𝐅𝐈𝐍𝐍𝐈𝐂𝐊 𝐎𝐃𝐀𝐈𝐑, jogos vorazes

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @Regina_George195 @Glaucus_atlanticus_ @bulibitch 

A penumbra envolvia a sala da minha casa na aldeia dos vitoriosos, e a única fonte de luz era a tela holográfica gigante, lançando uma luminosidade pálida que delineava os contornos dos móveis. Geralmente, eu não me interessava por programas ou transmissões, mas desde o aviso de que o Presidente Snow faria um anúncio importante, fui incapaz de me ocupar com qualquer outra coisa além de me acomodar no sofá, ansiosa para testemunhar e ouvir o pesadelo que estava por vir.

Depois de longos e torturantes minutos em silêncio, finalmente, Snow subiu no palco, e a sala mergulhou na escuridão, dando destaque à sua figura imponente. De pé em frente ao microfone, ele ajustava os detalhes de sua vestimenta impecável enquanto os holofotes ressaltavam a frieza em seu olhar. O silêncio tenso pairava no ar, enquanto eu assistia, temerosa, à transmissão ao vivo.

No primeiro momento de discurso, ele anunciou o Quarter Quell, uma edição especial ocorrendo a cada 25 anos em homenagem aos tributos que perderam a vida nas arenas e jogos passados. O mero som de sua voz preenchendo a sala foi suficiente para me arrepiar, e uma onda súbita de tremor percorreu meu corpo, como se mil ratos estivessem caminhando sobre minha pele.

— Agora estamos honrando o nosso terceiro Quarter Quell — a voz de Snow ressoou novamente, gélida e calculada. — No aniversário septuagésimo quinto, como um lembrete para os rebeldes, que mesmo o mais forte entre eles não pode vencer o poder da Capital, os tributos masculinos e femininos serão colhidos a partir de seus vencedores existentes.

Os tributos masculinos e femininos serão colhidos a partir de seus vencedores existentes...

Serão colhidos a partir de seus vencedores existentes...

Colhidos a partir de seus vencedores existentes...

A partir de seus vencedores existentes...

Seus vencedores existentes...

Vencedores existentes...

Vencedores existentes...

Vencedores existentes...

A frase ressoou em minha mente, martelando impiedosamente por incontáveis minutos, até que meus pulmões se recusaram a respirar. O peso da realidade começou a se instalar de maneira avassaladora — eu teria que retornar àquele lugar. Encarar novamente todo aquele terror, como se o tempo tivesse congelado naquele momento sombrio. A perspectiva era esmagadora, e a ideia de minhas mãos se tingindo com mais sangue se tornava quase insuportável. Cada pensamento era um eco doloroso da inevitabilidade que se desdobrava diante de mim.

A transmissão terminou com a imagem de Snow, ainda de pé, observando com satisfação. Deixando todos cientes de que a Capital continuava a exercer sua autoridade com mãos de ferro.

A situação me arrancou do presente, me projetando de volta ao momento exato em que meu nome foi sorteado para os Jogos. O olhar dos meus pais, repletos de temor e impotência, pesaram sobre mim como correntes, paralisando meus pés no lugar. Por um instante, uma onda de pavor me atravessou, tornando quase impossível avançar em direção ao palco. Lá, a mulher que chamara meu nome aguardava com um sorriso falso no rosto, e sua vestimenta extravagante representava o exagero característico dos habitantes da Capital.

Contrariando minhas próprias expectativas, imaginei que seria uma das primeiras a morrer, mas, surpreendentemente, fui a última a deixar a arena, ainda respirando, ainda viva.

Ao direcionar meu olhar para as minhas mãos, percebi que tremiam involuntariamente. No entanto, ao invés de enxergar a tonalidade natural da minha pele, me deparei com um vermelho vívido que possuía uma textura que só podia ser comparada à consistência do sangue. Cada detalhe parecia ecoar as provações e desafios que enfrentei na arena, e o vermelho carmesim transformou minhas mãos em testemunhas silenciosas de toda a violência que tivera de causar para permanecer viva.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora