𝐖𝐈𝐋𝐋 𝐆𝐑𝐀𝐘𝐒𝐎𝐍 𝐈𝐈𝐈⁺¹⁸, devil's night

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Ma Étoile: minha estrela

As palavras cuidadosamente sublinhadas na folha amarelada do meu livro desaparecem instantaneamente quando a escuridão envolve toda a casa. Apenas a luz da lua, filtrando-se pela janela de vidro que se estende do chão ao teto, projeta um único raio de luz na sala, competindo timidamente com o brilho da lareira. Enquanto o restante do ambiente afunda na penumbra.

O calor da lareira envolve a sala, criando um ambiente aconchegante apesar da escuridão repentina. O crepitar das madeiras, agora parcialmente queimadas, emite suaves sussurros à medida que as chamas diminuem. Andando pelo espaço com as mãos estendidas, encontro o sofá e o contorno, circulando-o até me posicionar de frente para a janela, ao lado das cortinas pesadas. Ao fitar o lado de fora, percebo que minha casa não é a única afetada pela falta de energia. A paisagem além da janela se estende no breu, revelando a extensão do apagão que se estende pela vizinhança.

A tela do meu celular ilumina meu rosto assim que o encontro em algum lugar sobre o sofá, que domina quase metade da sala, quando a transformando em uma espécie de cinema. Num primeiro momento, me sinto aliviada por ter encontrado uma fonte de luz, até perceber que restam apenas 5% de bateria.

Sem hesitar, decido seguir até a cozinha, me lembrando de quando minha avó usava velas em seus jantares extravagantes. O percurso até a lá é um desafio de esbarrões em estátuas enormes e feias e quadros milionários, que parecem me encarar com reprovação no escuro.

Finalmente, alcanço o balcão da cozinha e aproveito os últimos minutos de carga da lanterna para vasculhar as gavetas. Com um toque de ansiedade, procuro desesperadamente por velas e um isqueiro. Cada gaveta aberta revela utensílios caros, talheres de prata e guardanapos de seda, mas não é isso que procuro. Meu esforço é recompensado ao encontrar um pacote de velas brancas, além de uma caixa de fósforos e um pequeno castiçal dourado com alça delicada, escondido entre os objetos de cozinha.

A luz vacilante da lanterna do celular permite que eu tire uma vela do pacote de plástico. Com cuidado, a posiciono no pequeno espaço circular e, após alguns empurrões, consigo encaixá-la corretamente. Pego os fósforos que encontrei e acendo um deles. A chama dança na ponta colorida do pequeno palito de madeira, iluminando momentaneamente a escuridão ao redor.

Assim que acendo, a vela se apaga quase imediatamente. Risco outro fósforo e tento novamente. Tudo se repete, com a chama teimando em apagar. Tento novamente com um novo fósforo, depois outro, e outro. Depois de cinco tentativas a vela cede e uma chama trêmula se ergue, inundando a cozinha com uma luz suave e amarelada.

Apenas alguns segundos depois, meu celular finalmente desliga, e agradeço mentalmente por ter conseguido acender a maldita vela a tempo.

Enquanto caminho para fora da cozinha, minha mente vagueia por um minuto, me transportando para uma época onde mulheres usavam vestidos longos, viviam como camponesas e eram acusadas de bruxaria, onde acabavam mortas em fogueiras.

Talvez ler tantos livros históricos finalmente tenha começado a me afetar.

Assim que alcanço a ponta da escada, um ruído chama minha atenção. A chama da vela treme violentamente, e me viro na direção do som. Em meio à escuridão, desejo que meu pai estivesse aqui, pronto para usar sua espingarda, pendurada acima da lareira.

Como tudo fica quieto novamente, decido seguir em direção ao meu quarto. Cautelosamente, subo alguns degraus. Os corredores escuros parecem se estender infinitamente, sendo iluminados apenas pela chama minúscula da vela que agora está bastante derretida no castiçal.

A luz trêmula da vela ilumina apenas o contorno das escadas, criando sombras que dançam nas paredes. Então, uma segunda sombra, desta vez às minhas costas, se faz presente no chão. Uma onda de arrepio percorre minha espinha, e me viro com pressa, pronta para enfiar o metal dourado no olho de quem quer que fosse.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora