𝐖𝐈𝐋𝐋 𝐆𝐑𝐀𝐘𝐒𝐎𝐍 𝐈𝐈𝐈, devil's night

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @_rayanne__ 

Giro a chave na fechadura da enorme porta de madeira e entro em casa. Respiro profundamente ao sentir o cheiro fraco do perfume da minha irmã e me apresso, deixando as malas na entrada e indo até a sala para procurá-la. Enquanto ando pela casa, que parece estar deserta, sorrio ao lembrar dos momentos felizes que tive aqui antes da morte do meu pai. Paro em frente a lareira da sala e encaro a foto da família pendurada na parede, Rika e eu estamos de pé, atrás dos nossos pais, que estão sentados lado a lado e de mãos dadas.

— Rika? — chamo, na esperança de que ela esteja em casa. Sabia que ela não morava mais aqui, mas combinamos de nos encontrar nesse fim de semana e esperava que ela não tivesse esquecido disso, já que ela não atendia o celular. — Mamãe? — Sem resposta. Subo as escadas com a minha mala e quando procuro em seus quartos, não encontro ninguém. — Que droga, Rika.

Abro a porta do meu próprio quarto e o encontro como deixei, mas pelo menos as roupas de cama foram trocadas. Passo a mão pela lombada dos meus livros assim que me aproximo da minha estante, vendo um pouco de pó acumulado ali. Deixo a mala sobre a cama e separo algumas peças de roupa para tomar um banho rápido e finalmente dormir um pouco, viajar por quase 15 horas seguidas me deixou exausta.

Meu corpo relaxa assim que a água quente entra em contato com a minha pele, deslizo o sabonete por todo o meu corpo e fico debaixo d'água por mais um tempo até me sentir completamente limpa. Saio do banheiro, sentindo o vapor ficar para trás e então coloco o pijama rapidamente, me sentindo pronta para dormir por muitas horas. Escolho uma playlist de músicas no celular e coloco os fones, sentindo minhas pálpebras pesarem prontamente.

Acordo sentindo muita ardência em meus pulmões e uma enorme dificuldade para respirar. Assim que abro os olhos me deparo com muita fumaça e fogo subindo pela janela do quarto, o desespero me atinge e eu saio da cama rapidamente, tropeçando pelo caminho. Quando saio para o corredor, me deparo com fogo por todo lugar, meu quarto ficava no final do corredor da enorme casa e isso significava que eu estava muito longe da escada e seria impossível passar por ali.

Volto para o quarto e pego o meu celular, discando rapidamente o número dos bombeiros e torcendo para que eles cheguem a tempo. Corro até o banheiro e pego uma toalha, ensopando-a de água e saindo para o corredor novamente. Coloco a toalha sobre o nariz e então corro, tentando desviar do fogo da melhor forma. Meus pulmões ardem mais a cada passo e começo a me sentir completamente sufocada, com o coração batendo rápido demais dentro do meu peito.

É quase impossível enxergar qualquer coisa com tanta fumaça no corredor e o desespero me faz correr sem saber para onde estou indo, minha visão fica turva e meus olhos lacrimejam com a ardência do fogo. Quando penso que não conseguirei sair dali, sinto o corrimão da escada e o agarro, descendo o mais rápido que consigo. Sirenes de bombeiros soam perto dali e eu fico minimamente aliviada por saber que alguém está vindo.

— Não, não, não. — Me desespero novamente ao encontrar a porta trancada, grito socorro da maneira que consigo, mas a falta de fôlego não ajuda na minha situação. Corro até a janela mais próxima e bato no vidro tentando pedir ajuda. Nessa hora, vejo duas ou três, não consigo definir, silhuetas olhando na minha direção e grito ainda mais. Mas assim que o carro dos bombeiros se aproxima, eles correm em outra direção.

Tudo acontece muito rápido, a porta de entrada cai no chão e os bombeiros entram na casa, sou tirada rapidamente e então as mangueiras entram em ação, apagando o fogo e deixando uma casa completamente queimada para trás. As sirenes soam loucamente e o barulho me faz estremecer, as coisas ao meu redor parecem confusas e minha cabeça roda sem parar.

— Está tudo bem? — Um dos bombeiros pergunta, segurando um dos meus braços para me manter de pé.

Não consigo responder, minha visão fica turva e minhas pernas ficam completamente moles e inúteis. Antes de desmaiar, consigo ver uma silhueta novamente, dessa vez perto de uma das árvores no fundo do jardim. Não consigo reconhecer a pessoa por culpa da minha visão prejudicada, mas as mãos cerradas ao lado do corpo me diziam que quem colocou fogo na casa estava imensamente arrependido agora.

— O que está fazendo aqui? — Escuto uma voz masculina perguntar a alguém que provavelmente está no quarto.

Depois de desmaiar, fui trazida às pressas para o hospital e estou aqui há dois dias. Minha irmã me fez companhia o tempo todo e, infelizmente, não consegui falar com nossa mãe, mas fui informada de que ela estava bem e que me desejou melhoras. Outra voz masculina respondeu a primeira e eu continuei ali, paralisada e fingindo estar dormindo para ouvir sobre o que conversavam.

— Não deveria estar aqui, não depois do que fez — parecia ser a voz de Michael, mas não tinha certeza e eu me recusava a abrir os olhos para conferir.

— Eu não sabia que ela estava na casa, cara — o outro respondeu. Depois de prestar atenção, soube rapidamente que a outra pessoa era Will.

Mas o que eles estão fazendo aqui?

— Ela poderia estar morta agora, entende isso, não é? — Michael falou, baixinho. Mas, apesar da voz baixa, reconheci o tom de reprovação em sua voz. — Eu disse para vocês esperarem por mim, porra.

— Acredita em mim, cara — a voz de Will estava mais alta, então deduzi que ele tinha se aproximado mais de mim. — Eu jamais machucaria ela e você sabe disso. — Will ficou ao meu lado e levou uma das mãos até uma mecha do meu cabelo que estava próxima do meu rosto. — Eu colocaria fogo no mundo todo, mas nunca machucaria a pequena Fane.

— É, eu sei — Michael respirou fundo, parecendo cansado. — Vou deixar vocês sozinhos por alguns minutos, mas depois você vai embora daqui. — Saiu, fechando a porta e deixando Will e eu para trás.

O quarto ficou silencioso por um longo minuto e o ar ao meu redor parecia mais frio agora. Eu estava nervosa, mas não abri os olhos, não queria que Will soubesse que eu tinha escutado a conversa entre ele e o amigo. O Grayson III se aproximou mais de mim, passando os dedos levemente pela minha franja, que provavelmente estava uma bagunça.

Meu coração acelerou dentro do peito, fazendo parecer que eu tinha acabado de dar um tiro em alguém e fugido. A verdade é que eu sempre fui um pouco, alguns diriam muito, apaixonada por Will Grayson III. Nunca fui correspondida, mas no fundo eu sabia que não deveria ter esperanças, ele nunca olharia para mim e era completamente apaixonado por Emory Scott há anos.

— Me desculpa — sussurrou, parecendo arrependido por algo. — Eu nunca teria feito aquilo se soubesse que estava lá dentro. — Não entendi nada quando ele falou isso, mas então algo pareceu dar um clique em minha mente. Ele estava falando do incêndio? Foi ele quem colocou fogo na casa dos meus pais? Mas por quê? — Eu sei que não acreditaria se eu dissesse, mas eu... Bom, isso não importa agora. — Uma brisa entrou pela janela e então o perfume de Will me atingiu, junto com um cheiro forte de bebida. Fiquei ainda mais imóvel quando Will juntou nossas bocas em um beijo rápido, meu corpo ficou tão duro e gelado que qualquer um que me tocasse pensaria que estava tocando um cadáver. — Me desculpa.

E com aquela despedida ele se afastou, saindo do quarto e me deixando sozinha. Abri os olhos e respirei fundo, tentando decidir o que eu faria com aquela informação. Se eu conseguisse provas de que o incêndio tinha sido criminoso eu poderia denunciar ele e os amigos, mas ele tinha acabado de sair da prisão e provavelmente ficaria maluco se tivesse que voltar para lá.

Eu tenho que denunciar todos eles, o pensamento perturbava minha mente a cada segundo.

Eu sabia que deveria fazer a denúncia, eu poderia ter morrido queimada dentro da minha própria casa por culpa deles e nem sabia o motivo pelo qual eles fizeram aquilo. Porém, meu coração doía só de pensar naquela ideia. Me sentia encurralada contra uma parede, meu coração dizia que eu não deveria denunciá-lo e meu cérebro dizia o extremo oposto, que ele deveria pagar pelo que fez.

E então, pela primeira vez na vida, eu decidi seguir o meu coração. Porque, mais do que desejar que eles pagassem pelo incêndio, o amor que eu sentia por Will me afetava muito mais do que a minha vontade de vingança. 

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora