e sentimentos. Me afasto um pouco dele, ainda estava com raiva pela briga na qual eu estava certa.

— Você sabe que não precisa se afastar, não é? — Sussurra. — Sei que te disse coisas horríveis hoje, mas fiquei tão irritado. Planejei tudo por semanas e tudo esvai das minhas mãos como pequenos grãos de areia.

Não respondi, apenas o encarei, até que ele falou novamente.

— Obrigado por me salvar e por salvar Jesper.

— Isso significa que vou poder ir nas missões?

— Vou pensar sobre isso.

Kaz se aproxima mais e eu me aconchego no peito dele. A chuva ainda cantava do lado de fora, mas dessa vez estava mais calma. Não demorou muito para que eu dormisse novamente, com ele ao meu lado meus temores simplesmente desapareciam e nada poderia me causar mais conforto.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora