𝐋𝐔𝐂𝐈𝐄𝐍, acotar

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @DuHossler 

Escuto batidas na porta e deixo meus esboços de moda de lado, assim que giro a maçaneta me deparo com Anne, a entregadora de uma floricultura localizada bem no centro da Corte Primaveril. Recebia tantas flores que já tinha virado uma rotina, pelo menos uma vez na semana um buquê de dálias laranjas era entregue na minha casa.

— Quando vai me dizer o nome da pessoa que me manda esses buquês? — Pressiono Anne. Nunca descobri o nome do remetente e ela se recusava a me dizer.

— Sabe o que dizem sobre as dálias? — Nego com a cabeça. — Cada flor tem um significado diferente, a dália tem vários deles, mas dizem que ela é como uma declaração de amor entre dois amantes.

— E no que isso me ajuda? — Suspiro, levemente irritada. — Ainda não sei quem é o meu "amante secreto". — Faço aspas com os dedos.

— Você é tão esperta para algumas coisas e tão lenta para outras, por que não tenta olhar ao seu redor? Tenho certeza que, se prestar atenção, vai descobrir quem é o seu admirador. — Anne me dá um sorriso. — Agora eu preciso ir, tenho mais entregas para fazer, até semana que vem. — Acena em despedida.

Aceno de volta e fecho a porta, precisava descobrir quem é essa pessoa o mais rápido possível. Volto até minha mesa e continuo desenhando algumas roupas, estava atrasada com algumas entregas de vestidos e, mesmo tendo ciência disso, a curiosidade não me deixava focar no trabalho, ela continuava cutucando meus pensamentos.

Resolveria isso mais tarde.

Saio de casa com alguns embrulhos em mãos, era dia de fazer entregas e ajustes. Passo em cinco casas diferentes, deixando vestidos e recebendo diversos elogios de clientes satisfeitas. Felizmente estava chegando perto da casa da última cliente do dia, foi nesse momento que avistei Lucien e Anne conversando, não consegui ouvir sobre o que conversavam, mas Anne concordava com tudo que ele dizia.

Fiquei incomodada com a aproximação repentina, nunca tinha visto os dois juntos e olhando agora eles pareciam ser próximos. Lucien e eu somos amigos desde que ele chegou na Corte Primaveril, meus sentimentos eram confusos em relação ao ruivo. Gostava da companhia dele, das conversas e de todos os momentos especiais, mas ainda não entendia o que isso significava e não queria me precipitar. Afasto os sentimentos desconexos que borbulham dentro de mim e vou até a casa da minha última cliente.

— Ficou ótimo, só preciso ajustar um pouco a cintura. — Pego alguns alfinetes, espalhando alguns pelo vestido.

A cena de Lucien e Anne conversando volta a ocupar meus pensamentos, será que ele sabia quem era o meu admirador secreto? Ou os dois eram um casal e eu ainda não sabia? Não me surpreenderia, Lucien é muito bonito e também é uma ótima pessoa. A cliente me contava algumas fofocas, mas nada entrava nos meus ouvidos e em um momento de desatenção acabo furando a mulher com um dos alfinetes.

— Me desculpa — peço, espantada.

— Não tem problema. — diz, compreensiva. — Você está com algum problema, querida? Pode me contar. — A senhora se sentou em um sofá e deu tapinhas no estofado para que eu me sentasse também.

Ela era idosa e bem fofoqueira, fiquei um pouco receosa em compartilhar meus problemas, mas precisava me abrir com alguém e, sendo fofoqueira, ela poderia saber de algo. Seria de grande ajuda, já que, até o momento, eu não tinha nenhuma informação sobre o desconhecido das flores. Já fazia um tempo desde que comecei a receber os buquês e a situação estava me deixando totalmente maluca.

— Estou recebendo flores, isso vem acontecendo a algum tempo e até agora não descobri nada sobre o remetente. — Comecei.

— Ah, sim. — Ela me interrompe. — Ouvi alguns comentários.

— Então... — continuo. — Isso está me matando, preciso descobrir quem é essa pessoa.

— Entendo. — Me ofereceu uma xícara de chá e pegou outra para si.

— A senhora sabe de alguma coisa? — bebi um pouco do chá, estava tão doce que uma lágrima quase brotou nos meus olhos.

— Talvez — bebericou o próprio chá. — Vou te contar o que sei, mas não diga a ninguém que fui eu que te dei essas informações.

Concordo com a cabeça, torcendo para que as informações sejam úteis.

— Fui na floricultura hoje de manhã — revela, colocando mais um torrão de açúcar na própria xícara. — Adivinha quem encontrei lá.

— Quem? — Questiono, morrendo de curiosidade.

— Lucien, aquele seu amigo que tem um olho só. — Sussurra.

— E? — Ela me encara, divertida.

— Ele estava conversando com Anne sobre um buquê de dálias laranjas.

Era incrível como ela se lembrava de todos os detalhes, a idosa parecia ter mente de titânio. Depois de fazer mais algumas perguntas, finalmente voltei para casa. Precisava me encontrar com Lucien para esclarecer a situação, ainda não sabia se era ele quem me mandava as flores, mas se fosse, ele teria que me contar, por bem ou por mal. Pego o buquê de flores laranjas, tirando elas do embrulho e colocando em um vaso. Durante o processo, observo o papel cuidadosamente e noto que há um pequeno L laranja gravado na folha branca.

Como não vi isso antes?

Era Lucien, aquela era a prova de que ele me enviava aquelas flores toda semana. Precisava encontrá-lo. Olho pela janela, percebendo que o sol estava quase se pondo, mas ainda estava claro o suficiente. Saio de casa pela segunda vez no dia, indo até um bosque que fica perto do centro da cidade. Era para lá que ele ia todos os dias para admirar o pôr do sol.

E eu estava certa, lá estava ele, sentado no meio de algumas flores, de costas para mim. Caminho até ele silenciosamente, apreciando a imagem à minha frente. O ruivo se virou para trás quando estava quase ao seu lado.

— O que faz aqui? — Pergunta, me dando um sorriso.

— Queria te ver. — Me sento ao lado dele, deitando minha cabeça sobre seu ombro esquerdo.

Lucien levou uma das mãos ao meu cabelo, deixando um carinho gostoso nos meus fios. O perfume dele me alcança e inspiro o cheiro profundamente, apreciando aquele momento. O sol já estava se pondo e o céu começou a escurecer, algumas flores noturnas começaram a abrir e alguns vagalumes dançavam ao nosso redor.

— Buquês de dálias, não é? — Quebro o silêncio.

— Então quer dizer que você finalmente descobriu, demorou bastante. — Me encara, rindo. — Às vezes sua lerdeza me impressiona.

— Isso significa que você gosta de mim?

— Isso significa que eu amo você. — Acaricia meu rosto. — Estar ao seu lado é a única coisa que me traz conforto, você proporciona os melhores momentos dos meus dias. E eu quero ficar do seu lado, quero ficar com você pelo resto dos meus dias. É a primeira vez na vida que me sinto feliz e tudo isso graças a você e seus comentários esquisitos sobre moda e roupas. — Nossos narizes se tocaram e nossos lábios também estavam próximos.

Os vagalumes ao nosso redor iluminavam o rosto de Lucien, assim como as flores noturnas, que tinham núcleos luminosos. Meu coração batia acelerado e parecia que ia sair pela minha boca a qualquer momento, tentei afastar as sensações e respirei fundo, quando me senti encorajada o suficiente, me aproximei do ruivo e juntei nossas bocas. Foi um beijo lento, doce e apaixonado. Nos separamos para respirar e, quando olhei para Lucien, percebi que ele estava brilhando, literalmente.

A pele escura estava brilhando com cores douradas, era suportável de ver, não abalava a visão. Foi uma das coisas mais lindas que já vi, Lucien brilhando, os longos fios ruivos dele esvoaçando ao nosso redor e o cenário à nossa volta completava o momento inesquecível.

— Não entendo o que está acontecendo. — Se referia a pele brilhando. — Mas no momento isso não importa — segurou meu rosto com ambas as mãos. — A única coisa que eu quero agora é te beijar de novo.

E assim continuamos durante várias horas, nos beijando e aproveitando a paisagem encantadora que nos abraçava.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora