Capítulo - 95

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Vou doar a alguém que necessita, não vejo razão para vender até porque não preciso de dinheiro, e mesmo se precisasse ainda sim não venderia, e sim doaria.

Obviamente irei guardar algumas roupinhas e sapatinhos importantes, para recordação.

Já decidido, eu abro a porta por completo entrando no quarto.

- Lia, a gente precisa conversar - fecho a porta para nos dar privacidade.

Ela ergue o rosto e limpa uma lágrima que escorre por sua bochecha.

- O que foi? - sua voz sai fraca, um pouco rouca e cansada.

Seus cabelos estão maiores, antigamente ela sempre os deixava um pouco acima dos ombros. Agora está batendo no meio das costas. Seu rosto está com olheiras horríveis, sua expressão é de triste, sempre de triste.

- É sobre esse quarto...- hesito em falar com medo da reação dela - eu vou doar as coisas que estão aqui...as roupinhas...o carrinho...tudo.

Ela se levanta imediatamente com uma expressão de indignada no rosto.

- Mas o que? Você enlouqueceu?

- Lia, se continuarmos mantendo as coisas aqui, irá estragar, em algum lugar por aí tem uma criança precisando mais que nós no momento.

- Essas são as coisas do meu filho - sua expressão muda para irritada.

Eu não reconheço mais essa mulher a minha frente

- Do nosso filho!!

- Do meu filho - ela aponta o dedo para si mesma - que cresceu dentro de MIM, que EU dei a luz.

- O filho é nosso, só passou a crescer dentro de você por minha causa que contribui.

- Nada vai sair desse quarto - ela insiste.

- Lia...- respiro fundo - Kai se foi, não há necessidade de guardarmos tudo isso.

- NÃO DIZ ISSO, ELE...ELE...

- Ele se foi, e não vai voltar, quanto mais rápido aceitar a realidade melhor será - passo a mão pelo cabelo o tirando do meu rosto - mas temos uma linda menininha, que cresce forte e agitada.

- Eu não vou doar nada do meu filho, e se tivesse o mínimo de senso pensaria como eu.

- Acontece qu...

- Acontece que se você ou qualquer outra pessoa ousar tirar qualquer coisa daqui do lugar, vocês vão se ver comigo, e acredite, eu ainda não mostrei o meu lado agressivo e descontrolado - ela se aproxima de mim - então é melhor esquecer essa ideia absurda.

Ela avisa e passa por mim.

- O que houve com você? Cadê a mulher por quem me apaixonei? - viro pra ela a vendo abrir a porta.

- Aquela mulher morreu a um mês atrás...- ela permanece de costas pra mim, pronta para sair do quarto.

- Eu a quero de volta, quero a Lia animada e extrovertida, que dividia tudo comigo e sempre enfrentava os problemas ao meu lado.

Ela permanece em silêncio e de costas.

- Sinto que estou vivendo com uma estranha... não te reconheço mais...

- Esse é o efeito que a morte causa nas pessoas - ela se vira me encarando - a morte não me levou, mas me matou por dentro, e ela continua a me machucar todo santo dia...eu nunca mais vou ser a mesma... acho melhor já se acostumar com esse fato...

𝙈𝙖𝙛𝙞𝙤𝙨𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora