𝐒𝐈𝐑𝐈𝐔𝐒 𝐁𝐋𝐀𝐂𝐊, harry potter

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O som que anuncia a partida do trem ressoa pelo ar, me fazendo correr pelo sinuoso corredor. Rapidamente, deixo a mala no chão e estico a cabeça para fora de uma das janelas, acenando na direção dos meus pais. Minha mãe segura minha irmã, de apenas cinco meses, nos braços. A chupeta escapa da boca dela quando levanta um dos bracinhos frágeis para imitar meu gesto de despedida.

Em questão de minutos, finalmente perco os três de vista, e então me preparo para encontrar um lugar disponível para sentar, de preferência, sozinha. Após andar por um tempo considerável, finalmente encontro uma cabine vazia. Com pressa, entro, guardo minhas malas e me acomodo no assento.

O dia está mais quente do que eu esperava, e o cachecol azul que envolve o meu pescoço parece inútil agora, especialmente dentro da cabine. Decido também mexer na gravata, afrouxando o nó elaborado que minha mãe fez logo após meu banho. Minha varinha, adornada com detalhes prateados que se assemelham a constelações brilhantes, desliza para o meu cabelo, servindo de suporte para um coque no alto da minha cabeça.

Estava ansiosa para retornar; já estava acostumada ao dia a dia em Hogwarts, e estar em casa se tornava um tanto entediante, mesmo com minha pequena irmã. Sentia falta dos meus amigos, apesar de manter contato com todos eles por meio de correspondências com certa frequência. Nada se comparava a estar em Hogwarts, no meu quarto compartilhado com outros membros da Corvinal... Sentia até falta dos momentos em que ficava presa fora da sala comunal ao falhar em desvendar algum enigma.

Em minha defesa, eu acertava praticamente todos, mas em alguns dias, quando a dor de cabeça chamada Sirius Black resolvia me importunar, acabava falhando e passava horas a fio do lado de fora da minha sala comunal.

Aprecio o silêncio ao meu redor enquanto retiro um livro da minha bolsa de mão. É pequeno, amarelado e desgastado, mas carrega um significado. Ele pertenceu à minha avó, e ler cada frase e parágrafo me faz lembrar de como ela era especial e amorosa. Este livro era praticamente um diário pessoal para ela. Quando ficou doente, ela o encadernou e me deu de presente, para que eu nunca me esquecesse dela e nem das aventuras malucas que viveu em Hogwarts quando tinha a minha idade.

— Finalmente te encontrei — do lado de fora da cabine, vejo Sirius apontando para baixo, sinalizando para que eu abra a porta.

— O que você quer, Black?

— Eu comprei doces — ele fez uma expressão de cachorro sem dono, erguendo a sacolinha de guloseimas até que ficasse ao alcance dos meus olhos.

Ele sabia exatamente como atingir meu ponto fraco. O grande problema é que eu não conseguia decidir se isso era um alerta para meus sentimentos ou não. Após alguns minutos de hesitação, finalmente abri a porta. Ele entrou e rapidamente se sentou no banco à minha frente. Seu cabelo parecia ainda mais volumoso agora, deixando-o ainda mais atraente.

Desviei os olhos assim que percebi que estava encarando demais. Não queria dar mais munição para que Black continuasse me provocando, especialmente no início do ano letivo.

Ergui o livro, usando-o como um escudo entre mim e ele.

— Senti sua falta, sabia? — Ele começou, mexendo na sacola de doces e colocando alguns no assento ao meu lado.

Abaixei o livro, apenas o suficiente para que meus olhos conseguissem ver seu rosto bonito.

— Onde estão seus amigos?

— Em alguma cabine, lá na frente. — Respondeu, sem mais detalhes.

— E por que não está com eles?

Finalmente fechei o livro, colocando-o sobre o meu colo enquanto tirava um dos doces da embalagem.

— Eles não são tão atraentes, e não tenho vontade de olhar para eles o tempo todo.

Sirius sorriu, um sorriso capaz de derrubar uma fileira de meninas bobas e apaixonadas. Estava causando o mesmo efeito em mim, mas eu fiz o possível para não deixar isso transparecer. Pareceu desapontado quando não reagi ao seu comentário atrevido.

— Ah — ele bufou, deixando as costas caírem contra o banco. — Você é tão difícil.

Enquanto ele reclama, enfio uma das balas na boca, sentindo o gosto cítrico e doce de limão e laranja queimar em minha língua.

— Isso só me motiva, sabia? — Black continuou.

— Com tantas garotas em Hogwarts apaixonadas por você, não entendo por que perde seu tempo comigo em vez de ir atrás de uma delas.

A verdade é que, no fundo, eu gostava dele. 

E eu sabia que ele sabia disso. 

Porém, algo dentro de mim me impedia de me entregar totalmente a um relacionamento, principalmente com alguém como Sirius Black, desejado por quase todas as meninas. Preferia me proteger de tudo e todos, e poupar meu coração de sofrimentos desnecessários.

Os dedos longos de Sirius circulando meu rosto atraíram minha atenção novamente. Uma mecha de cabelo se desprendeu do coque, e ele a colocou delicadamente atrás de uma das minhas orelhas. Antes de finalmente afastar a mão, acariciou levemente minha bochecha, e esse gesto fez minha pele queimar internamente.

— Nenhuma delas é você.

Suas palavras, tão sinceras como nunca vi, poderiam ter me chocado, mas Sirius sabia provocar como ninguém. Nesse momento, ele abriu as pernas, deixando as minhas ficarem entre as dele, como uma borboleta entrando em um casulo. Ele as aproximou, e o tecido da calça que usava roçou contra minha perna nua. Senti um calor repentino subir pela minha barriga, e não fiz nenhum movimento para sair dali.

— O que quer para me deixar em paz? — Pergunto, usando uma das minhas mãos para apoiar minha bochecha.

— Aceite sair comigo — ele propõe, com os olhos brilhando. — Se gostar, podemos nos encontrar outras vezes; se não, prometo te deixar em paz.

— Certo, certo — concordo.

Mal termino de falar, e Sirius pula do próprio banco, usando as duas mãos para se apoiar na parede atrás de mim, me deixando presa no lugar, mais uma vez. Nossos narizes estão a uma linha de distância de se tocar, e consigo sentir sua respiração quente em todo o meu rosto.

— Nos vemos amanhã, às quatro da tarde.

Antes de sair, ele aproxima a boca da minha e deixa um beijo demorado em minha bochecha. O cheiro de maracujá impregna na minha pele, e a textura da bala deixa um resquício melado, mas não me movo para limpar.

Sirius sai da minha cabine rapidamente, e então, estou sozinha mais uma vez.

Não sei se fiz certo ao aceitar o pedido, mas, como minha avó escreveu na página 54 do livro dela, se ela não tivesse aceitado as insistências do meu avô, provavelmente não teria tantas histórias boas para contar.

Talvez eu finalmente devesse ser como ela; afinal, quão ruim poderia ser um encontro com Sirius Black?

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora